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Brasil / África

O Candomblé na sala de aula
por Edimar Araújo

 

 

É fato que diversos professores têm dificuldades em trabalhar temas ligados à História e Cultura Africana e Afro-Brasileira. Isso ocorre, principalmente, em função dos seus valores de vida e do desconhecimento sobre o assunto. Preferindo o silêncio perante essas situações. O que, no geral, propicia o aumento da discriminação racial nas escolas. Esse ritual pedagógico, que ignora as relações étnicas estabelecidas no espaço escolar, pode comprometer o desempenho e o desenvolvimento da personalidade de crianças e de adolescentes negros, bem como contribuir para a formação de crianças e adolescentes brancos com um sentimento de superioridade.

 

 

No decorrer da História do Brasil, as religiões de base africana foram parte importante da identidade dos africanos e afrodescendentes e, através delas, houve a criação da resistência contra o escravismo cruel e a dominação dos europeus. Os aspectos da formação da identidade histórica e cultural da população brasileira são ligados também às religiões de matriz africana. No passado, as moradias de africanos nas cidades e no campo eram também lugares de práticas religiosas que muito contribuíram para a criação de consciências coletivas manifestadas por meio de revoltas, de ações de resistência e de libertação do povo negro. As religiões afro-brasileiras, como o candomblé, fazem parte do processo da consciência social assimilada de forma significativa por movimentos negros na atualidade, estando inseridas na consciência política existente na História da população afrodescendente.

 

 

O candomblé é considerado parte do patrimônio cultural, material e imaterial, do povo brasileiro, de tal maneira que está integrado na formação histórica que deve ser oferecida pela educação brasileira. Ao se pretender fazer uma escola democrática e inclusiva, é necessário trabalhar a parte da cultura africana e afro-brasileira que se refere ao candomblé, para quebrar os estereótipos cristalizados no senso comum que afetam implícita e explicitamente a religião e seus adeptos. Abordar o candomblé em sala de aula pode ser um ponto de partida para desconstruir velhos conceitos, mostrar a importância das religiões afro-brasileiras para a formação dos universos cultural, filosófico e religioso do país e reconhecer a identidade cultural dos afrodescendentes brasileiros.

 

 



Foto: Cortesia de Edimar Araújo

 

 

A importância de abordar o Candomblé em sala de aula resultou na lei n. 11.645, de 10 de março de 2008, que obriga, desde então, as escolas da educação básica a incluírem no currículo o estudo da História e cultura afro-brasileira e indígena. Como definido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, “tais políticas têm como meta o direito dos negros se reconhecerem na cultura nacional, expressarem suas visões de mundo próprias, manifestarem com autonomia, individual e coletiva, seus pensamentos”.

 

 

Levar o Candomblé e a sua História para a sala de aula propicia aos educandos a percepção da História dos negros no Brasil, suas lutas para sair do sistema escravista e em defesa de sua identidade étnica. Na História do Candomblé no Brasil, encontramos os combates de uma população marginalizada que usou de várias estratégias para vencer sua condição provocada por instituições “dominantes”, como o Estado e a Igreja Católica e, assim, preservar sua cultura e manter o elo com o continente africano.

 

 

“A religiosidade acontece de várias formas, de acordo com o grupo cultural, contexto histórico, político e social em que se vive. Todas as manifestações religiosas devem ser compreendidas como formas construídas, no interior da cultura de estabelecimentos de elos com o Criador, com o que está além do que costumamos considerar como mundo racional. [...] Tomadas como uma produção da humanidade, fruto das diversas formas de se relacionar com a natureza, da busca de explicações para questões que afetam a vida de todos e do modo como se estabelecem relações entre as pessoas e delas com o mundo”, define Kabengele Munanga, Professor Doutor da Universidade de São Paulo, que atua nas temáticas do racismo, identidade negra, África e Brasil.

 

 

*Primeira reportagem da série Candomblé na sala de aula, por Edimar Araújo Silva. Na próxima reportagem, saiba mais sobre a origem, significado e funcionamento do candomblé.