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Angola

N’gola Ritmos – Do ritmo e da palavra se fez luta
por Estefânia Lopes


 
Foto: Divulgação

 

 

Grupo musical formado no final dos anos 40, com base na cultura popular e no processo de libertação de Angola da colonização portuguesa, o N’gola Ritmos, conseguia unir festa e mobilização política em um ritmo contagiante. Realizando suas apresentações em festas, principalmente no Bairro Operário, conhecido como B.O., o grupo surge de um chão popular e de luta.

 

 

“É preciso contar a história de novo. É preciso contar a história do princípio e no princípio era o ritmo”, assim tem início o documentário intitulado “O Ritmo dos N’gola Ritmos”, produzido em Angola em 1978, com direção de António Ole, texto de Luandino Vieira e narração de Rui Mingas. No filme, além de um respeitável registro da história de formação e atuação do grupo, é retratado com empenho o processo de resistência de seus integrantes, tanto no imaginário quanto na prática, tendo em vista que quase todos eram militantes e sofreram perseguições e prisões durante a vida marcada pelo ativismo.

 

 


 
Foto: Divulgação

 

 

As músicas cantadas, principalmente nas línguas da terra, como o quimbundo, por exemplo, aproximavam os angolanos de sua realidade, pois, ao abraçarem as línguas nacionais criavam laços com as margens que muitas vezes mal compreendiam o português. Embora os colonos tenham tentado impor sua cultura como superior, o N’gola Ritmos conseguiu manter marcas identitárias nas canções que traduziam no ritmo o modo de ser angolano.

 

 

E qual era esse ritmo? O grupo ficou conhecido como precursor do semba, gênero musical representativo de Luanda, que traduziu canções tradicionais do campo para um ritmo popular dançante. O maestro Lineu Vieira Dias era quem definia as linhas estéticas do grupo. Ao unirem instrumentos locais como o dikanza (o reco-reco brasileiro) ao piano e violão criavam a batida descompassada e de ritmo acelerado do estilo. “Era o ritmo da clandestinidade” e o Bairro Operário era o seu tambor, segundo Luandino Vieira.

 

 

Músicas como “Mbiri Mbiri”, “Kwaba Kuale” e “Makezu” embalaram festas e se tornaram conhecidas nos quatro cantos do país, agitando o coração de angolanos até os dias atuais, de tal forma, que até hoje são cantadas pelas ruas das cidades. “Muxima”, por exemplo, foi considerada hino da nação, e mesmo se o público não souber toda a letra, acompanha com flama o refrão da música que “fala ao coração”, “Muxima”, que em quimbundo tem esse significado.

 

 


 
Foto: Divulgação

 

 

Segundo Amadeu Amorim, um dos integrantes do grupo, o N’gola Ritmos “era uma rebelião pacífica, tentando despertar consciências adormecidas”. Enquanto as notícias eram restritas e os jornais não chegavam aos musseques (bairros populares que formavam o outro lado das cidades colonizadas cindidas), era possível por meio da canção, que toda gente acabava por cantarolar ou assobiar, acender a chama da mudança.

 

 

A música do N’gola Ritmos apresentou no cenário angolano uma outra possibilidade da palavra, como mais um elemento contestador e de resistência ao lado da literatura. Ao apresentar um repertório popular que se aproximava dos angolanos, proporcionaram, dessa forma, converter o espaço da festa em espaço de mobilização. Assim, “o ritmo se fez história” de luta, coragem e consciência.
 

 

“E o ritmo se fez luta e a luta se fez vitória, é preciso contar, é preciso cantar”.