Entender e explicar o mundo e tudo o que nele existe é necessidade inata do ser humano. Ela perpassa todas as culturas e encontra na literatura um suporte fundamental, pois é nos contos, mitos e lendas – primordialmente orais, mas que são recontados na voz de quem se dispõe a escrevê-los – que os medos, os costumes, as crenças, as perguntas (muitas ainda sem resposta) e as explicações para a existência de tudo são repassados de uma geração a outra.
O escritor brasileiro Rogério Andrade Barbosa é um dos mais ligados a narrativas de origem africana. Professor de Português, passou um período na Guiné Bissau, onde lecionou o idioma e teve contato com a rica tradição oral local. Voltando ao Brasil, continuou pesquisando sobre o assunto e começou a escrever os recontos de tudo o que ouviu no continente africano. Aliás, suas viagens à África não param e continuam rendendo livros, muitos deles premiados.
Em seu livro Histórias africanas para contar e recontar, Rogério nos apresenta seis recontos que falam sobre animais, apresentando os porquês de eles terem determinadas características, sejam elas físicas ou comportamentais. É a tradição popular africana tentando explicar a natureza, fazendo proposições que passam longe da ciência. São os griôs contando as histórias de um povo para todos os povos que queiram conhecê-las.
O próprio autor, também um griô, convida os leitores a recontarem após lerem seus (re)contos: “Aprecie os contos que explicam a origem do comportamento de determinados habitantes da floresta. Depois, leia em voz alta e tente reproduzir o andar e os diálogos travados pelos incríveis personagens. Afinal, as histórias, principalmente na África, foram feitas para serem contadas e recontadas.”
Nas narrativas que compõem este livro, é possível conhecer: a forma como o cachorro se aproximou dos homens e se tornou seu melhor amigo (tudo devido a uma mulher/mãe que soube dividir o prato do filho com o cão que apareceu na aldeia); o porquê de o camaleão mudar de cor (história que começa com o camaleão e a lebre acompanhando os humanos a uma feira e pegando os tecidos coloridos que eles derrubavam pelo caminho); o motivo de o morcego só voar à noite (numa disputa animal, ele não soube em que time entrar e acabou sendo rechaçado pelas duas equipes, o que o obrigou a se esconder durante a maior parte do tempo); o porquê de o porco viver no chiqueiro (ele e o javali, seu primo, viviam juntos, mas chegou o dia em que o porco decidiu ir à aldeia dos homens para conhecê-la); como a zebra se tornou toda listrada (os animais decidiram que precisavam de um chefe e discutiam a forma como ele seria escolhido, quando a zebra e o burro decidiram ficar mais bonitos para concorrer melhor) e por que a girafa não tem voz (exibida ao extremo, a girafa irritava todos os outros animais, que decidiram encontrar uma forma de torná-la mais “simplesinha”).
Rogério Andrade Barbosa
Se a ciência nos dá respostas lógicas para todas as perguntas, a literatura – oral e escrita – as dá fantasiosas, alimentando sempre a nossa imaginação e tornando o tesouro cultural de todos os povos tão rico e vasto.
Histórias africanas para contar e recontar
Texto: Rogério Andrade Barbosa
Ilustrações: Graça Lima
Editora do Brasil
Sobre este livro: Altamente Recomendável – categoria Reconto (FNLIJ – 2001). Catálogo da Feira de Bolonha FNLIJ (2002). Incluído no acervo PNBE (2006).
Fabiana da Cunha Medeiros é professora de Português e há anos se dedica à área de literatura infanto-juvenil. Mensalmente, apresentará aqui no Afreaka resenhas de livros com temática afro-brasileira.
Contatos: fabiana_cunham@yahoo.com.br ou www.facebook.com.br/brincadeirasliterarias