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Brasil / África

Dica de leitura: Literatura e Afrodescendência no Brasil: antologia crítica
por Estefânia Lopes

 

 

Capa do livro Literatura e Afrodescendência no Brasil

-Bem… eu vou carregar a minha cruz sozinha, – e pegava meus filhos e voltava para a rua – era tão melhor ficar na rua a dar problema para os outros!… Eu nunca gostei e não gosto. (…)

 
 
 
 

Só que eu não encontrei amor, não encontro e não quero, porque não acredito em amor e sim em solidariedade humana, da parte de algumas pessoas”.

 
 

(Francisca Souza da Silva, Ai de vós! Diário de uma doméstica).

 
 

O volume 1 tem mais de 500 páginas, o volume 2 mais de 400, e assim são os 4 livros que reúnem a Antologia organizada por Eduardo de Assis Duarte, com a colaboração de Maria Nazareth Soares Fonseca, sobre a produção de escritoras e escritores negros ou, como mostra o título, de afrodescendentes brasileiros.

 
 

Só a lista de escritoras e escritores que aparecem na dedicatória do primeiro volume já é de encher os olhos. De A a S, começando por Abdias Nascimento, passando por João do Rio, Maria Firmina dos Reis e encerrando a homenagem com Solano Trindade, são 34 nomes de autoras e autores afrodescendentes que precisam e merecem tornarem-se conhecidos pelo leitor brasileiro.

 
 

Esta rica antologia crítica nasceu de um projeto Integrado de Pesquisa: “Afrodescendências: raça/etnia na cultura brasileira”. Os volumes lançados em 2011 encontram-se na 1ª reimpressão de 2014, o que foi possível com o patrocínio da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da Reública (SEPPIR/PR).

 
 

Pode o negro falar? Expressar seu ser e existir negros em prosa ou verso? Publicar?”. Com essas questões provocadoras Eduardo de Assis inicia o texto preliminar no primeiro volume.

 
 

Entenda-se a Afrodescendência do título como conceito de construção identitária, “no sentido em que a questão das identidades é trabalhada pelo pensamento contemporâneo – Bhabha, Spivak, Said, Hall e outros -, do que no âmbito da descendência racial e biológica, cristalizada no senso comum desde o cientificismo do século XIX”.

 
 

Desse modo, etnicidade e pertencimento cultural estão presentes no grande número de escritoras e escritores reunidos nos volumes, vinculados com a herança africana, “em sua maioria homens e mulheres do século XX. Como também foi registrada a presença daqueles para os quais tais vínculos se expressam pela angústia, pelo silêncio ou pela insinuação, procedimentos mais visíveis entre autores e autoras do século XIX”.

 
 

A antologia crítica reúne significativas amostras das obras de ficção e poesia, conjuntamente com informações sobre os autores (as), suas publicações e fontes de consulta, com o “propósito central de investigar nesses textos as marcas discursivas que indicam a expressão de vínculos com as tradições herdadas do continente africano e com os modos de vida e de cultura dos afro-brasileiros”.

 
 

 

Machado de Assis e Auta de Souza (Foto: Wikipedia)

 
 

Os volumes são divididos em: 1- Precursores, que apresenta excertos e estudos sobre os autores(as) nascidos antes de 1930, a partir dos traços discursivos “os situam, em muitos momentos, numa órbita de valores socioculturais distintos dos abraçados pelas elites brancas”. Machado de Assis, Gonçalves Dias, Auta de Souza, fazem companhia às sátiras do advogado Luiz Gama ou do ativista da Abolição José do Patrocínio. Dentre outros menos conhecidos como, Lino Guedes e Carlos de Assumpção, bem como, os já consagrados Carolina Maria de Jesus e Abdias Nascimento figuram entre os 31 escritores(as) presentes neste volume.

 
 

O volume 2 – Consolidação, abarca o período de 1930 a 1940, reunindo 30 autores(as) entre os quais, alguns circulam em mais de um gênero artístico, como, Joel Rufino dos Santos, presente na prosa e na literatura infantojuvenil, Conceição Evaristo, representada na prosa e na poesia e os também músicos, Martinho da Vila e Nei Lopes. Os escritores(as) aqui reunidos têm como característica em comum “pontos de vista marcados pelo pertencimento étnico e pelo propósito de construir um texto afro-identificado”.

 
 

 

Cidinha da Silva (Foto: Facebook), Cuti (Foto: Blog Oficial) e Miriam Alves (Foto: Facebook)

 
 

No volume 3 – Contemporaneidade, “há uma forte presença de autores revelados nos Cadernos Negros: Cuti, Miriam Alves, Márcio Barbosa”, entre outros, nascidos na segunda metade do século XX e com publicação a partir das últimas décadas. Vale destacar o aumento da presença feminina, “com um aumento em torno de 50% do primeiro para o segundo e terceiro volumes”. E o volume 4 – História, teoria e polêmica, traz o registro de depoimentos e ensaios de escritores(as), críticos e historiadores, revelando dados historiográficos, bem como, aparato teórico sobre a literatura negra ou afro-brasileira.

 
 

Estes quatro volumes convidam o público leitor brasileiro a conhecer e/ou (re)encontrar escritoras e escritores afrodescendentes que ficam, ou agora pode-se dizer, ficavam à margem. Entre autores que conseguiram furar o bloqueio, como Machado de Assis, Cruz e Souza e Lima Barreto, outros tantos e tantas vozes aqui se fazem presente. Respondendo à frase provocativa de Assis Duarte, Sim, é mais que devido o negro falar, expressar seu ser e existir, e, publicar em prosa e em versos.

 
 

The night is beautiful,

so the faces of my people.

The stars are beautiful,

so the eyes of my people.

Beautiful, also, is the Sun.

Beautiful, also, are the souls of my people”

Tradução:

 
 

A noite está linda,
 Assim os rostos do meu povo.
 As estrelas são belas ,
 e os olhos do meu povo .
 Linda , também , é a Sun.
 Linda , também , são as almas do meu povo

(Langston Hughes, 1923).

 
 

Vale a pena verificar a disponibilidade dos livros para empréstimo nas bibliotecas públicas da sua cidade.

 
 

Link para busca de catálogo on-line das bibliotecas públicas de São Paulo: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/catalogo_eletronico/