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MoçambiqueDa transformação de armas à produção cultural sustentável
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

No começo dos anos 90, quando o conceito de sustentabilidade era ainda embrião nas discussões mundiais, artistas moçambicanos se juntaram e criaram um movimento pós-guerra que visava transformação e paz, mas que, quebrando barreiras e conceitos, abriu as portas do mundo para a arte reciclável. No entanto, quando começou, o foco do projeto não era o reaproveitamento de lixo, mas sim a ressignificação de um único material: as armas utilizadas durante a guerra civil que perdurou dezesseis anos no país.

 

 

Batizada de TAE (Transformação de Armas em Enxadas), a campanha foi criada através de uma parceria dos artistas com o organismo ecumênico Conselho Cristão de Moçambique. Ambos incentivavam a população a entregar o material bélico em troca de bicicletas, máquinas de costura e, sobretudo, instrumentos de trabalhos agrícolas. Armas que então eram entregues aos artistas ligados ao projeto. “O objetivo era reconstruir o país começando pelo chão, de onde crescem as coisas e depois transformar a guerra em arte, em paz”, explicou Carlos Jamal, um dos escultores que integrou o movimento.

 

 

AK 47s, minas e armas de mão com seus novos significados se tornaram a expressão de um indestrutível otimismo moçambicano. Em 18 anos de atuação, o projeto, que começou em 1995, já arrecadou mais de 700 mil armas. Transformadas em símbolos artísticos de paz, as obras percorreram as galerias do mundo em dezenas de exibições, caracterizando um novo gênero de arte contemporânea: a catártica pós-guerra. Entre os objetos produzidos de maior destaque, estão uma cadeira entregue ao Papa para assinar um acordo de paz e a “Árvore da Vida”, hoje obra permanente do British Museum.

 

 

Alguns dos artistas que integraram o movimento acabaram guinando o rumo de suas carreiras. Além de armas, passaram a trabalhar com a reutilização de outros materiais, reaproveitando entulhos e sobras e criando um ciclo de sustentabilidade na arte contemporânea de Moçambique. O trabalho com as armas inspirou muitos artistas – calouros e veteranos – a pensar outras formas dentro das artes plásticas, considerando valores que não apenas os estéticos. Um ciclo que influenciou uma geração cultural dentro e fora do país, trazendo um novo significado à palavra lixo.

 

 

Entre os pioneiros desse campo está Titos Mabota. Em suas peças, o artista se concentra em recicláveis, trabalhando com um amplo espectro de materiais: farrapos, arames velhos, cartolina usada, pedaços de madeira quebrados, papel rasgado, barbantes, serragem e ferro velho. O caráter sustentável se destaca no gigantismo de suas obras: aviões suspensos, personagens do imaginário africano, mulheres colossais. As instalações de Titos trabalham também com o caráter rudimentar dos materiais e, segundo o escultor, exploram uma por uma diferentes universos artísticos.

 

 

Os trabalhos de Titos, assim como as obras dos integrantes do movimento Transformação de Armas em Enxadas podem ser encontrados em Maputo, na cooperativa Núcleo de Arte, espaço criado para fomentar a promoção, valorização e o desenvolvimento das artes plásticas em Moçambique. Em funcionamento desde 1921, o ambiente é um centro de artistas e inventores, que se reúnem para o planejamento, criação e exposição de suas obras. Ali, nos bate-papos entre os artistas, conversas com os visitantes ou diálogos com os próprios botões, surgem iniciativas de peso para o presente e futuro cultural do país. Iniciativas que às vezes, como a transformação de armas, conquistam fronteiras ideológicas para além da cultura.

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