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Brasil / África

Ruth de Souza: a representação da mulher negra
por Kauê Vieira

 

Aos 95 anos, Ruth de Souza acumula mais de 25 peças teatrais e 30 novelas. (Foto: Kadão Costa/Estúdio Líquido/Reprodução)

 

 

O Brasil é reconhecido internacionalmente por sua dramaturgia e os negros, especialmente as mulheres negras, tiveram atuação decisiva no sucesso de telenovelas e peças de teatro. Quem não se lembra dos papéis marcantes interpretados pela atriz carioca Zezé Motta em Xica da Silva ou como Dandara no filme de Quilombo, de Cacá Diegues? É importante dizer que Dandara, além de esposa de Zumbi, foi uma das mais importantes figuras de resistência negra no Quilombo dos Palmares ao liderar grupos de mulheres e homens pela libertação total dos negros escravizados. Outra figura fundamental na história da interpretação brasileira é Ruth de Souza.

 

 

Nascida em 1921 em Engenho de Dentro, bairro da periferia carioca, Ruth Pinto de Souza é filha de Sebastião e Alaíde Pinto de Souza. Logo após seu nascimento, ainda muito pequena, se mudou para Minas Gerais onde viveu num sítio ao lado dos irmãos Maria e Antônio. O sonho de se tornar atriz a acompanha desde a primeira infância. Aos nove anos e após o falecimento do pai, fato que fez com que a família retornasse ao Rio, Ruth foi ao cinema se encantou com a arte de interpretar. Ao lado da mãe assistiram Tarzan, O Filho da Selva. A menina deixou a sala de cinema decidida, queria ser atriz. Seguiu em frente mesmo com os avisos de que nunca chegaria ao objetivo por causa de sua cor de pele. Isso mesmo, por causa de sua ligação direta com a ancestralidade africana, Ruth de Souza, segundo alguns, não conseguiria realizar o sonho de se tornar atriz.

 

 

O tempo foi passando, Ruth crescendo e aos poucos derrubando os obstáculos impostos por um pensamento racista que dominava e teima em se manter vivo no Brasil. No ano de 1944 decide estudar teatro e ao tomar conhecimento do Teatro Experimental do Negro (TEN) criado por Abdias do Nascimento, a jovem aspirante a atriz encontra um início para sua caminhada. O Teatro Experimental do Negro surge com objetivo de pensar uma nova dramaturgia, abrindo espaço para os atores e atrizes negras e também para colocar um fim no que ficou conhecido nos dias de hoje como black face, quando um ator branco é pintado de negro para assim interpretar um personagem afrodescendente. Seu primeiro espetáculo como membra da companhia foi em 1945 na peça O Imperador Jones, onde interpreta uma escrava. Nos anos 1940, Ruth de Souza ainda contracenou com quem se tornaria um grande amigo, Grande Otelo, com quem dividiu a cena em filmes da antiga produtora Atlântida.

 

 

 

Acompanhada pelo grande amigo Grande Otelo em cena de ‘Sinhá Moça’. (Foto: Reprodução) 

 

 

Contudo, sua carreira começou a ganhar corpo na década de 1950, tempo em que Ruth estudou teatro nos Estados Unidos e ao retornar para o Brasil se destacou no cinema e no teatro, tendo encenado peças escritas por Nelson Rodrigues e contracenado com Sérgio Cardoso.  Em 1951 estrelou o filme Sinha Moça, um dos mais marcantes da dramaturgia brasileira. No longa Ruth interpretou Sabina, papel que lhe rendeu o prêmio Saci, entregue aos melhores nomes do cinema nacional pelo jornal O Estado de São Paulo.

 

 

Outro ponto alto de sua trajetória foi quando viveu Carolina Maria de Jesus, considerada um dos maiores nomes da literatura brasileira. Em um dos trabalhos mais importantes de sua carreira, Ruth de Souza protagonizou o espetáculo Quarto de Despejo, homônimo do principal livro escrito por Carolina Maria. A TV surgiu em sua vida a partir de 1965, tempo que trabalhou na Tupi, Record e mais tarde na TV Globo. Na lista estão novelas como O Bem Amado, de 1973, Sinhá Moça, de 1986 e O Clone, de 2001.

 

 

Aos 95 anos, Ruth de Souza acumula mais de 25 peças teatrais e 30 novelas. Agraciada com o prêmio de melhor atriz no tradicional Festival de Gramado, Ruth de Souza é a representação viva da gana e garra das mulheres negras do Brasil. É pioneira, é uma diva da dramaturgia!

 

 

“É difícil a gente descrever a si própria, mas eu diria que sou maravilhosa.”