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Brasil / África

Preto Soul: da ‘perifa’ para os centros
por Patrícia Freire

 

Banda Preto Soul (Foto: Divulgação)

 

 

Na luta da Cultura Negra pela conquista de espaço é impossível não destacar o importante papel das manifestações artísticas. Com o gospel, cantores como James Brow, Marvin Gay e Ray Charles levaram para o rádio e, depois, para o mundo a música negra. A partir daí, diversas outros movimentos culturais e ritmos tiveram a Black Music como raiz. No Brasil, o Funky carioca, o Rap, o Samba e o Hip Hop são apenas alguns dos exemplos.

 

 

Mesmo com a contribuição do movimento cultural para valorização da raça negra ao longo dos anos, o racismo ainda é forte em vários lugares do mundo, a diferença é que hoje o preconceito não é somente exclusivo à etnia, se estendendo também à classe social. No Brasil e nos países em desenvolvimento, a desigualdade exclui a maior parte da população, centraliza a cultura e impede as áreas periféricas de ter acesso a moradia, saúde, educação e, não menos importante, a arte.

 

 

Em contrapartida surgem diversas manifestações culturais que revelam o lado forte daqueles com menor poder aquisitivo (ou não), mas que possuem a consciência e o desejo de mudar, através da arte, sua própria realidade. Neste contexto, surge nos pequenos palcos da zona periférica de São Paulo, a banda Preto Soul. Inspirados no som da Black Music dos anos 60 e de brasileiros como Ed Mota, Racionais Mc’s, O Rappa e o Black Rio, o grupo valoriza a música negra e o modo de viver da periferia.

 

 

 

Banda Preto Soul toca na Soul Africa (Foto: MySpace Oficial da banda)

 

 

Inicialmente com o nome de Sintonia Fina, o vocalista Guinão (Wagner de Oliveira) e o baixista Claudinho buscavam em suas letras rememorar as lembranças de infância e da adolescência. Após a entrada dos integrantes Baltazar e Hugo, a banda passou a se chamar Preto Soul. Atualmente é constituída pelos vocais Wagner Oliveira (também Violão), Baltazar Honório, Dêssa Souza e os instrumentistas: Sandro (Guitarra), Claudinho (Contrabaixo), Ray Estevão (teclado), Fábio Vêio (Trompete e Flugelhorn) e Sidney Teixeira (Sax Alto).

 

 

Com estilo definido por eles como Funk-Soul-Black-Rap, as letras falam de amor, perdão e os integrantes admitem não ter medo de causar: “Compomos um pouco do mundo que nos cercam. Às vezes com bom humor, às vezes, com amor e paixão e, às vezes, com um pouquinho de raiva.”, provoca o vocalista Baltazar Honório.

 

 

 

 

As canções relembram a luta dos negros, criticam a desigualdade social e revelam a força dos moradores da periferia perante a construção de uma nova sociedade. Num conjunto variado, o público prova várias sensações. Enquanto o single “Navio Negreiro” relembra a quarta parte do poema de Castro Alves e o sofrimento dos negros africanos “Era um sonho dantesco… o tombadilho, que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar. Tinir de ferros, estalar de açoite. Legiões de homens negros como a noite, horrendos a dançar…”, a canção Mil Grau fala da pressa pela chegada do fim de semana e incentiva o público a esquecer o cansaço diário, subir o morro para cantar e dançar: “Mil grau! Hoje vai rolar pra mim, a noite inteira. Sobe o morro e vem dançar, é sexta-feira. Hoje o baile vai rolar…”.

 

 

Em dez anos de carreira, a banda, acostumada a frequentar os saraus no campo limpo, já tocou em diversos eventos maiores como a Semana de Arte Moderna da Periferia (2007), Mostra Cultural da Cooperifa (2008, 2010) e, desde 2011, marca presença na Virada Cultural. Em 2013, o Preto Soul foi convidado para o Soul África, uma festa realizada pelo Centro Cultural Rio Verde, em homenagem ao pai do Soul Funky James Brown.

 

 

A ascensão da banda da periferia para o centro não foi fácil, relembra Honório. No primeiro show da virada, a banda subiu ao palco da Santa Efigênia denominado Cultura Periférica. A apresentação durou aproximadamente uma hora e vocalista se decepcionou com a produção: “Houve problemas técnicos durante todo o show, o que nos fez ter a certeza de que quando se trata de bandas sem expressão ou de periferia, a produção é feita com displicência”. Ainda assim, admite que tocar no evento foi muito importante: “Sabemos que foi uma ótima janela e mesmo com o som ruim ainda ficou bom”.

 

 

 

 

Embora com alguns anos de experiência na Virada e fora do anonimato, Honório questiona se cantores, hoje famosos, estariam no mesmo lugar que ocupam se tivessem a mesma origem que o Preto Soul: “Dos meus 5 anos para cá vi muitos piores que eu fazendo música ou novela por um padrão de beleza ou outras coisas”. Por este motivo, durante os shows, os vocalistas não perdem a oportunidade de repetir a origem da banda. Frases como “É nóis e depois de ‘nóis’, é ‘nóis’ de novo” e “Orgulho de sermos quem somos, de vir de onde viemos e esperança de chegarmos aonde queremos” são ditas do início ao fim: “Somos uma banda da quebrada para quebrada”, explica.

 

 

A interação que há entre o público e o grupo é o que prova que estão no caminho certo. “Nós temos esperança de chegar aonde queremos, porque sabemos que somos bons no que fazemos. Mesmo sem aval da mídia ou do que quer seja, lutamos para provar que somos capazes. Aqui ninguém quer sucesso. Apenas queremos viver de música [boa] e sermos respeitados por termos lutado a vida toda para provar que não seríamos uma banda, da qual, em dois anos ninguém mais lembraria o nome”, conclui Honório.