Situado na segunda maior cidade de Burkina Faso, Bobo-Dialasso, um pequeno e rico museu conta a história da música tradicional do país. Cinco acanhadas salas ostentam a criatividade local quando o assunto é música, apresentando uma coleção de mais de 40 instrumentos típicos da região. Na primeira sala, um documentário produzido pelo próprio Musée de la Musique introduz a diversidade musical burkinabé, contando a história e a função de cada instrumento criado e utilizados pelos seus cidadãos. A impressionante variedade pode ser conferida ao vivo nas salas seguintes, onde estão expostos todos os objetos musicais apresentados no documentário. Entre tambores, flautas e os famosos djembes, os mais reconhecidos internacionalmente, descobre-se uma abundante coleção local.
Confira a história de alguns dos instrumentos tradicionais de Burkina Faso:
Arco musical
O arco musical, também conhecido com arco à boca, é uma cítara feita com vara comum na África do Oeste, normalmente encontrada entre os povos caçadores. Para tocá-la, o músico passa a corda entre os lábios, sem encostar-se ao instrumento, e segue variando o volume da cavidade bucal, a fim de produzir harmonias de diferentes tons, ao bater na corda com um pequeno pedaço de bambu. Uma baqueta, aplicada alternativamente na extremidade da corda permite produzir duas notas de tons distintos. Até o começo dos anos 60, era tradicionalmente tocado entre o mês de agosto e outubro, período em que o milho estava fresco. À noite, depois do jantar, as crianças corriam de casa em casa para tocar o instrumento, e em troca os moradores as presenteavam com milho cozido. Hoje em dia, os jovens o praticam sem restrição de período ou ocasião. É um dos raros instrumentos de caráter exclusivamente lúdico da África Negra.
Sistre
Feitas com pedaços de cabaça, possuem uma vara com cauda curvada em aproximadamente 90 graus. A quantidade e o tamanho dos pedaços de cabaça são variáveis, mas normalmente são organizadas em par, com as partes côncavas viradas uma para outra. O instrumento é chacoalhado a fim de chocar os anéis de cabaça que produzirão o som. Na maioria das etnias, é utilizado em rituais de iniciação, tocado pelos novos circuncisados que anunciam sua chegada.
À-Bas Sifflet (à direita)
Apitos de todas as dimensões e formas são utilizados na África Negra para comunicação. O sifflet é uma flauta bocal de três furos, que permitem a emissão de inúmeras notas. Sendo o alcance da voz limitado, o homem passou a procurar novos meios de romper as distâncias e os relevos, assim como se proteger de perigos representados pelos animais selvagens. A flauta Sifflet foi uma das soluções encontradas no Oeste da África. A linguagem transmitida pelo instrumento é uma sequencia sonora previamente combinada entre um número limitado de pessoas, seja um código comum da comunidade, seja uma transposição da linguagem, que tem como objetivo trocar mensagens entre longas distâncias ou repassar avisos de proteção. Como muitas línguas africanas são nasais e tonais, os apitos (e outros instrumentos como os tambores) procuram na verdade reproduzir a sonoridade das palavras. As principais expressões dos instrumentos servem para comunicação à distância, geolocalização e simulação de lutadores, dançarinos e de sons guerras.
Harpe (à esquerda)
A harpa burkinabè possui com 5 a 6 cordas de couro. A alça é fixada por um tecido a uma caixa de ressonância feita de cabaça. A parte aberta da cabaça é posicionada contra o ventre do músico. Para modificar a intensidade sonora, o músico inclina a harpa para frente de modo a ‘abrir’ a caixa de som feita com o fruto. As cordas são dedilhadas com a ponta dos dedos ou com as unhas, o que permite a obtenção de um som mais seco e mais potente. Na maioria das etnias, é um instrumento que acompanha cantos de entretimento, seja solo ou em pequenas comitivas. Também pode ser utilizado para animação de rituais tradicionais.
(Com informações do Musée de la Musique, em Bobo Dialasso)