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África

Jim Chuchu, Lucfosther Diop e a pluralidade da arte contemporânea
por Gisele Falcari


 
From the Shadow Ship to the Sky Ship, obra de Lucfosther Diop

 

 

Segundo o professor de História da Arte Marcos Pecci, o artista contemporâneo, como sujeito social que é, busca, por meio de sua obra, construir sentidos para nos levar à reflexão sobre o mundo. Para que isso ocorra, muitas vezes, precisamos conhecer de antemão suas propostas, a fim de  tomarmos consciência da(s) intencionalidade(s) que o move(m). Isso significa que, agora, diferentemente de outras épocas, a ênfase recai nas possíveis verdades que serão construídas a partir do diálogo entre a obra, incluindo a intenção do artista, e seu espectador.

 

 

Vê-se, com isso, que as obras contemporâneas unem forma (objeto) e conteúdo (conceito), provocando estranhamentos e, consequentemente, questionamentos sobre o “mundo real”, ou seja, que o papel da criação artística é, quase sempre, desconstruir o que temos como “normal” ou “natural”. Ao deslocar objetos, situações e histórias da vida comum e colocá-los no ambiente artístico, o artista contemporâneo possibilita ao indivíduo enxergar-se enquanto sujeito no contínuo processo de transformação e construção de sentidos sobre o mundo.

 

 


 
Para Rhythm, obra de Lucfosther Diop

 

 

A obra “We are one”, um vídeo do camaronês Lucfosther Diop, é um exemplo disso. São exaustivos cinco minutos e trinta e oito segundos nos quais uma imagem estática mostra a mão do artista e seus dedos se movendo. Utilizando-se do vídeo, uma ferramenta bastante usual da arte contemporânea, Diop, ao mover seus dedos, ora de maneira a acariciá-los, ora de forma mais agressiva, questiona a natureza dos relacionamentos humanos. Segundo o próprio artista, ele busca expressar as influências e os impactos do neocolonialismo e do imperialismo no mundo e, em particular, no continente africano.

 

 


 
Foto: Zeca Sachetti

 

 

Sua obra, inicialmente, causa um estranhamento, pois ficamos na expectativa do que acontecerá a seguir, porém, vemos somente mãos calejadas movendo-se sem um sentido específico. Mas, quando relacionamos aquela mão ao nome da obra – “somos um” – e aos movimentos dos dedos, começamos a desvendar a possível metáfora utilizada por ele: a de que para reinventar o humano, precisamos aproximá-lo de algo comum a todos os outros seres humanos, isto é, mãos calejadas, cansadas e mesmo ansiosas em tocar e serem tocadas.

 

 

O filme “Stories of our Lives”, produzido pelo coletivo NEST, um espaço de arte multidisciplinar com sede em Nairóbi, capital do Quênia, mostra, também, essa função que o artista assumiu na contemporaneidade de apresentar histórias cotidianas aos indivíduos e, com isso, levá-los à reflexão de seu próprio papel na sociedade. É um filme em que Jim Chuchu e demais cofundadores do coletivo dramatizaram histórias colhidas em viagens, por todo aquele país, entrevistando a comunidade LGTB.

 

 


 
Imagem retirada do site oficial do artista Jim Chuchu

 

 

O trabalho explora a questão da identidade sexual em uma época em que tal comunidade, no Quênia e em toda a África, vem sendo cada vez mais sitiada, com o endurecimento de leis que condenam a homossexualidade. Segundo Jim Chuchu, esses artistas estão interessados em contar “histórias que são diferentes da cultura queniana mainstream que nega um monte de coisas”. Seria um esforço para se concentrarem nas histórias humanas por trás das manchetes. Um filme que mostra uma – e apenas uma – das várias facetas do que significa ser africano. Um filme de protesto contra uma ideia-padrão que mutila opiniões, sentimentos, identidades, gêneros a fim de criar um modelo uniforme de ser humano.

 

 

Ao produzir arte contemporânea, os artistas, ao mesmo tempo em que desconstroem o que nos é dado como “normal” ou “natural”, constroem “novas histórias”, mais humanas e mais plurais. Tais “novas histórias” permitem ao espectador comprometido uma reflexão sobre o seu estar no mundo, convidando-o, ou até mesmo impelindo-o, a tornar-se sujeito transformador de sua realidade.