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TanzâniaA Hakika, o banquete e
seus significados
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

O encontro começa cedo. Às quatro da manhã, imprescindivelmente antes do nascer do sol, duas cabras são sacrificadas e, algumas horas mais tarde, estarão sendo servidas nos pratos dos convidados em um deleitoso café da manhã. Entre o adeus das cabras e o lambuzar da refeição, acontece a Hakika, uma espécie de batismo suaíli, também comum a outras sociedades islâmicas.

 

 

Na Hakika suaíli, os convidados são quase todos membros da família, o que é relativo no mundo tanzaniano, uma vez que o conceito de clã familiar é muito mais expansivo. Primos são irmãos, amigos próximos são primos e por aí vai. E a nominação não é só da boca para fora. O vínculo sai da teoria e dá-se diariamente na prática e na convivência. Ali, com ou sem laço sanguíneo, todos são parentes e os de fora são praticamente adotados, pelo menos durante o prazo do evento.

 

 

A aglomeração inicial acontece do lado de fora. No quintal da casa, a anfitriã, a mais velha da família, recebe um por um os convidados e, todos, ao cumprimentá-la fazem questão de exibir grande consideração, em sinal de máximo respeito ao mais velho, costume comum em diferentes sociedades africanas. Os homens chegam todos vestidos de branco com o traje típico Kanzu e um chapéu de tons claros com detalhes dourados. As mulheres, de cabelos cobertos por lenços finos, chegam coloridas com suas cangas, gowns (vestidos suaíli) e chitengues. O bebê vem depois e, pulando de colo em colo, espera calmo a hora do seu ‘batismo’.

 

 

É de praxe que para a realização da Hakika, o bebê tenha sete dias de vida e o cabelo raspado, um ato que simboliza proteção pelo resto de sua existência. Depois de cortado, os pais levam o cabelo para uma joalheria e compram em ouro o equivalente do peso dos fios, doando tudo para centros de caridade. Nem tudo precisa ser levado ao pé da letra. No encontro em questão, a criança está com o cabelo comprido e já têm quase seis semanas de vida. Isso porque muitos pais preferem esperar para realizar o batismo depois de 40 dias, período em que a mãe já se recuperou do parto. Tempo suficiente também para o cabelo do bebê crescer novamente.

 

 

Na hora do evento, homens e mulheres separam-se e seguem para dentro da casa. O bebê fica nos braços do pai na ala masculina, onde todos se sentam ao chão para uma reza pedindo pela sua proteção. Depois da oração, a criança é passada de colo em colo, e os convidados colocam um dinheirinho em sua roupa, valor simbólico que será guardado para a primeira mesada do miúdo. As mulheres ficam na sala ao lado intercalando orações e bate-papo. E tudo não demora mais do que meia hora. O próximo passo é a refeição.

 

 

A comida, assim como o resto, é também cheia de simbolismos. A cabra, assada ou cozida, é cortada somente nas ligas e servida em pedaços fartos, pois é preciso evitar ossos quebrados -todos serão guardados dentro da própria pele do animal e enterrados. Acredita-se que os ossos se transformarão em um cavalo que será o responsável por levar o batizado para o céu quando morrer. Espera-se também que assim a criança nunca quebre nenhuma parte do corpo.

 

 

Acompanhando a carne de cabra, que é servida tradicionalmente com mel, uma infinidade de comidas locais: camarão, bolo de arroz, chapati, pão frito, frango com cenoura, batata-doce, sardinha seca – tudo cozido com fogo a lenha. Para beber, suco natural de manga com gengibre e chai, chá tanzaniano. Apenas terminada a refeição, em direção ao portão de saída, os familiares e parentes, primeiro encontrando as mãos e depois as trazendo de volta para tocar o próprio peito, vão se despedindo. Sem cerimônias o encontro acaba. A cabra está comida, todos estão satisfeitos e o bebê está protegido.

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