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Gana

A metamorfose do lixo em inovação e arte pelas mãos de El Anatsui
por Francilene Almeida

 

(Foto: Divulgação)

 

 

Unindo sensibilidade, objetos encontrados na rua e materiais com potencial de reutilização julgados por muitos como “lixo”, El Anatsui pode ser considerado um alquimista por fundir seu talento, experiência, cultura e sustentabilidade para criar uma arte inovadora. Nascido no ano de 1944, na cidade de Anykao, Gana, hoje é um senhor de 71 anos e atualmente vive na Nigéria, onde continua produzindo.

 

 

 

(Foto: Divulgação)

 

 

Filho de pai pescador e mestre tecelão de um pano específico e exclusivo de reis, o “Kente”, constituído por algodão ou seda, El Anatsui não chegou a seguir a profissão do pai, contudo expressa em seus trabalhos as influências da tapeçaria e da estrutura das redes de pesca. Graduado no College of Art, University of Science and Technology na cidade de Kumasi, situada na região central de Gana, o artista éprofessor de escultura na Nigéria, tendo suas obras já sido expostas em grandes Bienais do mundo, como a de Joanesburgo, Veneza, Gwanju e Liverpool.

 

 

 

El Anatsui (Foto: Divulgação)

 

 

No início o ganense usava como matéria-prima para as esculturas madeira e argila, até que em meados de 1998, tempo em que circulava pelas ruas da cidade nigeriana de Nsukka (onde está localizado seu ateliê) em busca de outros materiais, se deparou com diversas tampas rosqueáveis de garrafa, geralmente produzidas em grande escala e descartadas na mesma proporção. Os objetos aguçaram sua criatividade por terem um grande peso histórico. No tempo da escravidão elas eram usadas na produção de açúcar e rum no chamado comércio triangular entre o continente africano, Europa e as colônias da América.

 

 

(Foto: Divulgação)

 

 

As esculturas são inovadoras pela simbologia e sustentabilidade. Os grandes mosaicos são feitos a partir de metais, papelão, madeira, retalhos de tecidos, entre outros objetos recolhidos nas ruas. Trabalhoso, o processo de transformação é constituído por várias etapas e envolve uma equipe de pessoas e assistentes que recortam e ligam uma peça a outra. Tudo é baseado na ideia incial do artista, que posteriormente determina a conexão geral entre essas pequenas partes, compondo assim a peça final. Apesar do poder de decisão, Anatsui deixa os instaladores, responsáveis por pendurar e dispor as obras no ambiente expositivo, livres para colocarem tudo da maneira que acharem conveniente, já que não existe uma fórmula precisa para as instalações.

 

 

 

(Foto: Divulgação)

 

 

Com cores quentes e intensas, os painéis pendurados na parede são colocados lado a lado ou atravessados nas salas de museus e galerias. Para entender as obras e o tipo de material usado na confecção é preciso ficar próximo e se atentar aos detalhes que revelam toda a funcionalidade em objetos descartados por alguns. De longe é difícil definir o que é, como foi feito e que tipo de material é fundamentado, pode se dizer que se assemelha com folhas ou retalhos de tecido.

 

 

 

(Foto: Divulgação)

 

 

Considerado um dos melhores escultores contemporâneos, o artista recebeu a medalha de prata na Osaka Sculpture Trienalle, menção honrosa da 44ª Bienal de Veneza. O reconhecimento se deve a preocupação de sua arte em reutilizar materiais jogados no lixo, evidenciando as mudanças da África colonial à independência. A simbologia de seus trabalhos é associada com a cultura e crenças tradicionais de Gana. Não menos importante, El Anatsui causa reflexão com sua arte criativa que ultrapassou os paradigmas sociais, superando expectativas e alcançando lugares representativos para uma nação que por séculos foi subestimada e desacreditada, revelando a riqueza multicultural e o potencial de todo um povo, não só para as artes, mas também nas esferas do pensamento crítico, lógico, biológico e social.