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Nigéria

Fani-Kayode: sensibilidade e transgressão na fotografia homoerótica africana
por Débora Armelin Ferreira

Foto de Fani Kayode (Divulgação)

 

 

Rotimi Fani-Kayode escolheu a fotografia como meio de expressão, uma ferramenta política para falar de forma crítica sobre questões como a sexualidade, espiritualidade, identidade e diáspora. Suas fotografias apresentam uma forma dramática e serena ao retratar a si mesmo e a outros homens negros e nus, explorando noções de masculinidade e homoerotismo, envolvendo um mistura sofisticada e até mesmo ambígua da iconografia africana e ocidental.

 

 

Sensibilidade e força são duas características facilmente reconhecidas no trabalho do artista nigeriano nascido em Lagos, no ano de 1955. Proveniente de família iorubá, respeitados por serem guardiões do santuário das divindades e sacerdotes da sagrada cidade de Ifé (também conhecida como Ifé-Ilé), estudou em escola cristã e de língua inglesa.

 

 

Foto de Fani Kayode (Divulgação)

 

 

No ano de 1966, se exila com a família para a Inglaterra devido ao golpe militar e guerra civil na Nigéria, e é por lá que termina seus estudos. Decide fazer sua graduação nos Estados Unidos, onde cursou Artes Plásticas, por opção, e Economia, apenas para agradar a seu pai, mais tarde se tornando mestre em Belas Artes e Fotografia. Ao fim dos estudos, retorna à Nigéria, mas em 1983, resolve se estabelecer em Londres, onde dá início a sua carreira artística.

 

 

Em sua trajetória profissional, o corpo nu foi sempre o foco central de suas composições, explorado com muita originalidade e sensibilidade. É o corpo negro masculino sendo apresentado como imagem de poder e igualmente como objeto de desejo, através de uma investigação fotográfica em que são trazidas as memórias ancestrais, e simbolismos da cultura iorubá, representados em narrativas traduzidas em poses gestuais e rituais. Um modo subversivo em que o fotógrafo também encontrou para tratar a questão da relação de poder racial associado ao neo-colonialismo.

 

 

Foto de Fani Kayode (Divulgação)

 

 

Enquanto o homoerotismo foi um meio usado para se aproximar de uma transformação, uma forma de transgressão que chega a libertar a mente do corpo. Este trabalho não é apenas baseado na construção identitária de Fani-Kayode, mas tem o propósito de questionar a própria capacidade do corpo em se manter numa posição como expressão coerente de identidade e experiência.

 

 

O artista também fez parceria com Alan Hirst, companheiro de trabalho e amoroso, onde exploraram juntos a multiplicidade de identidade como homossexual e negro criando um local de discurso dentro de uma sociedade racista e homofóbica, traduzindo suas raivas e questionamento em imagens que tem o intuito de provocar seus espectadores que carregam percepções convencionais.

 

 

Foto de Fani Kayode (Divulgação)

 

 

Em 1988, o artista fez história ao fundar a Associação de Fotógrafos de Preto, a Autograph ABP[1], que tem a missão de defender a inclusão de práticas fotográficas historicamente marginalizadas. A instituição de caridade trabalha, até os dias atuais, com fotografia, identidade cultural, raça, representação e os direitos humanos em todo o mundo. No entanto, apesar de marcante, fecunda e inovadora, a carreira de Fani-Kayode foi curta, terminando em 1989, quando sofreu um ataque cardíaco em decorrência do HIV. Três anos depois, seu parceiro também veio a falecer.

 

 

Este ano na África do Sul, a exposição “Rotimi Fani-Kayode (1955-1989): Traces of Ecstasy” busca provocar um questionamento em torno da homossexualidade e a aprovação de leis para legalizar a perseguição de homossexuais na África por seus líderes, como é o caso do país de origem do artista, a Nigéria, que considera crime práticas homossexuais com penas como prisões e morte. De uma forma poética e sensível, o legado desse audaz e revolucionário artista, mesmo após 25 anos de sua morte, é ainda muito atual e faz com que seja discutido o inaceitável preconceito sexual fortemente inserido na sociedade não apenas na África, mas em todo o mundo.

 

 

Foto de Fani Kayode (Divulgação)

 

 

“Às vezes eu acho que se eu levasse o meu trabalho para as áreas rurais, onde a vida ainda está vigorosamente em contato com ela mesma e com suas raízes, a recepção pode ser mais construtiva. Talvez se eles reconhecessem meus Deuses da varíola, meus sacerdotes transexuais, minhas imagens de homens negros desejáveis em um estado de frenesi sexual, ou a tranquilidade de comunhão com o mundo espiritual, talvez eles tenham menos medo de se deparar com o mais escuro dos segredos sombrios da África, pelo qual alguns de nós procuram para ter acesso à alma.” Romiti Fani-Kayode (1955-1989)