Arte: Natan Aquino
Já anoitecia, beirava às seis horas e o calor era de 40 graus. Sem energia elétrica, o melhor era preparar o jantar antes do breu total. E assim foi feito. Batatas e feijão na fogueira para alguns e carne para outros. Frutas e vegetais frescos são proibidos, os elefantes adoram e podem ser atraídos pelo cheiro a quilômetro de distância. De barriga cheia, era hora do bate-papo até pegar no sono, ou melhor, até querer pegar no sono, já que dormir com o calor em questão era relativamente impossível e abrir a barraca de noite para um ar fresco estava fora de cogitação. A menos, claro, que o visitante quisesse dormir de conchinha com outros animais.
No calor do ambiente e da conversa, alguém de repente escutou um ruído diferente e alertou: “Pega a lanterna! Ilumina ali do lado do carro”. A luz do objeto apontou para o preto da noite e um dos presentes sussurrou ainda calmo: “Galera, todo mundo devagar para dentro da barraca, é uma leoa”. Passado o susto inicial e com um pouco mais de iluminação, percebeu-se que o mamífero grande e de pelo dourado vindo em direção ao grupo era recheado de pintas. A leoa era na verdade uma hiena, acompanhada por toda a sua gangue. Estavam em posição prontas para atacar o que tinha sobrado do jantar e talvez, quem sabe, um pouquinho mais.
A sorte (e a ocasião) é que hienas, apesar de muitas vezes desaforadas e corajosas, têm medo de grupos e de luzes. E assim que todos se juntaram com suas respectivas lanternas, as feras saíram em disparada, parando de quando em quando para olhar para trás e encarar os novos visitantes com rosnados afobados. O cenário da aventura é a reserva natural Mana Pools, no norte do Zimbábue. Centenas de quilômetros distante de qualquer sinal de cidade ou vilarejo, trata-se de um parque único do mundo, onde a natureza selvagem se mantém quase intacta, sem nem mesmo cercas separando homem e animais.
Em toda a África e também nos outros continentes, é uma das únicas reservas onde é possível passear a pé, fazer trilhas sozinho e até mesmo dormir entre os animais, diferentemente de outros parques nacionais onde sair do carro é algo impensável e estritamente proibido. A segurança do visitante está nas suas próprias mãos, uma vez que guias e excursões não são tão comuns. Diferente de outros safaris, que recebem ondas e mais ondas de turistas por ano, o acesso ao parque não é nada fácil e é também restrito a alguns meses do ano, o que ajuda na preservação da região.
Os turistas que optarem por Mana Pools devem ir bem preparados e conscientes da sua pegada ecológica no parque, que além da abundância de animais, também conta com um cenário paradisíaco, beirado pelas montanhas da Zâmbia e banhado pelo rio Zambezi e pelas quatro piscinas naturais que preenchem a paisagem – todas densamente habitadas por hipopótamos e crocodilos. Ali, todo o lixo produzido deve ser mantido dentro do carro durante os dias de estadias e levado embora no fim do passeio. Caso o contrário, o visitante é presenteado com uma multa.
No cenário atual, ecoturismo e safari são de longe os principais motivos de visita para os turistas que escolhem passear pelo sul da África. Os governos e as empresas locais, cientes da potencialidade econômica do ecoturismo, investem em peso na área e, consequentemente, na preservação dos parques, muitas vezes, inclusive, envolvendo diretamente a população local, que se beneficia da atividade. Por ano são milhares de pessoas de todo o mundo que reservam os preciosos momentos de suas férias para o continente africano em busca de animais em seus habitats naturais e de cenários de tirar o fôlego. E opções não faltam.