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Congo

ROBERTO NAZOU-KISSOLO: IMAGENS DE UM POVO EM TRANSIÇÃO
por Débora Armelin

 

Com a Nikon de seu irmão mais velho e a paixão pela fotografia, o artista saiu às ruaspara observar a rotina nos subúrbios de Pointe-Noire. (Foto: Reprodução/Site Oficial)

 

 

O congolês Robert Nazou-Kissolo teve sua carreira fotográfica determinada pelos acasos da vida, em uma mistura de olhar artístico e problemática social.  Era ainda universitário quando teve que deixar sua terra em consequência da guerra civil que assolou a República do Congo entre os anos de 1997 e 1999, buscando refúgio na África do Sul, onde cursou gestão de marketing na Cape Peninsula University of Technology.

 

 

Após dez anos, com a possibilidade de voltar a Brazziville, a capital do país, Robert ao mesmo tempo em que se sentia feliz, percebeu certo distanciamento das pessoas por ser ele um refugiado e também ela não aceitação de suas roupas consideradas “sem classe”, sapatos pouco “brilhantes” e cabelos muito “selvagem”. Era como se ele não pertencesse mais àquele local.

 

 

 

Em suas fotografias, o artista trabalha não somente o olhar artístico, mas também o sociológico. (Foto: Reprodução/Site Oficial) 

 

 

Com a câmera Nikon de seu irmão mais velho nas mãos e a paixão por fotografia, o artista saiu às ruas e passou a observar o dia-a-dia nos subúrbios de Pointe-Noire (segunda maior cidade da República do Congo), lhe chamando grande atenção as representações quase pitorescas dos pequenos salões de belezas e a quantidade deles – praticamente um a cada 100 metros – com placas publicitárias pintadas a mão anunciando seus serviços.

 

 

As imagens desenhadas não refletiam a beleza natural do povo congolês, mas sim um ideal de beleza ocidental, com cabelos falsos e alisados, unhas postiças e cremes clareadores, e que tinha como um público alvo garotas mais novas assim como pessoas com maior poder aquisitivo.

 

 

 

Suas imagens mostram que o ideal de beleza apresentado pela mídia nada mais era do que a rejeição do próprio ser. (Foto: Reprodução/Site Oficial) 

 

 

Através de suas lentes, Robert foi constatando como a aparência parecia ser muito mais importante que a própria realidade. Mas suas imagens também mostravam que este ideal de beleza apresentado pelas mídias nada mais era do que a rejeição do próprio ser, colocando em xeque o valor e a beleza desse povo.

 

 

A partir de então, foi se inspirando a documentar a cultura do subúrbio de Pointe Noire, e traduzi-la em imagens através da série intitulada “Salon de Coiffure”, trabalhando não somente o olhar artístico mas também sociológico, mostrando como a vaidade conduz a uma busca por imagens que vão além do que é visto no espelho, é o “olhar sem ver” a si mesmo ou apenas de ver o que querem, tentando encontrar um reflexo ocidental.

 

 

Aos poucos o fotógrafo foi se apaixonando por essas pequenas contradições da vida cotidiana, o confronto de uma sociedade que se tornou obcecada pelas aparências. O interessante também foi observar a diferença entre esse ideal de beleza proposto e a verdadeira beleza do povo congolês visto em suas fotos: ao lado das placas publicitárias, passavam mulheres vestidas de forma simples e com trajes tradicionais, não deixando de lado sua elegância e um toque único, pessoal e colorido.

 

 

A importância de seus registros não só refletem a psicologia desse fenômeno social que marca fortemente parte da população congolesa mas também são registros históricos. Em suas palavras, “Pointe-Noire é uma cidade em transição, e espero ansioso pelo privilégio de contar parte da sua história pelos próximos anos”.