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Brasil / África

Negritude em cena na Bahia: 25 anos de trajetória do Bando de Teatro Olodum
por João Terra

 

A reestreia do espetáculo “Ó paí, ó” marcou, no último mês de agosto, as comemorações de 25 anos do Bando de Teatro Olodum (Foto: Reprodução/Facebook)

 

 

A reestreia do espetáculo “Ó paí, ó” marcou, no último mês de agosto, as comemorações de 25 anos do Bando de Teatro Olodum, companhia teatral negra entre as mais expressivas da Bahia. Em atividade desde outubro de 1990, quando surgiu a partir de uma oficina, o Bando vem propondo reflexões críticas acerca da afrodescendência, aliando a construção do processo cênico à politização. Abordou, ao longo dessa trajetória, questões ainda embaraçosas no Brasil, como ideologia do embranquecimento, discriminação racial, tráfico de drogas e violência.

 

 

 

Bando vem propondo reflexões críticas acerca da afrodescendência, aliando a construção do processo cênico à politização. (Foto: Reprodução/Facebook)

 

 

A veia militante do Bando toca em feridas abertas na sociedade brasileira, tão relutante em reconhecer o racismo que permeia suas relações. Por outro lado, essa característica não torna menos importante a dimensão artística do trabalho desenvolvido ao longo desses anos, aliando o tom reflexivo a posicionamentos bem-humorados. A peça “Ó pai, ó” é um exemplo nítido dessa característica: dá vida ao cotidiano de moradores de um cortiço no Pelourinho, em Salvador, valendo-se da comédia para retratar as contradições entre a alegria do carnaval e os abismos sociais.

 

 

Tendo realizado trabalhos em várias cidades brasileiras, além de apresentações internacionais na Inglaterra, Portugal e Angola, o Bando de Teatro Olodum consolidou-se enquanto companhia de renome. Toma como ponto de partida o personagem, célula primária do fazer teatral, para construir a linguagem cênica, seu instrumento de mobilização. Desde 1994, o Bando tornou-se residente no Teatro Vila Velha, em Salvador, quando montou “Bai Bai Pelô” – espetáculo que compõe, ao lado de “Ó paí, ó” e “Essa é nossa praia”, a Trilogia do Pelô, retratando situações cômicas no Centro Histórico de Salvador. Além da produção teatral, a companhia participou de filmes e minisséries. Foram publicados livros e estudos sobre os trabalhos realizados, como a obra “Teatro do Bando – Negro, baiano e popular”, de autoria do jornalista Marcos Uzel e patrocinada pela Fundação Cultural Palmares.

 

 

 

Cena do Espetáculo ‘Áfricas’, grande sucesso do Bando. (Foto: Natália Reis/Lab Foto) 

 

 

O Bando de Teatro Olodum, em parceria com a Cia. dos Comuns e o Teatro Vila Velha, atuou também na construção do Fórum Nacional de Performance Negra, que reuniu em Salvador companhias de teatro negro de todo o país. Já em sua terceira edição, o Fórum propôs a discussão de temas relativos à valorização de uma estética negra contemporânea na performance. A iniciativa evidencia o papel ativo do Bando no fortalecimento do teatro negro brasileiro.

 

 

 

O Bando segue em resistência na construção de um teatro militante, que não deixa de problematizar o racismo no Brasil (Foto: Reprodução/Site Oficial) 

 

 

A riqueza da trajetória poética e política da companhia reverbera no presente: a reestreia de “Ó paí, ó”, espetáculo montado pela primeira vez em 1992, teve a casa lotada. Agora com uma nova geração de atores, a montagem foi parte do Projeto “Terças Pretas – Tersarau do Bando”, que conta com Feira Étnica de moda, poesia, gastronomia e música, além da releitura cênica da peça. Mesmo com as dificuldades enfrentadas na manutenção de suas atividades, o Bando segue em resistência na construção de um teatro militante, que não deixa de problematizar o racismo no Brasil, seja nos espetáculos apresentados, nas atividades promovidas e na sua própria existência, ao conferir espaço para artistas negras e negros em um contexto tão desigual.