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GanaO despertar da literatura
infantil africana 
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

Criar um mundo cheio de possibilidades, onde história por história e livro por livro, as crianças africanas sejam reconhecidas e celebradas. Assim nasce, em 2008, a fundação Golden Baobab, uma prestigiada premiação pan-africana que anualmente revela a excelência de escritores e ilustradores da África especializados em literatura infantil. A ideia do prêmio é valorizar a produção local em que os próprios africanos contem a história do continente, formando uma nova gama literária e possibilitando para os pequenos leitores a ideia de autorreconhecimento, representação legítima e identificação com histórias e personagens.

 

 

A iniciativa veio da ganense Deborah Ahenkorah. Apaixonada por literatura e pelo universo dos livros desde criança, ela lembra que o acesso às obras durante sua infância não era fácil: existiam poucos livros para a sua idade e os preços eram astronômicos. Foi assim que ela resolveu dedicar sua vida para melhorar as condições da indústria literária infantil no continente. Em seu primeiro projeto, chamado “Educar na África”, ela coletou oito mil livros do mundo todo e enviou para bibliotecas e escolas de diferentes países africanos. No entanto, ela descobriu uma falha: os livros contavam apenas histórias de crianças brancas, de diferentes culturas e diferentes hábitos. Nas oito mil cópias existia apenas uma história sobre uma menina negra. Ahenkorah entendeu então que as crianças africanas não estavam representadas naqueles livros e que o olhar africano sobre a África estava ficando de fora.

 

 

 

 

“Educar na África foi um projeto bem-sucedido, mas eu percebi que eu estava replicando o que era feito a décadas, mandando livros para a África que não contam a nossa história. E nós somos um povo de histórias. Me dei conta que havia uma geração de escritores que ia se esvair, e nada estava sendo feito para cultivar essa nova geração de criadores africanos. Foi assim que a criação Golden Baobab Foundation começou a pipocar na minha cabeça”, conta a fundadora, que criou a instituição para impulsionar as fortes tradições e culturas de contar histórias presentes no continente, utilizando as novas tecnologias para fortalecê-las no mundo contemporâneo.“A Golden Baobab não é só sobre publicações e livros, mas sobre as histórias africanas por todos os cantos. Por quê não?”, questiona Deborah.

 

 

Outra força do time Baobab é a coordenadora Nanama Acheampong, parte fundamental do processo de seleção dos próximos grandes escritores e ilustradores infantis da África. Para a editora, a importância do olhar África por África vai além de criar uma corrente de opinião múltipla, heterogênea e interna: “A mídia do Ocidente adora falar sobre a África e suas pobrezas, sobretudo porque é o que dá mais leitores. Então eu acho que quando os africanos se levantam e decidem falar sobre a África, estamos mudando o rumo da história. Estamos recuperando o controle da nossa história. Nós sabemos o que acontece aqui. Nós sabemos a nossa verdade, e podemos escrevê-la. Criando essa plataforma, as pessoas podem falar de suas culturas de sua própria maneira. Uma maneira que encanta e faz com que o mundo queira vir conhecer a África. Porque é uma história real, que carrega o amor das pessoas por suas culturas”.

 

 

 

 

Para o público, a diferença é ainda maior. A primeira mudança é a questão da diversidade, em que crianças passam a se ver representadas nas histórias, tendo suas identidades e vidas legitimadas. “Se eu sou uma pequena menina e eu não preciso mais imaginar como seria minha vida sendo uma bailarina morando nos Estados Unidos, a chance de eu me interessar por literatura é ainda maior. E isso é um forte impacto educacional”, exemplifica Nanama. A segunda melhoria está nas taxas de alfabetização no continente. Criar a oportunidade de contar histórias africanas é um modo de inspirar a paixão pela leitura nas crianças, que trabalham o crescimento intelectual e emocional através do processo de identificação.

 

 

Por fim, o mercado de livros se estimulado pode ser parte crucial da erradicação da pobreza no país, uma vez que as indústrias criativas no continente têm se mostrado cada vez mais valiosas, sendo Nollywood um dos mais fortes exemplos, que nos últimos 15 anos se tornou uma multibilionária indústria do cinema na Nigéria. Para Deborah, a indústria literária pode ter a mesma resposta: “O Rei Leão é uma história africana e vale milhões de dólares. Então, podemos ter mais Reis leões nos próximos 5 anos? Esse é o tipo de impacto que estamos procurando e sabemos que é a literatura infantil é um mercado de muito potencial que pode valer bilhões. Mas para nós, como uma empresa social, é nosso trabalho incentivar esse mercado”.

 

 

 

 

O Golden Baobab distribui seis prêmios anuais, todos dedicados a autores africanos: o Prêmio para Livro de Imagens, com conteúdo para público infantil de até sete anos, que devem conter no máximo 1000 caracteres, conciliando texto e imagens para incentivar os pequenos leitores; o Prêmio Early Chapter Book, com conteúdo para crianças de 8 a 11 anos, com escrita mais extensa, de até 10 mil caracteres; o Prêmio para Escritor Revelação e o Prêmio para Ilustrador Revelação, destinado para autores africanos de até 18 anos, que demonstram talento e motivação para se tornarem o próximo grande ilustrador ou escritor do continente, o Prêmio para Ilustração, que procura os grandes ilustradores já existentes que demonstram paixão para ilustrar para as crianças; e por fim, o Prêmio Lifetime Achievement, que reconhece escritores que dedicaram suas carreiras para a produção de literatura infantil de qualidade.

 

 

Para a triagem e seleção das obras são chamados mais de 50 profissionais, entre críticos especializados e apaixonados por literatura. O segredo, segundo as organizadoras, para ser um bom escritor é a realização dos sonhos infantis: “Acho que quando uma criança abre um livro, fora a procura por eles mesmos, os pequenos têm que se divertir, partir para uma aventura. Por isso procuramos autores com histórias repletas de imaginação e de mágica. Crianças gostam de aventuras, de coisas que não podem fazer e de coisas que adultos não fazem”, explica Nanama, enquanto a diretora Deborah completa: “Acho que o que faz um bom escritor é a habilidade de entrar em um outro mundo inteiramente crível com histórias fortes e cativantes. Acho que pelo mundo muitas crianças não têm a oportunidade de simplesmente ser criança. Muitas têm que crescer rápido demais. Mas com livros, elas são as mestras da própria imaginação”.

 

 

Em 2013, entre os destaques selecionados pela crítica está a obra de Lisa Esterhuyse, escritora sul-africana que ganhou o Prêmio Livro de Imagens com seu livro “The Little Hippo”, que conta a história de um jovem hipopótamo que decide migrar com outros animais e que consegue ver que mesmo sendo todos animais diferentes eles conseguem se ajudar e achar soluções para os problemas que surgem durante a aventura. Outro destaque foi no Prêmio Rising Writer, conquistado pela jovem tanzaniana Kanengo Rebecca Diallo, de apenas 12 anos. Sua obra “Pieces of Africa” (Pedaços da África) foi considerada fabulosa pelos críticos e extremamente elaborada para sua idade, e é centrada em super-heróis africanos que se unem para vencer um inimigo. Dois exemplos que mostram a amplitude e diversidade literária que tem sido incentivada com a criação do prêmio.

 

 

Este ano, o Golden Baobab também abrirá espaço para a África francofônica, arabofônica e lusofônica. Além da premiação em dinheiro, que chega a 5 mil dólares, pela primeira vez, a fundação está organizando a publicação dos livros vencedores. Serão mais de 10 livros publicados, além de uma antologia das melhores obras. Para ampliar a divulgação, a instituição também está concentrando energias para a publicação de Ebooks, de modo a disponibilizar as obras vencedoras em uma rede pan-africana. O extenso trabalho realizado pela Golden Baobab, além de criar uma fonte de inspiração e identificação para as crianças, está estimulando a produção literária do continente e criando pela primeira vez um banco de dados de grandes escritores – grandes escritores de África por África.

 

 

Confira o site da Fundação:

http://www.goldenbaobab.org/

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