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Brasil / África

Top 5 músicas de Gilberto Gil pra tirar a negritude do armário
por Kauê Vieira

 

Há 50 anos, Gil canta a negritude que vive dentro dele e de todos os brasileiros. (Foto: Divulgação)

 

 

Gilberto Passos Gil Moreira nasceu no início dos anos 40 em Salvador, mas logo se mudou e passou a infância na pequena Ituaçu, cidade do interior baiano próxima da Serra Geral. Filho de mãe professora e pai médico, desde pequeno queria ser ‘musguero’, era assim que, segundo a mãe Claudina, Gilberto chamava a profissão que o acompanha pela vida toda.

 

 

Com 50 anos de carreira completos em 2015, Gil nunca renegou sua negritude, pelo contrário, o músico sempre fez questão de cantar suas raízes africanas, baianas e afro-brasileiras. Candomblé, cabelo crespo, comidas e costumes que dão identidade para os negros do Brasil estão e sempre fizeram parte das composições do ex-ministro da cultura. Pois bem, em um momento onde o país de alguma forma procura discutir o racismo e homens e mulheres negras afirmam cada vez mais sua cultura, preparamos uma lista com as 5 principais composições para inspirar e tirar essa negritude do armário.

 

 

1- Sarára Miolo

 

Lançada em 1979, a canção integra o repertório de Realce, trabalho que evidencia a faceta pop de Gil e também faz parte de um compilado de faixas cantadas em inglês no que ficou conhecido como Nightingale. Com um ritmo animado e permeado por guitarras elétricas, bateria, instrumentos de sopro e um triângulo, Sarará Miolo trata do cabelo crespo. De maneira alegre e meio que ‘despretensiosa’, Gilberto Gil vai contra os ideais de beleza eurocentristas e reafirma que o cabelo do negro é bonito do jeito que Deus fez.

 

 

“Sara, sara, sara cura
Dessa doença de branco
De querer cabelo liso
Já tendo cabelo louro
Cabelo duro é preciso
Que é para ser você, crioulo.”

 

 

 

 

2- Ilê Ayê 

 

Para muitos Refavela é o trabalho mais africano de Gilberto Gil. No fim de 1976 o baiano foi convidado para participar do 2º FESTAC – Festival Mundial de Arte e Cultura Negra, que aconteceria por um mês a partir de 1977 em Lagos, na Nigéria. Empolgado com a ideia, Gil aceitou o convite e de quebra formou uma banda especialmente para a empreitada. A escalação contava com nomes como Pedrinho Santana (guitarra), Cidinho (teclados), Rubão Sabino (baixo), Djalma Correa (percussão) e Robertinho Silva (bateria).

 

 

O contato com África rendeu muitos frutos, dentre eles o disco Refavela, que como já foi mencionado é visto por crítica e público como a produção mais africana do artista. Dentre muitas canções, Ilê Ayê é a que salta aos olhos. Imerso no universo da black music (que ganhou muita força no período) e em compasso com os blocos baianos que começavam a dar seus primeiros passos, Gil regravou um clássico de Paulinho Camafeu: Ilê Ayê (Que Bloco Que é Esse?). Além de homenagear o mais antigo bloco afro do carnaval de Salvador, a canção é um ode ao mundo negro.

 

 

A música chega sem pedir licença e por meio de sua voz estridente, acompanhada de um coro, instrumentos de percussão e um violão feroz, Gil dá um recado aos brancos, mas sem perder a alegria e bom humor que o caracteriza.

 

 

“Branco, se você soubesse o valor que o preto tem.
Tu tomava um banho de piche, branco e, ficava preto também.
E não te ensino a minha malandragem.
Nem tão pouco minha filosofia, porquê?
Quem dá luz a cego é bengala branca em Santa Luzia.”

 

 

 

 

3- Quilombo, o Eldorado Negro

 

Sempre envolvido com movimentos e iniciativas ligadas com África e diáspora, Gilberto Gil foi convidado por Cacá Digues para fazer a trilha sonora do filme Quilombo. Lançado em 1984, o álbum homônimo vem recheado de canções que exaltam a africanidade, o candomblé e a história de luta pela liberdade do Quilombo dos Palmares.

 

 

Entre as 17 canções se destaca Quilombo, o Eldorado Negro, que como o nome já adianta, fala sobre Zumbi dos Palmares, um dos principais símbolos da resistência negra contra a escravidão que tomou conta do então Brasil Colônia. Em tom de samba, afinal como o próprio Gil já afirmou em entrevistas, toda a trilha do álbum foi gravada nas vésperas do Carnaval, a composição homenageia não só a luta de Zumbi, mas de todo o Quilombo dos Palmares.

 

 

“Existiu
Um eldorado negro no Brasil
Existiu
Como o clarão que o sol da liberdade produziu
Refletiu
A luz da divindade, o fogo santo de Olorum
Reviveu
A utopia um por todos e todos por um.”

 

 

 

 

4- A Mão da Limpeza

 

Em 1984, Gil lançou ainda o disco A Raça Humana, que entre guitarras nervosas, foles e sanfonas, continha uma canção que discutia o racismo velado no Brasil. Negro ou não, quem nunca ouviu o pejorativo termo de que ‘negro quando não suja na entrada, suja na saída’? Buscando mais uma vez desconstruir equívocos e colocar em debate o forte racismo que toma conta do país, Gil escreveu Mão da Limpeza.

 

 

Cantada ao lado do parceiro Chico Buarque, a canção valoriza a contribuição do negro desde os tempos da escravidão e sua participação fundamental na construção da identidade gastronômica e cultural do brasileiro.

 

 

Na verdade a mão escrava

Passava a vida limpando o que o branco sujava ê

Imagina só o que o nego penava ê’.

 

 

 

 

 

5- Oração Pela Libertação da África do Sul

 

África, sempre ela. Mais uma vez o continente negro se faz presente na discografia de Gilberto Gil. Desta vez o canto em favor da libertação da África do Sul. Termo em africaner, apartheid quer dizer separação, esta que separou negros em brancos sul-africanos por mais de três décadas, resultando inclusive na prisão de Nelson Mandela.

 

 

Faixa do político disco Dia Dorim Noite Neon, que chegou às lojas em 1985, Oração pela Libertação da África do Sul foi a mais uma das maneiras encontradas por Gil – que já havia assinado manifestos e participado de protestos contra o perverso regime para exigir a liberdade do povo negro no país.

 

 

“Ó, Deus do céu da África do Sul
Do céu azul da África do Sul
Tornai vermelho todo sangue azul
Tornai vermelho todo sangue azul

Já que vermelho tem sido todo sangue derramado
Todo corpo, todo irmão chicoteado – iô
Senhor da selva africana, irmã da selva americana
Nossa selva brasileira de Tupã.”

 

 

 

 

 

Música é entretenimento, mas também ato político. De forma sucinta ou não, a obra de Gilberto Gil é arquivo importante e fundamental para que os negros reconheçam sua história e tirem de uma vez a negritude do armário.