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Brasil / África

Os Crespos: A poesia que inspira e combate o racismo
por Mariana Grilli e Kauê Vieira

 

Os Crespos foi fundado em 2005, na cidade de São Paulo por um grupo de artistas negros (Foto: Facebook/Reprodução) 

 

 

“Na busca por elaborar um discurso poético que discuta o lugar dos negros na sociedade atual, construímos nossa obra e articulamos nossa pesquisa.”

 

 

Com esta frase, fincada na página inicial de Os Crespos na internet, o coletivo teatral de pesquisa cênica e audiovisual paulista faz uso das artes cênicas para combater e conscientizar sobre o racismo. Formado pelos atores e atrizes negras Lucélia Sérgio, Mawusi Tulani, Sidney Santiago e Joyce Barbosa em 2005, na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo, Os Crespos discutem, realizam intervenções públicas e proporcionam debates sobre a situação do negro no Brasil e como ele é visto por parte da sociedade. Inspirado no Teatro Experimental do Negro (TEN) de Abdias do Nascimento (http://www.afreaka.com.br/notas/o-teatro-experimental-negro-de-abdias-nascimento/) , Os Crespos constroem um discurso poético formado a partir de pesquisa sobre a história e contemporaneidade dos negros no convívio social.

 

 

A comunicação audiovisual é uma das ferramentas mais populares de Os Crespos e dentre inúmeras séries está Comercial V. Irônico do começo ao fim, o vídeo de aproximadamente 50 segundos discute os sérios danos causados pelo racismo na autoestima e como a falta de referências faz com que muitos negros neguem suas raízes e traços. Interpretado pela atriz Lucélia Sérgio, a esquete apresenta uma jovem mulher negra descontente com o volume de seus cabelos crespos. Claramente aflita e mostrando pouco conhecimento de como cuidar da estética ela puxa, desmancha e passa a mão inúmeras vezes pela cabeça. Angustiada e infeliz, a moça encontra o que seria a solução para seus problemas: um creme alisador. Empolgada, ela passa o creme por todo o corpo, despeja litros sob a cabeça e depois de alguns segundos vê a aparência e personalidade transformadas. Agora ela está com os cabelos lisos e louros.

 

 

 

Cena do curta D.O.R., que discute o aborda o racismo de forma direta (Foto: Reprodução/YouTube)

 

 

Com isso, a personagem está dentro do chamado padrão disseminado pelo eurocentrismo, entretanto é visível que os cabelos, agora lisos, são uma espécie de satisfação artificial. Para deixar clara tal afirmação, a companhia usa uma peruca loura que teima em não encaixar. Mas em função da escassez de referências negras nas principais revistas e marcas de produtos estéticos, a moça sorri de felicidade, como se estivesse realizada, passando de forma irônica a sensação de que é preciso ser como uma mulher branca para se sentir bem. Curto, porém certeiro, Comercial V é a tradução das inúmeras tentativas por parte da chamada indústria da beleza de reproduzir pensamentos racistas e pouco fundamentados sobre os negros.

 

 

Assista ao vídeo:

 

 

Além disso, em 2010 foram produzidos quatro curtas: D.O.R., Nego Tudo, Imagem e Autoimagem e Pede Desculpa. Com direção de Leandro Goddinho, o curta poético/experimental D.O.R. foi o grande destaque do grupo. Pelo trabalho Os Crespos venceram o Prêmio Expressão Cultural e também tiveram menção honrosa no Festival Entretodos. Em 2012 a companhia foi homenageada com o Prêmio de Direitos Humanos e Combate ao Racismo Flávio Ferreira Sant’Ana, oferecido pela Prefeitura de São Paulo em função dos serviços prestados na área cultural e no combate à discriminação racial.

 

Vídeo de D.O.R.: 

 

 

 

 

A poética para tratar da situação do negro no Brasil sempre foi indispensável na construção identitária de Os Crespos. Com seu time de atores e atrizes negras, todos conscientes da grande função educativa e construtora da arte na quebra dos preconceitos que pairam – de forma velada ou não na cabeça dos brasileiros sobre a cultura negra, a companhia é uma grande inspiração.