Monte Kilimanjaro
Arte: Natan Aquino
Kilimanjaro. Um nome que não é estranho para ninguém. Alguma coisa na sua pronuncia o deixa suave aos ouvidos. É gostoso de ouvir e de pronunciar: Kilimanjaro. Talvez por isso tenha sido esse o apelido que pegou e acabou batizando o monte mais alto do continente africano. Ninguém sabe direito de onde veio a palavra, mas entre os inúmeros significados que ela assumiu não existe um que não faça sentido: montanha branca, montanha brilhante, aquela difícil de subir, aquela que indica o caminho ou aquela que traz água. Todas as possibilidades, mais do que apropriadas.
Em meio à savana desponta no cenário uma montanha de 5.891 metros cujo cume rodeado de neve pode ser visto do calor equatorial. O pico, abraçado pelo contraste das nuvens carregadas na maior parte do dia, dá o tom brilhante ao branco. A combinação distinta de paisagens e o fato de que o Kilimanjaro é a montanha mais alta do mundo onde é possível subir sem nenhum equipamento de alpinismo ou experiência prévia na área, atrai por ano o número controlado de 20 mil aventureiros e turistas.
Ao longo dos cinco ou sete dias de caminhada, período que depende do ritmo do visitante e do percurso escolhido, a paisagem vai ganhando diferentes formas. A montanha, que já foi um dos maiores vulcões da história, exibe ao seu hóspede todas as suas cinco zonas de vegetação. Os prados e estepes transformam-se em uma floresta tropical úmida, que dá lugar a um cenário de arbustos, que vão desaparecendo até sobrar somente uma vegetação rasteira composta de liquens e pedras. Por fim, antes das neves perpétuas, um extenso deserto de altitude com exuberantes encostas vulcânicas.
No topo, dois destinos principais, o Gillman Point, que se caracteriza pelos lábios da cratera do vulcão, e o Uhuru Point, a cúpula real. Para chegar até lá, são seis rotas de trekking: Rongai, Lemosho, Shira, Umbwe, Machame, Marangu, a mais fácil e por isso a mais popular. Todas, ida e volta, têm entre 70 e 80 km a serem percorridos. Caminha-se de 4 a 8 horas por dia, dependendo da trilha e da altitude. As noites são passadas ou em barracas ou em cabanas de madeira posicionadas ao longo do percurso e a comida é preparada pelas agências que organizam a expedição: lanches leves, marmitas requentadas e reforçados cafés da manhã.
Mas para chegar até o fim da aventura, é preciso muita força de vontade e aptidão física. A média dos que não conseguem ultrapassa os 60%. Isso porque nos últimos momentos da subida, o ar é tão rarefeito que se estima que a quantidade de oxigênio presente seja metade da disponível no nível do mar. A empreitada, porém, é única do mundo e é recomendada para qualquer pessoa com interesse em montanhismo, trekking, belas paisagens e, é claro, desafios. Em termos de viagem, o Kilimanjaro já está como “to do” (a fazer) na lista de qualquer aventureiro. Afinal, se fosse fácil não teria tanta graça chegar ao ‘topo da África’.
Curiosidades:
- A montanha é apenas parte de todo um complexo conhecido como Parque Nacional Kilimanjaro que cobre uma área de 75.575 hectares, declarado como Patrimônio mundial da Unesco. Ali vivem espécies endêmicas de fauna, muitas das quais estão protegidas. Apenas de mamíferos, o parque é casa de 140 espécies. Entre eles, elefantes, búfalos, antílopes e rinocerontes.
- Fonte inesgotável de nascentes, a montanha é também um importante ponto de captação de água, tanto para a Tanzânia quanto para o Quênia, e ao seu redor, deleitam-se terras agrícolas da população local Chagga que conta com a produção de café, banana, manga, abacate e outros frutos da fertilidade “kilimanjariana”.
- Fazendo jus a fama que o telefone móvel tem no continente africano faz até sentido que o Kilimanjaro seja o ponto mais alto do mundo a ter cobertura GSM para celulares.
- Desde 1889, quando uma caminhada foi registrada pela primeira vez, a montanha já perdeu 82% da sua cobertura de gelo e aprevisão da Unesco é que em 15 anos o gelo permanente desapareça.
- Acredita-se que Yohani Kinyala Lauwo, habitante local que acompanhou o primeiro europeu na escalada do Kilimanjaro em 1889, tenha subido a montanha pelo menos três vezes antes disso. Lauwo morreu em 1996 e apesar de não saber direito a sua idade, os cálculos estimam que ele viveu entre 124 e 125 anos, ganhando diversos recordes etários.