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Brasil / África

Vilma Reis recebe Medalha Zumbi dos Palmares
por Kauê Vieira

 

Vilma Reis, nome e sobrenome para que o racismo não coloque apelido, como bem ensinou Lélia Gonzales. (Foto: Lúcio Távora/Ag. A)

 

 

Criada pela educadora Olívia Santana, a Medalha Zumbi dos Palmares é a honraria máxima para as pessoas que se dedicam em combater o racismo em favor da cultura afro-brasileira. Nomes como a administradora, doutora em sociologia e ex-ministra Luiza Bairros foram homenageados com a medalha. No último dia 31 de agosto de 2016 foi a vez de celebrar a carreira de luta de outra mulher negra de destaque no cenário do combate ao racismo na Bahia e no Brasil, a também socióloga Vilma Reis, que teve sua militância reconhecida a partir da iniciativa do vereador Silvio Humberto (PSB).

 

 

O auditório da Câmara Municipal de Salvador estava tomado. Não cabia mais ninguém. Formou-se um belo cenário, que promoveu um encontro de gerações de mulheres, homens e crianças negras, que envolvidos em seus embates diários contra a desigualdade racial, possuem um ponto em comum, a inspiração e admiração por Vilma Reis. Como não podia ser diferente, a festa para esta filha de Xangô começou com música e muita animação, com a apresentação de membros do Bando de Teatro Olodum, que logo de cara emocionaram o público cantando sobre as lutas do povo negro na canção Tributo a Martin Luther King, imortalizada na voz de Wilson Simonal.

 

 

“Sim sou negro de cor
Meu irmão de minha cor
O que te peço é luta sim
Luta mais que a luta está no fim

 

 

Cada negro que for mais um negro virá
para lutar com sangue ou não
Com a canção também se luta irmão
Ouvi minha voz, Luta por nós.”

 

 

Em seguida foi a vez do som dos atabaques fazerem estremecer o Palácio Cosme de Farias, na região central de Salvador. O som era um pedido de *agô a Xangô, Orixá da justiça e do fogo para que sua filha pudesse justamente ser homenageada pela sua trajetória de combate, afirmação e conscientização do que significa ser negro no Brasil. Bastante comovida, mas sem esmorecer, Vilma Reis foi acompanhando os discursos de amigas e admiradoras, como Tânia Palma, ouvidora-geral da Defensoria do Estado da Bahia, que em uma fala descontraída como de costume, destacou a dedicação de Vilma ao trabalho e o compromisso em contribuir para o desenvolvimento social das afro-brasileiras e brasileiros.

 

 

“Viva nós e as águas. Nome e sobrenome, como disse Lélia Gonzales e todo mundo gravou. Tá de pé essa luta dentro de Vilma. O que mais me surpreende e eu sempre digo, é que a forma que Vilma empreende a luta. É visceral, própria, de quem dedica 24 horas no ar,” conta Tânia Palma.

 

 

As celebrações seguiram e um a um, mulheres e homens foram se revezando ao microfone para pedir a bênção e prestar reverência ao que representa Vilma Reis para o movimento negro baiano e do Brasil. Outro destaque foi a presença da Ialorixá Valnizia Pereira Bianch, mãe de santo de Vilma e patrona do Terreiro do Cobre. Em uma fala carregada de emoção, Mãe Valnizia lamentou o impeachment da presidenta Dilma, mas ressaltou a importância de manter o foco e a organização para a prosperidade. Na justiça de Xangô, como frisou.

 

 

As três décadas de luta da filha do Terreiro do Cobre

 

Nascida em Nazaré das Farinhas, cidade do Recôncavo Baiano, Vilma Reis ocupa desde 2015 o cargo de ouvidora-geral da Defensoria Pública da Bahia, além de ser uma das figuras mais representativas no ativismo feminista e no movimento negro brasileiro. Ex-vice Presidente do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado da Bahia, sua trajetória não vem de hoje, mas sim de mais de 32 anos de luta pela manutenção da vida e dos direitos da população negra em geral, do povo quilombola, das comunidades LGBT e da defesa das religĩões de origem afro-brasileira.

 

 

Também presente na academia, esta filha do Terreiro do Cobre, localizado no bairro do Engenho Velho da Federação e chefiado pela Ialorixá Valnizia Pereira Bianch, tem entre os principais trabalhos a tese de doutorado Mulheres Negras – Criminalizadas pelas Mídias, Violadas pelo Estado e a dissertação Atucaiados pelo Estado: As Políticas de Segurança Pública Implementadas nos Bairros Populares de Salvador e as Representações dos Gestores sobre Homens Negros.

 

 

Vilma Reis, nome e sobrenome para que o racismo não coloque apelido, como bem ensinou Lélia Gonzales. Que sua trajetória pela equalidade, pelos direitos e principalmente pelo fim da intolerância e preservação das vidas de mulheres e homens pretos do Brasil siga servindo de inspiração paras as gerações subsequentes. Vilma Reis presente!

 

 

“Quem coloca o nome na lista de um evento como esse não pode mais recuar da luta.” – Vilma Reis, homenageada com a Medalha Zumbi dos Palmares.

 

(Agô – quer dizer licença em Iorubá. Esta expressão é usada principalmente em terreiros de Candomblé e Umbanda.)