Nawal em um de seus concertos (Foto: Erik Folkedal)
Mostrar a dança e a música sufi do país africano Comores para as novas gerações e para o mundo. Esse foi o objetivo que fez a cantora Nawal convidar seis mulheres de sua terra natal para criar o grupo “Nawal e as mulheres da lua”, cujo nome faz referência ao arquipélago, conhecido popularmente por “terra da lua” pelos árabes que navegavam nos arredores das ilhas e tinham o satélite natural da terra como guia para não se perderem.
O grupo traz a tradição de sua terra a partir de elementos como música, dança, mímica e pinturas. Com rostos pintados, vestidos expressivos e panos coloridos que cobrem os cabelos, as mulheres unem o sagrado e o profano a instrumentos percussivos diversos e ao banguzi, uma espécie de alaúde tradicional, originário do Iêmen.
Poemas panegíricos também estão presentes no trabalho do grupo. Feitos para serem apresentados para grandes audiências, esses poemas foram inicialmente elaborados com o objetivo de honrar os mortos, mas, ao longo do tempo, também passaram a falar dos ideais de vida locais. O burda e o barzandji são exemplos desses poemas, considerados pilares da literatura árabe clássica.
As mulheres da lua musicam os cantos litúrgicos como o Deba e o Maulid, que marcaram a infância de Nawal, neta de Al Maarouf, um grande mestre sufi. Com textos inspirados na literatura árabe do período compreendido entre os séculos XII e XIV, o grupo canta suas músicas em Shikomori, grupo de quatro dialetos swahilis falados no arquipélago, onde a língua oficial é o francês, mas onde o árabe também se faz presente.
Com temas sobre a paz interior e a humanidade universal, “Nawal e as Mulheres da Lua” faz uma apresentação em que danças e músicas da tradição Indo-Pérsica-Árabe combinam polifonias bantu e ritmos sufi. Carregadas de mística, as músicas não é apenas representam o encadeamento de notas musicais e o diálogo com uma dimensão sagrada, mas trazem também para o palco a doçura, a calma e o ritmo, trabalhados em conjunto, fazendo cada canção ser um voo pelo Arquipélago Comores.
Nawal, Comores e o sufismo
O Arquipélago de Comores se localiza no extremo norte do Canal de Moçambique, na costa oriental da África e é composto por quatro ilhas: Anjouan, Mohéli, Ndazidja e Maiote, ilha de onde vem as companheiras de Nawal. Constituída majoritariamente por muçulmanos, as Ilhas Comores tem como uma de suas tradições o sufismo, uma corrente contemplativa do Islão. Os sufis são os praticantes desse conjunto de crenças e práticas que procuram desenvolver uma relação direta com deus, a partir de orações, jejuns, meditação e música.
Nawal (Foto: Tonia Hafter)
Nawal, nascida no Arquipélago de Comores, localizado entre Moçambique e Madagascar, é a primeira música mulher do Arquipélago a se apresentar para o público internacional, realizando shows na Europa, na América do Norte, na África, na Ásia Central, no Oriente Média e em ilhas do Oceano Índico. Após gravar três álbuns em carreira solo, acompanhada somente por vozes e diferentes percussões, Nawal conseguiu realizar um desejo antigo: trazer as tradições sufistas de sua terra para os palcos.
Mas para a artista, mais do que isso, a intenção é resgatar músicas e danças que correm o risco de desaparecer e que poderiam servir de inspiração para a nova geração de músicos. “Se nós perdemos essa tradição, perdemos nossas raízes. Se perdemos nossas raízes, perdemos tudo”, completa. Assim, Nawal faz de sua música, além de uma inspiradora melodia, uma luta pela preservação de tesouros históricos.
Serviço:
Confira o teaser do documentário sobre o Nawal e as mulheres da lua disponível no Youtube: