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Quênia

Naomi Wanjiku: Tecendo Tradições e modernidades
por Débora Armelin

 

Naomi Wanjiku Gakunga cresceu no Quênia junto ao povo Kikuyu (Foto: Divulgação) 

 

 

Entre rodas de conversa e tramas em fibras naturais, Naomi Wanjiku Gakunga cresceu no Quênia junto ao povo Kikuyu e desenvolveu fortes laços com sua avó, que todas as tardes acendia uma fogueira para contar histórias de vida, assim como a ensinou a tecer cestas com quaisquer materiais disponíveis, como palha e arbustos, conhecidos como migiyo.

 

 

Com o tempo Naomi foi aprimorando diferentes técnicas através do processo criativo da utilização do conceito “Jua Kali”- que em swahili significa “ideias de efeito criados com objetos que foram descartados”- e o uso de diferentes materiais, métodos e cores que guiaram seu trabalho de forma única e espontânea.

 

 

 

Um dos seus processos criativos teve como ponto de partida o mabati, chapas de metal galvanizados. (Foto: Divulgação)

 

 

A artista se formou no curso de artes da Universidade de Nairóbi, no Quênia, e posteriormente seguiu para os Estados Unidos onde estudou na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, tendo assim a possibilidade de trabalhar a chamada “arte tradicional” africana e imagens da África a partir de  um olhar contemporâneo.

 

 

Sua ida aos Estados Unidos lhe proporcionou também vivenciar a solitude, oposto do que tinha em sua comunidade onde todos sempre partilhavam seus momentos. Naomi percebeu então a importância de se distanciar, de estar só, se silenciar e encontrar sua voz interior para fazer aflorar sua criatividade. Era preciso perceber a diferença entre indivíduo e comunidade para assim crescer individualmente e poder viver em grupo.

 

 

 

Três de seus trabalhos foram expostos na mostra Africa, Africans, Museu Afro Brasil, na cidade de São Paulo. (Foto: Divulgação)

 

 

Neste momento de solitude, Naomi desenvolveu uma consciência e sensibilidade ao perceber as coisas que a rodeava, tornando esta a base da expressão de sua arte: o ver, o ouvir e sentir os cheiros do ambiente.

 

 

Um dos seus processos criativos teve como ponto de partida o mabati, chapas de metal galvanizados. Este trabalho foi inspirado pelo movimento do Grupo de Mulheres durante os anos 1960, no Quênia central. Durante este período, as casas do vilarejo tinham suas coberturas de palha, o que demandava reparo e trocas constantes e, devido os maridos estarem distante em busca de melhores oportunidades de emprego, as mulheres foram responsáveis por se juntarem e trocarem as palhas por teto feito em metal galvanizado, que além de mais duradouro, possibilitava a coleta da água da chuva.

 

 

 

Naomi Wanjiku Gakunga cresceu no Quênia junto ao povo Kikuyu (Foto: Divulgação)

 

 

O sucesso do empoderamento dessas mulheres aliado à funcionalidade resultou na suavização de um material relativamente duro mas que transmitia a beleza do etéreo e transitório, assim como mantinha um diálogo com todas as mulheres que viviam dentro da artista.

 

 

Suas obras são tramas tecidas com extrema delicadeza, oxidadas e coloridas com cores que dão as chapas de metal novas texturas, padrões e colorações que fazem lembrar imagens aéreas de belezas naturais como o mar, lagos e montanhas. Três de seus trabalhos foram expostos no Museu Afro Brasil, na cidade de São Paulo, durante a mostra de arte contemporânea Africa Africans.

 

 

Hoje, Naomi mora no Texas, Estados Unidos, mas viaja com frequência à sua terra natal onde mantém um programa com mulheres e crianças no resgate às tradições, ao mesmo tempo que conversa com a modernidade.

 

Assim, Naomi define seu trabalho: “Usando essas várias metáforas para reconhecer a minha herança, meu trabalho presta homenagem a essas sucessivas gerações de mulheres, e minha escolha de materiais pelo processo de costura, crochê e tecelagem, orgulhosamente mantenho as tradições que eu interpreto como arte contemporânea”.