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África do Sul

O feminismo interseccional da websérie sul-africana Foxy Five
por Nathalia Marangoni

 
 

Em uma África do Sul pós-apartheid, cinco mulheres negras unem forças para orquestrar uma revolução contra o patriarcado, o capitalismo e a supremacia branca. A trama se passa na cidade de Cape Town entre os anos de 2016 e 2017. À primeira vista, no entanto, por suas cores, trilha sonora e figurinos, a websérie parece ser ambientada nos anos 70, durante a explosão do Blaxploitation, estilo cinematográfico que trouxe à tona personagens como Cleopatra Jones, Foxy Brown e Coffy, mulheres negras senhoras de seus próprios destinos e não mais coadjuvantes em histórias protagonizadas por atores brancos. Um retrato completamente diferente dos moldes hollywoodianos martelados no imaginário público até então.

 
 

Inspiradas pelo movimento cinematográfico e também por uma série de protestos ocorridos na África do Sul durante o ano de 2015, as Foxy Five trazem ao mundo uma visão afrocêntrica acerca do feminismo interseccional. Cada uma das 5 personagens retrata um tipo diferente de opressão: Blaq Beauty (Tatenda Wekwatenzi) representa raça, Womxn We (Nala Xaba) representa gênero, Femme Fatale (Qondiswa James) representa sexo e sexualidade, Prolly Plebs (Qinizo Van Damme) representa classe e Unity Bond (Duduza Mchunu) representa a interseccionalidade que as une.

 
 

Por encararem diferentes tipos de opressões interligadas, as personagens entram em embates sobre como construir um espaço verdadeiramente seguro para vivenciar, na prática, o feminismo interseccional. No primeiro episódio, Blaq Beauty afirma que neste espaço mulheres brancas não têm vez. Femme Fatale, no entanto, afirma que não se importa com a cor da pele das mulheres, desde que homens não estejam presentes. Unity Bond chama atenção para a união de todas as mulheres pela causa, já que, segundo ela, é necessário força numérica para alcançar bons resultados.

 
 

Outros episódios abordam, em meio a um inglês salpicado de expressões da língua isiXhosa e isiZulu, tópicos como transmisoginia, assédio sexual, colourism (forma de discriminação em que pessoas negras de cor mais clara são tidas como mais desejáveis ou atraentes do que pessoas negras de tom mais escuro), mansplanning (quando um homem tenta explicar algo banal a uma mulher, de forma paternalista) e blesser (quando uma mulher envolve-se em uma relação com um homem que a dá suporte financeiro).

 
 

A força criativa por trás de “Foxy Five”, Jabu Nadia Newman, estudou Filme, Mídia e Política na Universidade da Cidade do Cabo (UCT), em um período no qual estudantes e jovens sul-africanos se engajavam em uma série de manifestações reivindicando educação gratuita (#FeesMustFall) e a retirada da estátua do colonizador Cecil Rhodes das instalações da UCT (#RhodesMustFall). A liderança feminina à frente dos protestos impactou Newman de forma contundente, motivando a criação de uma websérie com forte apelo político.

 
 

A primeira temporada do show pode ser assistida no YouTube em 6 episódios de 15 a 25 minutos de duração. Em junho de 2017, seu sexto episódio foi lançado de forma exclusiva no Labia Theater, importante cinema em Cape Town, sendo aplaudido de pé por um caloroso público composto por fãs, curiosos, amigos e familiares de toda a equipe de produção de “Foxy Five”.