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Brasil / África

As mulheres africanas que habitam Surama Caggiano
por Iolanda Barros

 

Surama Caggiano (Foto: Reprodução Facebook)

 

 

Paulista, criada no interior da Bahia, em Pindobaçu, a artista plástica Surama Caggiano é puro encantamento. Mosaicista, artesã, arte-educadora e cozinheira de mão cheia, reverencia em sua obra a força das mulheres negras de sua vida, que foram e são inspiração para a mulher que é hoje. De coração enorme e sorriso aberto, Surama recebe amigos no seu ateliê para suas frequentes kizombas, recheadas de acarajé, bobó de camarão, feijoada, caipirinhas e outras delícias que revelam os sabores e saberes afro-brasileiros. Nesses momentos, sua arte divide a atenção dos convidados com a culinária afro-baiana, outra das suas especialidades.

 

 

 

 

Surama Cagianno formou-se no curso de história, cultura e arte africana no CCA (Centro Cultural Africano) em São Paulo, de onde veio a inspiração para desenvolver um trabalho de empoderamento por meio da arte, tendo como tema principal a cultura dos povos africanos. Sempre na perspectiva do empoderamento sobre as identidades africanas e afro-brasileiras, atua como arte educadora em oficinas de artesanato em mosaico para grupos de mulheres em quilombos de São Paulo, promovendo um processo de geração de renda, fortalecimento e valorização de identidade negra. Realiza também oficinas de estamparia inspiradas pela arte dos tecidos Adinkra, para crianças do ensino fundamental, fortalecendo a implementação da Lei 10.639/03, que obriga o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira na escola.

 

 

Ao revisitar sua herança e ancestralidade afro-brasileira, ela criou e desenvolveu a técnica do mosaico contemporâneo, que substitui as pastilhas do mosaico tradicional por materiais reciclados, como CDs inutilizados, jornais e revistas, e em 2010, realizou sua primeira exposição “Mulheres Africanas” no Tu Mercado de Arte/SP onde produziu a união das artes visuais com o mosaico na criação de esculturas em tamanho natural que representam a beleza, força, atuação social e cultural de mulheres de 15 países do continente africano, retratando e afirmando a identidade e origem da mulher afro-brasileira. Depois de diversas edições em São Paulo, a exposição viajou também por Salvador, Porto Alegre e até Cuba.

 

 

 

 

Por essas e outras razões, a arte de Surama Caggiano expressa o processo de fortalecimento da nossa herança africana, do respeito por nossa ancestralidade e, acima de tudo, do reconhecimento da africanidade viva no Brasil. A despeito das tentativas de embranquecimento da história do nosso país, sua obra é, portanto, um resgate de nós mesmas, das mulheres africanas que habitam todas nós.

 

 

Saiba mais sobre a exposição: http://www.afreaka.com.br/notas/com-materiais-reciclaveis-colecao-ressalta-garra-da-mulher-africana/