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GanaPreservando a memória
do mundo
Texto e Fotos: Flora Pereira da Silva
Arte: Natan Aquino

 

Castelos, fortes e ruínas espalham-se entre as cidades de Keta e Beyin, percorrendo e ocupando o cenário por mais de 500 quilômetros da costa de Gana. Nas pontas das praias, nos altos dos morros, furtivas entre palmeiras: cada construção traz um detalhe que cultiva a beleza da paisagem do país. Entre obras ostensivas e sóbrias, as fortalezas são predominantes marcas físicas deixadas por mais de 400 anos da história pré-colonial e hoje tornaram-se um dos principais atrativos turísticos da região, que por causa do peso histórico e emocional atraem visitantes do mundo todo. Alguns em busca de conhecimento, outros em busca de (re)conexão.

 

 

Símbolos da arquitetura pré-colonial, as construções, que formaram uma das mais importantes avenidas comerciais da África do Oeste, são consideradas como um ‘monumento histórico coletivo’, uma lembrança de séculos de comércio entre africanos e europeus, que começa com o mercado do ouro e termina com o tráfico de escravos. Em cada um dos espaços, todos curados pelo governo do país, um guia especializado acompanha os visitantes em um sensível percurso de conhecimento histórico, relembrando pontos marcantes na evolução do comércio transatlântico e suas consequências para história e memória da população mundial, uma vez que os fortes representam, significativamente e emocionalmente, a história contínua dos encontros afro-europeus e o ponto de partida do processo da diáspora africana.

 

 

 

 

Para a UNESCO, que classificou o conjunto de edificações como Patrimônio Histórico da Humanidade, a importância das construções e sua preservação, além de lembrar os males da escravidão, é também evocar os séculos de história pré-colonial de comércio entre África e Europa baseados na igualdade ao invés do comércio injusto estabelecido durante os tempos de colônia. Além do órgão internacional da ONU, os castelos e fortalezas também foram estabelecidos como símbolos nacionais pelo Governo de Gana e estão todos protegidos pela lei Decreto do Conselho Nacional de Libertação (NLCD). O país tem se empenhado na melhoria de gestão dos recursos patrimoniais, focando no desenvolvimento socioeconômico que pode ser trazido através da preservação dos monumentos históricos.

 

 

As construções são administradas pela Divisão de Monumentos do Ghana Museums and Monuments Board (GMMB) e os responsáveis pela coordenação recebem assessoria técnica e de gestão, e assim cada forte conta com uma equipe preparada para as necessidades exigidas por uma infraestrutura de turismo. Além disso são realizadas inspeções regulares do estado de conservação de cada monumento, para garantir as reformas e intervenções apropriadas. Outro projeto do GMMB, com o objetivo de impulsionar a melhoria da qualidade de vida dos habitantes locais, é a criação de um plano para envolver na gestão os moradores das regiões de entorno de cada construção, de modo que a renda gerada possa beneficiá-los diretamente.

 

 

 

 

O trabalho não é pouco. Afinal, são mais de 20 edificações inclusas na lista de patrimônios. O pacote do “monumento histórico coletivo” conta com três castelos (Castelo de Cape Coast, Castelo de São Jorge, em Elmina e Castelo de Christiansborg Osu, em Accra), quinze fortes inteiramente preservados, quatro fortes danificados e outros quatro parcialmente em ruínas, mas com estruturas visíveis. Ainda estão inclusos dois sítios arqueológicos com vestígios de antigas fortificações. Erguidas entre 1482 e 1786, as fortalezas, marcas da era de exploração e de comércio marítimo, foram, na sua maioria, construídas por portugueses e ocupadas em momentos diferentes por espanhóis, dinamarqueses, holandeses, alemães e britânicos.

 

 

O projeto arquitetônico básico dos fortes traz largas formas quadradas ou retangulares. Os componentes exteriores consistem em quatro torres localizadas nos cantos das construções, enquanto na parte interior, os edifícios contam com um gabinete principal, um pátio e estruturas habitacionais de dois a três andares, empregadas hierarquicamente, sendo os andares mais altos ocupados pelos cargos de alto escalão. Muitas das estruturas contavam com catedrais internas, que, ao longo do tempo, foram adaptadas de acordo com a religião predominante da nação que ocupava o edifício. Ainda, com o início do tráfico, os ambientes que contornavam os pátios foram adaptados como presídios, onde eram alocados os escravos antes da deportação. Como principal referência das construções do período, sendo também uma das mais preservadas, está o Castelo de São Jorge.

 

 

Localizado na cidade histórica de Elmina, a 15 quilômetros de Cape Coast, o Castelo de São Jorge, levantado em 1482, foi o primeiro forte construído em Gana e é considerado como um dos mais antigos edifícios europeus fora da Europa. Acredita-se que o local tenha sido o primeiro ponto de contato entre europeus e africanos subsaarianos. Foi fundado pelos portugueses para proteger as terras ricas em ouro da região, descobertas por eles em 1471. Com a construção do castelo, Elmina ganha o status de ‘cidade’ e passa a ser um importante centro econômico do oeste do continente. A localização do castelo foi feita cuidadosamente, sendo situado em um estreito pedaço de terra delimitado por um lado pelo Oceano Atlântico e por outro pela lagoa Benya, formando um porto natural que garantia a ancoragem segura dos navios portugueses.

 

 

 

 

Apesar das tentativas de ataques de espanhóis e ingleses, durante o século XV e XVI os portugueses aproveitaram o boom do comércio local. Em troca de grandes quantidades de panos, cobertores e roupas marroquinas, cobre do norte da Europa, pulseiras de metal, chaleiras e barras de ferro, entre outros, os comerciantes africanos forneciam ornamentos de ouro ou ouro em pó aos portugueses. Com a baixa do preço de ouro na Europa devido a grandes quantidades importadas do México e com os gastos da Coroa Portuguesa em obras de artilharia, a defesa do forte ficou enfraquecida e em 1637, sucumbiu aos ataques holandeses, que dominaram o local. O tráfico de escravos começou no fim da presença portuguesa e continuou com intensidade na administração dos holandeses, até o ano de abolição.

 

 

Popularmente conhecido como Castelo de Elmina, o Forte de São Jorge apesar da predominância do estilo português, traz no seu interior e em alguns detalhes uma mistura efusiva com a arquitetura holandesa. Como parte do programa de preservação de patrimônio, a fortaleza vem sendo constantemente restaurada desde 1990. Simétrica, harmônica e de um branco potente, a construção é considerada uma das mais belas do período. O porto de Elmina que a circunda, com centenas de barcos e canoas vívidas e coloridas, contrasta com a ousada arquitetura, dando um toque especial para completar a paisagem. Pela beleza e pela intensidade histórica, o forte é um símbolo da luta de Gana para manter e preservar a memória de uma importante parte de sua trajetória. Um esforço que enfatiza que a lembrança é sempre melhor do que o esquecimento.

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