A fotografia pode ser considerada uma ótima ferramenta para explorar questões de identidade social e cultural e nas mãos do fotógrafo nigeriano Ima Mfon ela vai além, atingindo o patamar de obra de arte. Nascido em Lagos, na Nigéria, mudou-se para os Estados Unidos logo que concluiu o ensino médio para fazer sua graduação em Negócios pela Universidade do Texas. Mas sua paixão pela fotografia o fez mudar o caminho quando optou por fazer mestrado em Estudos Profissionais de Fotografia na Escola de Artes Visuais de Nova Iorque.
Durante o desenvolvimento de sua tese, pelo fato de estar longe de casa, Ima decidiu reunir imagens que recriassem o que ele intitulou de “Identidade Nigeriana”. Através do Facebook, convidou pessoas de herança nigeriana para fazer parte desse projeto, que também nasce de uma inquietude acerca da mídia, que de acordo como o fotógrafo muitas vezes retrata o negro, sua pele e cultura de maneira estereotipada.
Padronizados, os ensaios reuniram homens, mulheres, jovens, crianças e idosos. Para excluir qualquer contexto cultura ou étnico, Ima escolheu uma fotografia simples, apenas com um fundo branco. Além disso, o fotografado teria que olhar diretamente para a câmera como se criasse uma aproximação com o espectador. Outro ponto importante foi a remoção de qualquer elemento visual como roupas e acessórios. A ideia era colocar em discussão a abordagem fotográfica do chamado estilo National Geographic, famosa revista do Estados Unidos que varia entre o uso de imagens ora relacionada à pobreza ora ao exótico.
A homogeneização dos tons de pele faz uma referência a todo reducionismo em torno de categorizações através da cor de pele. Neste projeto, Ima desafia o observador a entender o que é ser o “outro”, e em suas palavras, “é um lembrete de que a cultura e a identidade de um povo devem ser sempre apreciadas, respeitas e honradas”.
Durante o processo Ima se mostrou surpreso ao notar o aparecimento de pessoas de diversos lugares, alguns com poucas coisas em comum com a Nigéria, como é o caso do estado do Texas e o interesse demonstrado por gente de diferentes profissões, algumas distantes da fotografia, como contadores e designers de papel de carta, mas todos com algo em comum: a identidade nigeriana.
Ima escolheu a câmera como a melhor maneira de contar sua história, e foi muito feliz, expondo o projeto em Lagos Photo Festival e Art Basel Miami. Ele também ganhou o prêmio como uns dos 50 fotógrafos mais promissores do mundo na atualidade pela Lens Culture.
O projeto “Identidades Nigerianas” celebra a belíssima pele desses povos, que em algumas situações são reduzidos a conceitos criados por análises exteriores e por uma mídia com o olhar ocidentalizado. Nesse caso, não há distinção de classe e lugar, aqui são todos nigerianos, muito orgulhosos de suas heranças.