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Brasil / África

Fazenda da Roseira e a Comunidade Jongo do Dito Ribeiro: Ressignificação do espaço
por Carol Neumann

 

A Associação do Jongo Dito Ribeiro desenvolve uma série de atividades pensadas para alunos da rede básica de ensino e também para a formação de profissionais de educação. (Foto: Divulgação / Site institucional Jongo Dito Ribeiro)

 

 

“Andei, parei, custei mas no jongo eu cheguei

Andei, parei, custei mas no jongo eu cheguei

O Dandá abre a Roda… O Dandá abre a Roda!

Quem foi que disse quem te falo

que em Campinas não havia Jongueiro…”

 

 

Formada por jongueiros membros de um grupo de familiares e amigos que representam a manifestação do Jongo em Campinas, a Comunidade Jongo do Dito Ribeiro ajuda a tomar conta de um casarão construído no final do século XIX e com ele alarga os espaços para falar sobre educação ambiental e cultura afro. A Casa de Cultura Fazenda Roseira, referência da cultura negra em Campinas, vem sendo ocupada e gerida desde 2007 pela Comunidade e por movimentos sociais e religiosos de matrizes africanas, fortalecendo os seus laços e promovendo uma releitura do espaço, outrora deteriorado e abandonado.

 

 

 

 

Dentro do processo de gestão e ocupação da Fazenda Roseira pela Comunidade Jongo Dito Ribeiro, o  jongo potencializou ainda mais seu papel de mobilização social. (Foto: Divulgação / Site institucional Jongo Dito Ribeiro)

 

 

Em 2007, o prédio, que se encontrava em más condições, foi tornado equipamento público pela prefeitura e então pode ser ocupado. Baseada na lei 10639/03, que obriga a implementação do estudo da história africana e da cultura afro-brasileira nos currículos escolares de todas as instituições de ensino do Brasil, a Associação do Jongo Dito Ribeiro desenvolve em sua sede uma série de atividades pensadas para alunos da rede básica de ensino e também para a formação de profissionais de educação.

 

 

Fazendo uso de articulações de atividades culturais e educativas que possuem como eixo a cultura, história, mitologia e meio ambiente em uma perspectiva afro-brasileira, o grupo desenvolve no local programas como o Projeto Oxóssi, que fomenta a agricultura urbana e o plantio de hortaliça, e a Escola de Curimba, uma perspectiva cultural dos toques e cânticos das religiões de origem africana. Com esta efervescência é possível afirmar que o espaço cultural ganhou outra vida nos últimos tempos, situado como ponto de encontro de interessados em aprender e disseminar conhecimento acerca do universo de negro brasileiro e africano.

 

 

 

“Se antes o jongo acontecia nos terreiros das senzalas, hoje está no terreiro da casa grande”. (Foto: Divulgação / Site institucional Jongo Dito Ribeiro)

 

 

Dentro do processo de gestão e ocupação da Fazenda Roseira pela Comunidade Jongo Dito Ribeiro, o jongo potencializou ainda mais seu papel de mobilização social, assumindo postura política e de articulação para os guardiões dessa tradição bem como para os novos membros com quem toma contato. Afinal, a ocupação se deu em um contexto de loteamento da área da antiga fazenda aliado a um processo de busca por acesso à cultura e ao sentimento de pertencimento pelos jovens da periferia de Campinas.

 

 

A Comunidade Dito Ribeiro, além de atuar na Fazenda Roseira, firma-se através de rituais aprendidos pelos ensinamentos dos jongueiros velhos e realiza uma série de apresentações em escolas, universidades, quilombos e festas oficiais. Dessa forma, com a gestão compartilhada e em rede, a Fazenda Roseira vem se tornando um espaço para a expansão e respeito da manifestação cultural, reconstituindo e reelaborando a cultura ancestral do jongo com abertura para todas as pessoas interessadas. A líder da comunidade, Alessandra Ribeiro, filha de Dito, que dá nome ao grupo e que trouxe a tradição de Minas Gerais para Campinas, resume uma das conquistas da iniciativa: “Se antes o jongo acontecia nos terreiros das senzalas, hoje está no terreiro da casa grande”. Com o enorme potencial de realização e compromisso do grupo, fica claro que ainda muitas outras conquistas e projetos despontarão na efervescência cultural da Fazenda Roseira.

 

 

 

A Comunidade Jongo Dito Ribeiro firma-se através de rituais aprendidos   pelos ensinamentos dos jongueiros velhos e realiza uma série de apresentações em escolas. (Foto- Divulgação / Site institucional Jongo Dito Ribeiro)

 

 

Saiba mais:

Apontado como o pai do samba pelos jongueiros, o jongo constitui-se por elementos de dança, canto e percussão de tambores. Na maioria das comunidades, os tambores ainda são fabricados de modo artesanal, afinal, eles carregam um vínculo com os ancestrais, sendo considerados até mesmo membros da roda de jongo. É a partir do tamborilar que os dançarinos formam uma roda e respondem em coro ao solo de um jongueiro. As canções carregam resistência e protesto através de comentários irônicos, retratação do cotidiano nas fazendas e no garimpo, metáforas e expressões de origens mistas, nas quais a língua banto é elemento bastante presente. Em 2005, o Jongo do Sudeste foi reconhecido pelo IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, como patrimônio cultural brasileiro de natureza imaterial.

 

 

Para mais informações: https://comunidadejongoditoribeiro.wordpress.com/