O Ilê Aiyê é a cultura brasileira na dança, música e festa. (Foto: André Frutuôso)
“Que bloco é esse
Eu quero saber,
É o mundo negro
Que viemos mostrar pra você
Pra você
Somos criolo doido
Somos bem legal
Temos cabelo duro
Somos black power”
(Paulinho Camafeu)
Ilê Aiyê é o espetáculo rítmico-musical e visual que tem sua fonte de inspiração na África, somado ao trabalho sócio-educacional de revalorização dos afro-descendentes. Ilê Aiyê é a cultura afro-brasileira em música, dança e festa. No ritmo dos surdos e repiques, nos gestos e nas cores vermelho, amarelo e branco que caracterizam o bloco.
Preservar, valorizar e expandir a cultura afro-brasileira é o lema que o bloco segue desde sua fundação em novembro de 1974. Entre os mais antigos blocos-afros da Bahia, seu berço foi o bairro do Curuzu. Do iorubá, Ilê = casa, Aiyê = Terra, a “nossa casa”, a “nossa Terra”, que traduz a ligação com as raízes ancestrais dos orixás e com a herança dos costumes sociais e culturais da mãe África.
Ilê Aiyê colorindo o carnaval de Salvador, na Bahia. (Foto: André Frutuôso)
No carnaval da Bahia, o bloco Ilê Aiyê é referência ao representar tanto nas temáticas das músicas, como nas fantasias, no ritmo e nas danças o mundo negro que, com origem no continente africano, é o fio que tece a malha cotidiana da realidade baiana. Nas palavras oficiais do Ilê: “o Mais Belo dos Belos apropriou-se popularmente da história africana para trabalhar a construção da história do negro no Brasil”.
“Ilê Aiyê, sua beleza se transforma em você”, versos da música “Canto de Afoxé”, de Caetano Veloso, traduzem muito bem as apresentações do bloco pelo mundo. Sim, pois, já passaram por Angola, Alemanha, China, Colômbia, Itália, entre outros países. O que traduz também A Noite da Beleza Negra, na qual é escolhida a “Deusa do Ébano”.
O concurso “Deusa do Ébano” exalta a beleza e conscientização da mulher negra. (Foto: Fafá M. Araújo)
“Deusa do Ébano”, é um concurso que exalta a beleza e a conscientização da mulher negra, pois nele “são analisados os trançados dos cabelos, as estamparias do tecido, a graça da dança, mas, sobretudo, a candidata deve ter consciência da sua negritude e ser atuante na comunidade para tornar-se vencedora da Noite da Beleza Negra”.
O bloco afro Ilê Aiyê também estende seus fios em ações educativas exemplares. Aliando práticas pedagógicas e culturais proporciona desenvolvimento social às crianças e aos jovens da comunidade do Curuzu e bairros vizinhos. O “Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê” conta com três espaços educativos que valorizam a pluralidade social e cultural da sociedade baiana.
Vovô do Ilê é um dos responsáveis pela fundação do tradicional bloco afro. (Foto: Fafá M. Araújo)
Como espaço de socialização e apreensão de valores éticos, a Escola Mãe Hilda oferece educação básica e fundamental, como também, atividades artísticas. O Projeto conta ainda com a Escola Profissionalizante do Ilê Aiyê, que inclui em seu currículo questões sobre cidadania, abordando a história do negro e o preconceito racial, e com a Banda Erê, escola de arte e educação que resgata valores culturais africanos.
Um dos fundadores do Ilê Aiyê, Antonio Carlos dos Santos, conhecido como Vovô do Ilê, defende a formação do bloco somente por integrantes negros pelo fato de observar a forte presença de brancos nos blocos baianos até então. A ideia foi mesmo a de criar um bloco carnavalesco dirigido por negros voltado para a comunidade negra, o que não foi uma tarefa fácil se lembrarmos que a sua fundação foi em 1974, em pleno regime militar no Brasil.
Tanto Vovô do Ilê, quanto Apolônio de Jesus, seus dirigentes e fundadores, sofreram com perseguições no período da ditadura. Mas, mantiveram seus ideais e o bloco que começou com uma centena de integrantes no primeiro ano, com os desfiles sendo vigiados pela polícia, concentra hoje, quarenta anos depois de sua fundação, três mil associados sendo considerado um patrimônio da cultura baiana.
“Ilê Aiyê que maneira mais feliz de viver”
(Caetano Veloso)