Sia Tolno (Foto: Divulgação)
“É um meio de mostrar a importância de nós, mulheres, para o desenvolvimento africano. O intuito é dar poder, para que as mulheres saibam e tenham no coração que nós somos poderosas. Que nós temos a capacidade. Que nós podemos.” É assim que Sia Tolno, considerada a mais nova explosão do afrobeat, define o seu mais novo álbum “African Woman” (“Mulher Africana”, em português).
Lançado em junho deste ano, este é o terceiro álbum da cantora originária de Guéckédou, no sul da República da Guiné, mas que viveu a adolescência em Freetown, capital da vizinha Serra Leoa. Considerado pela crítica estrangeira como um “afrobeat vibrante e político”, o álbum ”African Woman” traz temas polêmicos, em que a cantora confronta situações de desigualdade e injustiça no continente.
Vídeo de “Rebel Leader”:
Vídeo “Yaguiné & Fodé”:
O percurso musical da talentosa artista foi em impulsionado em 2008, quando foi a representante de seu país na primeira edição do “África Star”, considerada a academia panafricana de estrelas, organizada no Gabão. Depois de algumas demos, gravou o seu primeiro álbum (“Eh Sanga”) em 2009, tendo como produtor o legendário guitarrista Kanté Manfila , diretor musical de Salif Keita – um dos cantores mais renomados do Mali.
Ainda em 2009, Sia Tolno foi convidada de Cesaria Evora, um dos ícones da música cabo-verdiana, em um show apresentado no Grand Rex, em Paris. Em 2011, Tolno lançou o seu segundo disco (“My Life”), que deu a ela o prêmio RFI de música na categoria “Descoberta”. Sia afirma que este último prêmio lhe permitiu levar sua música para países onde ela já havia estado antes. “Mouka Mouka” é a canção em que ela agradece o acolhimento recebido por onde passou. “Foi nesse momento que nasceu a ideia de um próximo álbum”, diz.
Vídeo Mouka Mouka:
Nesses dois primeiros álbuns, a cantora traz músicas tradicionais da República da Guiné flertando com o jazz e o soul que a acompanharam por anos, em suas apresentações nos clubes de Conakry, capital de seu país, para a qual voltou já adulta. Hoje, com o novo disco “African Woman”, a novidade é justamente trazer a voz de Sia em um dos ritmos que mais a influenciaram, mas com o qual nunca havia se aventurado antes: o afrobeat. Criado pelo multinstrumentista nigeriano Fela Kuti, o ritmo é uma mistura de jazz, ritmos iorubás, highlife, jazz e percussão africana.
Apesar de seu antigo desejo de trabalhar com o afrobeat a artista explica que tinha receios sobre a empreitada: “Eu tive medo, porque o afrobeat é historicamente para os homens. É muito masculinizado”. No entanto, o seu medo se tornou menos temeroso quando teve a oportunidade de ter Tony Allen como produtor de seu novo disco. Além de baterista e compositor, Allen foi diretor artístico da banda de Fela Kuti (Africa 70) e um dos cofundadores do afrobeat. “As músicas eram transformadas no estúdio. Ele é um verdadeiro mágico”, disse Sia.
No lançamento de seu novo álbum, Sia Tolno disse que “African Woman” é uma homenagem às mulheres africanas. “Eu falo para que elas não tolerem mais as humilhações de seus maridos e respeitem seus próprios valores”. O novo álbum canta problemas e conflitos vividos por africanos sob o tom enérgico e dançante do afrobeat. Nele, Sia Tolno retoma o caráter político do ritmo desenvolvido por Fela Kuti, mas traz as mulheres como protagonistas – das canções e de suas próprias histórias.
Entrevista em francês (RFI):
A exemplo do que fez Miriam Makeba, uma das vozes que se ergueram pelo fim do apartheid na África do Sul, Sia Tolno narra problemas vividos por africanos. Mas as músicas da guineense não vitimizam. Pelo contrário: empresta voz a um dos ritmos mais combatentes do continente africano, trazendo a mulher como protagonista de uma luta onde beleza, dor e esperança se confundem. Mais do que participante, a mulher é quem narra os acontecimentos e convoca os ouvintes para o combate.
Single “African police”: