Foto: Alex Affonso (Divulgação)
Exaltando os Orixás, exaltamos a África!
Viva a Mulher Negra e o Povo de Santo!
Dono de uma batera formada apenas por mulheres, o bloco feminista Ilú Obá de Min nasceu em São Paulo em 2005 e hoje se apresenta como um dos principais expoentes da cultura afro-brasileira na capital paulista. Desde o início a proposta do Ilú foi de promover manifestações culturais baseadas na preservação do patrimônio imaterial e trazer para as áreas urbanas o encanto das antigas tradições, além de mostrar o empoderamento das mulheres por meio da cultura. Todos estes conceitos e objetivos são coordenados pela arte-educadora e musicista Beth Beli, que há 20 anos desenvolve pesquisas sobre matrizes africanas e afro-brasileiras.
Foto: Alex Affonso (Divulgação)
Ilú Obá de Min significa mãos femininas que tocam tambores para o rei Xangô e sua sonoridade é baseada nos elementos do Candomblé, que somados ao maracatu, jongo, boi e ciranda, resultam em um som contagiante e em plena sintonia com o passado negro e africano do Brasil. O Candomblé é um dos fios condutores do bloco e o Xirê – palavra de origem Ioruba que quer dizer dança ou roda, é usada por seus integrantes para evocar os Orixás. Para completar o grupo desfila com um corpo de baile e cantoras e cantores brincantes, que em suas pernas de pau andam fantasiados de Orixás para entreter o público.
Além dos Xirês, todos os anos o Ilú homenageia uma personalidade negra e neste Carnaval o destaque foi para a escritora e poetisa Maria Carolina de Jesus, escolhida em comemoração ao seu centenário. Sua impressionante resiliência e persistência na busca por seus objetivos, sendo moradora de favela e encontrando-se em situação de extrema miséria, a fez ganhar o mundo com o seu livro: O quarto de Despejo, diário de uma favelada.
Foto: Alex Affonso (Divulgação)
Em cerca de 10 anos de história o Ilú Obá de Min já ganhou espaço entre os blocos mais tradicionais de São Paulo. Exemplo disso foi a presença de 10 mil pessoas no cortejo que rodou pelo centro da capital. Outro fator importante na busca pela difusão da cultura afro-brasileira e pelo reconhecimento da mulher negra foi o aumento da procura de mulheres interessadas em fazer parte do projeto. O resultado é animador e em 2015 o Ilú Obá de Min apresentou a maior bateria desde sua formação. Entre dançarinas e cantoras desfilaram mais de 250 mulheres.
Feminismo, a Mulher Negra e os Orixás
Ao tocar tambores, antes utilizados tão somente por homens, as mulheres do grupo Ilú Obá de Min desafiam raízes profundamente patriarcais e machistas, ao mesmo tempo em que a arte emana dos Xirês e danças. Há um protesto contra a cultura e filosofia que inferiorizaram a mulher, em especial a negra, durante séculos. Como em qualquer espaço público, político-social, as mulheres negras, integrantes do Ilú representam a resistência à apropriação cultural que há séculos se perdura sobre o povo negro, suas tradições e culturas.
Foto: Lineu Ko (Divulgação)
Todas as mulheres negras do mundo contemporâneo precisam de representações como as descritas neste artigo. A simbologia e a maneira respeitosa que a cultura e ancestralidade são tratadas aumenta a autoestima e motiva o povo negro a seguir firme em sua luta pelo respeito e igualdade. O Ilú Obá de Min é uma importante maravilhosa representação do elo entre Brasil e África, da arte contemporânea e da produção e difusão de cultura em São Paulo.
Salve As Mulheres do Ilú, Salve!