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Congo

Os congoleses vestem Prada
por Mario Bentes

 

 

O fim do dia se aproxima em Brazzaville, a capital da República do Congo, ao norte do rio que leva a base do nome do país e o do vizinho ao sul, a República Democrática do Congo. Um típico trabalhador jovem das indústrias agroalimentícias, químicas ou das fábricas de material ferroviário encerra sua jornada. Esse típico trabalhador caminha, então, pelas ruas de terra batida e segue até sua moradia, feita em boa parte com pedaços de madeira e metal.

 

 

 

 

Cumprimenta, com um grande sorriso branco no rosto, amigos e conhecidos no caminho, os parentes quando chega ao seio familiar, e então segue para o ritual de sempre. Ele toma um bom banho no banheiro improvisado, algumas vezes a céu aberto e não raramente com a água armazenada em baldes e bacias.

 

 

Em seguida, vai até a casa, pega sua melhor roupa e arruma-se com esmero. “Melhor roupa” não é eufemismo ou força de expressão, mas algo literal: sapatos de 500 dólares impecavelmente engraxados e lustrados, ternos Prada, Armani, Versace e Gucci cuidadosamente passados e engomados e, em alguns casos, cartolas elegantes e acessórios vintage, como coletes, lenços e relógios de bolso dos anos 1930.

 

 

 

 

Com algumas variações, essa é a rotina de um membro dos “Sapeurs”, que pode ser traduzido como Société des Ambianceurs et des Personnes Elegantes – ou Sociedade de Ambientadores e Pessoas Elegantes. Trata-se de um grupo que surgiu há 25 anos e ganha força, como forma de demonstrar e consolidar, através do vestir, as personalidades desses jovens. Ao mais internacionalmente conhecido músico congolês, conhecido como Papa Wemba, é atribuído o embrião do que hoje motiva esses homens a se desviar do que era tido como tradicional traje do país.

 

 

Alheios aos rótulos e análises das origens e implicações sociais e políticas, os jovens elegantes de Brazzaville caminham depois do trabalho, desta vez sem os uniformes ou roupas gastas do dia a dia de trabalho. Eles rumam a lugares de encontro de outros como eles, alguns até mais velhos que a média, e se confraternizam, cantam e dançam.

 

 

 

 

Se for necessário economizar o ano inteiro para ter as roupas, eles o farão, mesmo que isso signifique deixar a casa como está, inclusive com os reparos por fazer. O mais importante para os “Sapeurs” é obter as roupas das melhores grifes europeias para suas celebrações. E tem mais: não vale comprar as peças nas lojas das grandes marcas que já existem em Brazzaville ou na capital do país vizinho, Kinshasa. Muitos optam, deliberadamente, em comprar seus trajes diretamente das lojas em Paris e outras cidades europeias. Enquanto alguns conseguem com parentes que moram fora, outros recorrem a gangues especializadas em enviar roupas de grife originais ao continente africano.

 

 

 

 

Alguns fazem jornadas duplas de trabalho para ter condições de gastar o equivalente a mil dólares em peças, roupas e acessórios; outros, às vezes, precisam emprestar dinheiro para, ao menos, obter seus trajes de segunda mão e pagar por ajustes aos hábeis alfaiates das redondezas. A falta de algumas necessidades básicas não é motivo de tristeza para eles, porque as roupas adequadas alimentam a alma e dão prazer ao corpo – trata-se de um típico pensamento de um “Sapeur”. A nobreza moral está em seu vestir. Quando um adepto da sociedade de pessoas elegantes se expressa através da harmonia das suas roupas, ele está voltando sua admiração a Deus.

 

 

 

 

A filosofia dos Sapeurs pelo vestir já foi alvo de muitos olhares. O fotógrafo congolês Baudouin Mouanda fez uma exposição individual em Londres, em 2011, mostrando algumas das peças dos jovens do país. O grupo ainda chegou a ser tema da peça publicitária da cerveja Guiness, que usou as animadas e divertidas celebrações dos homens elegantes em sua campanha. O trabalho também rendeu um belo documentário a respeito do grupo – porque acima das dificuldades sociais, está um novo tipo de cultura que preza a alegria do espírito.

 

 

Fotografias de Baudouin Mouanda

 

 

Saiba mais:

http://youtu.be/q89-bgLyj1U