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Brasil / África

A mulher negra no centro da poesia de Elizandra Souza
por Kauê Vieira

 

Águas da Cabaça é o segundo livro da carreira da poetisa Elizandra Souza. (Foto: Reprodução/Jardim Revista Suzano)

 
 

Águas da Cabaça

 
 

“Esse fruto seco que tudo carrega

Elixir dos deuses e do diabo

Águas para o banho

Águas que matam a sede

É vida, é ventre

 

Quando pensam que morri

Renasço nas mãos de uma mulher

 

Ser cabaça, ser fértil

simples, discreta

suave, dura e impermeável

Reverberar o som com suas sementes”

 
 

No Candomblé, a cabaça é usada em diferentes momentos, como quando é cortada ao meio e se transforma em uma cuia ou Ìgbá, em Iorubá. Além disso, inteira ou revestida por uma malha, a cabaça é o Agbè, instrumento musical utilizado pelos Ogãs durante os cânticos.

 
 

 

“Panteras destemidas e de garras afiadas. Somos mulheres pretas que saltam.” (Foto: Reprodução)

 

 

É carregando todo esse axé e representatividade que a jornalista, escritora e poetisa Elizandra Souza brinda o público com o livro de poesias Águas da Cabaça. Nascida no Jardim Iporanga, zona sul de São Paulo e criada até os 13 anos em Nova Soure, no interior da Bahia, Elizandra, um dos nomes mais representativos e importantes dos movimentos negro e feminista da capital paulista, é responsável pela criação do Mjiba – Jovens Mulheres Negras em Ação, que por meio de fanzines e atividades artísticas conta a história do povo negro; editora-chefe da Agenda Cultural da Periferia, além de manter um programa semanal na Rádio Heliópolis.

 

 

Contudo foi a partir da poesia que encontrou os caminhos abertos para dialogar com a juventude negra das periferias de São Paulo e, parafraseando a escritora baiana Mel Adún – em texto escrito no prefácio da publicação, “trazendo a tona nossas dores, alegrias e anseios; sem perder uma identidade preta, feminina e uterina.” Segundo livro de sua carreira na escrita, Águas da Cabaça reúne uma série de poemas que revelam a força e união das mulheres negras. A publicação foi lançada no tradicional Sarau Cooperifa de São Paulo em 2012, mas começou a ser preparada em meados de 2007 e ao lado da insatisfação da autora com a falta de representatividade de mulheres negras na literatura, foi amadurecendo.

 

 

Comigo-Ninguém-Pode

 
 

“Assentei no meu portão

Uma erva poderosa

Planta milagreira

De banir Olho de Seca Pimenteira

Para reforçar Espada de São Jorge

Arruda e Alecrim

Não há olho gordo que me derrube

Não há mal que me assole

Pois na minha casa o que não falta

É Comigo-Ninguém-Pode”

 

 

Acompanhando os poemas estão as ilustrações de Salamanda Gonçalves e Sabrina Felinto, que enriquecem o livro com um olhar e traços delicados, como na própria capa, onde uma mulher negra (seria Oxum?) se banha despreocupadamente nas águas doces do rio com sua cabaça.

 
 

* O livro é a segunda ação do projeto que foi contemplado pelo VAI Valorização de Iniciativas Culturais 2012, da Secretaria de Cultura do Municipal de São Paulo.