Os tambores trazidos para América do Sul durante a diáspora africana sobrevivem num pequeno país governado por Pepe Mujica, o Uruguai. Esses tambores eram as vozes de um povo que foi reprimido pelos espanhóis colonizadores, cujo ritmo era considerado um atentado a moral pública, se tornaram símbolo da necessidade de expressão e liberdade dos africanos escravizados.
Africanos que, em sua maioria de raízes Bantu e Angola Benguela, por meio da síntese de diferentes povos, cada qual com sua própria cultura, dança e cantos, constituíram o ritmo conhecido como Candombe, também designado as diferentes danças de origem africana e a evocação ao ritual da raça negra na tentativa de manter suas tradições após a travessia pelo Atlântico.
Declarado pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, o Candombe foi essencial na resiliência da cultura africana e de seus descendentes afro-uruguaios, constituindo uma expressão cultural, artística e que definiu uma nova identidade nacional.
As reuniões de Candombe foram muitas vezes ilustradas nas obras do artista uruguaio Pedro Figari (1861-1938) retratando memórias de sua infância e mostrando a alegria e devoção da população negra em encontros feitos em casas de reuniões conhecidas como “Sala de Nación”, ou nas ruas, apresentando uma riqueza instrumental: tambores Macú, Bombo e Congo, Mazacalla, Marimba, Mate, Caña Tacuana e Palillos. Este ritmo também era tocado em datas festivas como Natal, Ano Novo, dia de São Benito e São Baltasar, considerados padroeiros.
Nos dias atuais, o Candombe é tocado principalmente durante o carnaval, que ocorre entre janeiro e março durante mais de 40 dias, nos chamados “Desfiles de Llamadas”, concurso oficial de grupos carnavalescos no qual associações de negros e lubolos, conhecidos como comparsas, desfilam pelas ruas de Montevidéu. São usados três tipos de tambores: tambor piano, tambor chico e tambor repique, tocados de três formas clássicas: Toque de Ansina (Barrio Palermo), Toque de Cuareim (Barrio Sur) e Toque de Cordon (Gaboto).
Fora do período carnavalesco, encontros semanais ocorrem no Barrio Sur e Palermo, bairros históricos negros, em que uma tradição musical, cultural e histórica é mantida, fazendo preservar essa incrível herança africana. De acordo com a definição do religioso africanista Armando Ayala, o Candombe “(…) é a preservação da tradição, uma homenagem aos seus ancestrais representado no toque do tambor que é originário de seu bairro, mas, mais importante que isso é a sua nação, que eles não sabem, mas está viva em seu sangue, em seu coração e em seus olhos que se iluminam quando o ritmo fica mais forte “.