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Brasil / África

Manifesto Crespo: tecendo arte e história nos cabelos
por Kauê Vieira

 

Foto: Site Oficial (Divulgação)

 

 

Afinal, existe cabelo ruim? Vez ou outra os negros brasileiros se deparam com pessoas chamando o cabelo crespo de ruim. Tais estereótipos contribuem para a consolidação de uma imagem que não condiz com as infinitas possibilidades que um cabelo crespo oferece atingindo em cheio a autoestima do cidadão. Contudo, nos últimos tempos o cenário vem se alterando sensivelmente, especialmente com o avanço da internet e a difusão nas redes sociais de organizações independentes criadas para desconstruir esse pensamento enraizado na sociedade brasileira.

 

 

 

Foto: Site Oficial (Divulgação)

 

 

Nessa linha surge o coletivo Manifesto Crespo, idealizado por quatro mulheres negras de São Paulo, o grupo tem como proposta reconhecer o valor e fortalecer a memória e a autoestima de homens e mulheres negras, promovendo assim uma reflexão acerca de suas origens. “Acreditamos que o corpo negro e sua cultura são fonte para infinita criatividade e beleza,” explicam as gestoras.

 

 

Como o próprio nome já adianta, o coletivo atua de maneira independente e tem como foco central de discussão o chamado uso criativo do cabelo crespo. Para atingir o objetivo, o Manifesto promove uma série de oficinas e vivências que acontecem em bairros da periferia, comunidades quilombolas e indígenas e centros culturais. Dentre os projetos do grupo, está a oficina ‘Tecendo e Trançando Arte’, que de maneira educativa, discute o significado político do cabelo e ainda apresenta novas técnicas e estilos para o público. Criada há quatro anos, um ano depois do nascimento do coletivo, a oficina já atingiu mais de mil pessoas, sendo agraciado em 2014 com o Prêmio ‘Lélia Gonzales – Protagonismo de Organizações de Mulheres Negras’, feito em parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM).

 

 

 

Foto: Site Oficial (Divulgação)

 

 

Intuitivas e com participação direta do público, as reuniões caminham lado a lado com a história, ou seja, ao mesmo tempo em que se aprende um novo penteado, as pessoas são convidadas a acompanhar a origem de cada estilo e o contexto histórico que os envolve. Estão no programa técnicas sobre trança jamaicana (feitas com o próprio cabelo ou com apliques de lã ou fibra natural), a rasteira (coladinha ao couro cabeludo e que também é conhecida como trança nagô), alongamento, dreads, além de amarrações com tecidos.

 

 

 

Foto: Site Oficial (Divulgação)

 

 

Recentemente o grupo esteve na aldeia Tenondé Porã, que fica em Parelheiros, bairro no extremo sul de São Paulo. A escolha do local, de acordo com as integrantes do projeto, se deu pelo fato da comunidade indígena ter entre suas lideranças uma mulher, algo pouco comum, já que sempre se ouve falar de pajés e caciques. Jerá Guarani, de 34 anos, recebeu o Manifesto Crespo, que ensinou crianças e adultos a criarem turbantes e às índias a produzirem saias apenas com um pedaço de pano. O grupo promoveu ainda um intercâmbio entre índias, estas que cultivam um laço estreito com a terra, e a cultura afro.

 

 

Ao longo dos cinco anos de vida, o Manifesto Crespo foi reconhecido por instituições importantes dentro da luta pela afirmação e quebra de preconceitos sobre a comunidade afro-brasileira, como a Prefeitura de São Paulo, diferentes secretarias de cultura e políticas para as mulheres, a Rede Sesc, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), entre outros.

 

 

 

Foto: Site Oficial (Divulgação)

 

 

Mais que um simples símbolo estético, cabelo é cultura e para os negros representa um ato político e a vontade de quebrar velhos padrões. Seja na curva dos cachos, no comprimento dos dreads ou no formato simétrico de um black power, é fundamental que cada vez mais negros e negras entram em contato direto com sua ancestralidade africana e tenham orgulho de suas coroas, valores que o Manifesto Crespo, com maestria vem ensinando ao país.