Arte: Natan Aquino
Fora do palco, o estilo é rapper, veste regata branca aberta o suficiente para enxergar o corpo magro e suas tatuagens escuras entre o peito e as costas, corrente de espessura fina de prata, calça jeans e tênis. No palco, a sobriedade de cores continua, sai a regata e entra uma camiseta com a frase: “Can’t you tell? I’m taken”. Faz parte do show.
Jay Buggy é a estrela ascendente da comédia Stand Up da África do Sul. Ao assistir sua performance, a impressão é que ali naquele corpo estão acumulados, no mínimo, alguns bons dez anos de experiência. Domínio do público, expressão corporal, estilo definido – tudo está incluso no pacote Buggy, que arranca risadas descontroladas das centenas de pessoas presentes. O artista, na verdade, entrou para o ramo dois anos atrás, já na casa dos 30 anos. Antes, pululava aqui e ali. Experimentou a vida como vendedor de roupas, vendedor de móveis, jogador de basquete e até espião corporativo – ser comediante não estava nos planos.
De saco cheio dos empregos anteriores, aceitou uma vaga temporária como apresentador de Hip Hop. “Minha função basicamente era falar: ‘nossa próxima atração é..’, mas eu quis fazer diferente dos outros MCs, algo engraçado, e assim que os rappers terminavam suas apresentações, eu fazia uma paródia do que tinham cantado com as minhas próprias letras”. O público gostou e daí foram dois segundos para ganhar o seu próprio show, mais dois para virar famoso na região e mais dois para ter demanda nacional, com apresentações de oeste a leste do país, ou Cape to Jozi, na gíria local (Da Cidade do Cabo até Johannesburgo). Hoje, Swazilânzia, Lesotho e Botswana, países vizinhos, já fazem parte da sua rota.
A expectativa de Buggy para o futuro não é nada menos do que se tornar ‘o melhor comediante que já existiu, o Jay Z da comédia, o best-ever da história’. E o cenário na África do Sul nunca esteve tão propício para fazer isso acontecer. A cena de Stand-Up no país vem crescendo nos últimos 18 anos, nada por coincidência, desde o fim do apartheid. Antes o acesso aos clubes de comédia era restrito à população branca e do segundo em que isso mudou, os shows do gênero se desenrolaram como uma bola de neve. Desde então, e principalmente nos últimos anos, casas especializadas emergem que nem pipoca por todo território nacional. Se antes os shows contavam com um público tímido de 30 pessoas, hoje não é difícil atingir a casa dos milhares.
Dois mil foi o maior público de Buggy, que quando não está se apresentando, foge do estereótipo brincalhão extrovertido. É irônico e tende para a melancolia. A piada não faz parte da personalidade, mas de uma rápida perspicácia do rapaz em reconhecer o ambiente, seus detalhes e peculiaridades. Em alguns minutos na companhia do comediante dentro de um bar, percebe-se nos comentários sua capacidade de abstração: ele já notou a graça no garçom que parece estar dentro de um filme, na risada afobada e grunhida que vem da mesa ao lado e na bipolaridade cômica do gerente. Tudo digno de piada se estivesse no palco. O talento de Buggy é aquele que nenhum teste vocacional saberia identificar.
“Quando vou me apresentar? Não, não! Não pesquiso sobre o lugar. Tento enxergar na hora quais os tipos de pessoas que estão presentes, como elas agem, como se comportam, como se relacionam entre si”. Ele explica que é preciso saber usar o seu público, mostrar para pessoas o que está em volta delas e as shits, excuse his french, que não estão enxergando. Para ele, preparar material não é a melhor alternativa. É preciso seguir a onda do show, falar sobre o que está acontecendo naquele exato momento, fazer uma piada que todos podem ver e rir juntos e sentir juntos, you know? “E pronto, você tem a fórmula do riso”..
É o que acontece na casa noturna OZ, onde ele realiza o seu show semanal. Ali, a graça está nas piadas de Buggy, nas risadas das pessoas que se contorcem ao ouvi-las, nas risadas das risadas das pessoas que se contorcem e na risada de quem não entende nada, mas ri das risadas descontroladas que ecoam no ambiente.