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Moçambique

No ritmo do “MY LOVE” – funk, teatro e mobilização pelo transporte em Maputo
por Gabriele Santos

 

Imagem do clipe “My Love” – Postulados

 

 

O que é o “My Love”? Postulados, um jovem grupo de funk moçambicano, explica:

 

 

“Aqui não é chapa, nem ônibus/ Tudo tá lotado/ Eu tenho uma dica/ aqui pra todos sempre há espaço/ O nome é My love/ Todo mundo de pé, bem abraçadinho/Aqui você se envolve/ Se você não abraça perde o equilíbrio” (My Love- Postulados)

 

 

 

Imagem do Clipe “My Love” – Postulados

 

 

O “My Love” é uma caminhonete de caçamba aberta e atua como uma das opções de transporte semi-coletivo na cidade de Maputo, capital de Moçambique. Nele, os passageiros fazem a viagem de pé e bem apertados e para ter um pouco mais de segurança, acabam abraçando uns aos outros – o que deu origem ao nome. A qualidade e segurança deste tipo de transporte tem sido tema de muitos debates em diversos espaços da mídia moçambicana e reflete questões que são comuns a todos os grandes centros urbanos ou cidades em crescimento. Buscando abordar a situação, mas sem deixar de lado o bom humor, os funkeiros resolveram fazer do controverso meio de transporte tema de sua música.

 

 

 

Cena da peça “Chapa 100/My Love”. (Foto: Jornal Notícias)

 

 

Cansada do sofrimento enfrentado ao recorrer ao transporte público da capital e percebendo a importância de reivindicar seus direitos, a população recorreu aos meios de comunicação para expressar tais sentimentos. O resultado foi uma enxurrada de reclamações encaminhadas para a seção de textos enviados pelos leitores do jornal “Notícias” – uma das publicações de maior circulação na cidade. Entre os diversos relatos de insatisfação figuram o do usuário Santos Chiboleca, que comenta sobre a falta de segurança no My Love, um dos problemas apontados pelos utentes:

 

 

“O meu maior problema que pretendo levantar nesta carta está relacionado com a falta de segurança que as referidas carrinhas oferecem, dado que as pessoas apinham-se de qualquer maneira e para entrar nelas os passageiros empreendem, muitas vezes, autênticas correrias numa atitude de salve-se quem puder”.

 

 

 

Protesto de 1º de Maio critica My Love. (Foto: Debate Moz)

 

 

Além dos “My Love”, na cidade há também os chapas (vans), geridos de forma privada e os “machimbombos” (ônibus ou micro-ônibus) que são administrados pela TPM (Transportes Públicos de Maputo). Porém, a pouca quantidade de vans e ônibus disponíveis têm colocado o “My Love” como único meio de transporte para boa parte da população que mora nas periferias da cidade e não possui veículo particular.

 

O teatro, outra ferramenta de comunicação e mobilização importante, também não deixou de tratar do tema. O cotidiano de motoristas e cobradores (chamados de chapeiros) foi retratado de forma artística pela Cia de Teatro Mutubela Godo, que montou o espetáculo “Chapa 100/ My Love”, que esteve em cartaz no Teatro Avenida, em Maputo, durante 2014. O elenco da montagem foi formado por jovens atores, acompanhados pelo já conceituado ator Jorge Vaz (autor do texto) e Manuela Soeiro na direção e assistência.

 

 

 

1º de Maio traz cartazes contra o assédio. (Foto: Comunidade Moçambicana)

 

 

A revolta pelo cenário não se manteve restrita apenas aos palcos e meios de comunicação. Nos últimos tempos os chapas organizaram uma série de paralisações e greves. Em outubro de 2013, trabalhadores do transporte semicoletivo fizeram uma greve em função das cobranças ilícitas feitas pela polícia. Em janeiro de 2014 houve uma paralisação exigindo a reabilitação de uma das vias principais cuja linha funcionava e os trabalhadores do transporte usaram o 1º de maio como data para discutir o My Love e a situação da mobilidade na cidade de Maputo.

 

 

“Governo compra o barco com o taco do povo que não é culpado/ Ao invés de comprar chapas, então o povo vai se pegando /(…) /é o autêntico carnaval em que gosta é safado/ mais uma invenção no nosso padrasto Armando”. (My Love- Postulados)

 

 

 

Passeata critica My Love e os governantes. (Foto: Sol do Índico)

 

 

Uma passeata em maio do mesmo ano, que reuniu centenas de manifestantes também usou o humor como forma de manifestação, convidando o presidente (Armando Guebuza, na época) e os deputados a viajarem num My Love, e entenderem as condições diárias de quem usa o transporte. A questão do assédio sexual dentro dos transportes públicos também não tem passado em branco pelos trabalhadores e manifestantes. No Primeiro de Maio, mulheres e homens marcharam com cartazes que diziam “Não ao assédio à rapariga no acesso ao transporte”. Há ainda associações locais que têm realizado campanhas contra este tipo de violência nas linhas principais da cidade.

 

 

Talvez o povo de Maputo ainda se enxergue refém do My Love, contudo o horizonte se mostra promissor, isso em função das diversas mobilizações e a conscientização por parte dos usuários da necessidade de se organizar e discutir causas que impactam e beneficiam a população como um todo. Através de manifestações artísticas ou políticas, as pessoas permanecem relatando seu cotidiano e, com muito humor e criatividade, exigindo seus direitos. Várias medidas para a melhoria desta situação vêm sendo debatidas, enquanto isso, aqui no Brasil ou em Maputo, a luta continua!

 

 

Confira a música “My Love” do grupo Postulados: