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África

Copa do Mundo: o protagonismo dos imigrantes
por Íris Strecker



Karim Benzema, que é descendente de argelinos. Reprodução: Facebook

 

 

A Copa do Mundo no Brasil, que já é chamada de “A Copa das Copas”, foi mais um acontecimento – lembremos dos Jogos Pan­Americanos de 2007 – que confirmou a capacidade do Brasil em organizar grande eventos mundiais, além disso, das 32 seleções que disputam o campeonato mundial de futebol no Brasil, até mesmo nações que não gozam de reconhecimento pleno internacional também estão representadas. Vemos também, com a Copa, um número enorme de jogadores negros, descendentes de africanos, jogando em seleções europeias.

 

 

Fatos recentes no esporte nos mostram que o universo do futebol revela traços encobertos de moralidade e preconceito da sociedade que se expressam tanto em brincadeiras e comentários depreciativos sobre um ou outro atleta, ou ainda, como o caso da eliminação precoce da seleção espanhola do mundial, o que gerou e extrapolou demais nas redes sociais casos de racismo e xenofobia.

 

 



Mamdou Sakho é filho de senegaleses. Reprodução: Facebook Oficial

 

 

Por outro lado, quais são os limites da tolerância das torcidas de futebol (organizadas ou não) acerca da presença e atuação de atletas negros ou imigrantes? Há uma perspectiva explicativa que aglutina xenofobia e racismo? Tendo tais problemáticas sob foco, é importante refletir, ainda mais diante da cultura globalizada e de suas dissonâncias e dos fluxos migratórios internacionais, esses tipos de acontecimentos.

 

 

Sabemos que o fenômeno migratório é inerente à história da humanidade e que se comprova inclusive na própria natureza com os deslocamentos de grupos populacionais na procura de melhores condições de existência para assegurar a sobrevivência. Além disso, a imigração é algo já comumentemente relacionada às populações que fogem de seus países para encontrar melhores condições de trabalho, de moradia, de vida. Alguns destes imigrantes são refugiados deslocados, temporária ou permanentemente, em razão de guerras ou catástrofes naturais em seu país de origem. É sabido também que a própria tradição africana se caracteriza por importantes movimentos migratórios, motivados pela busca de novas terras férteis, para a população concernida ou para alimentar os rebanhos após uma mudança de estação.

 

 



Matuidi – Reprodução: Facebook Oficial

 

 

A colonização europeia, com sua política de recrutamento de mão de obra para as minas e os cultivos de exportação, também favoreceu este fenômeno. As próprias nações que colonizaram esses países, por certos momentos, chegaram a incentivar a imigração e a facilitar a entrada de africanos em seu território, em busca de contingente para mão de obra. A imigração africana na Europa remonta às décadas de 1950 e 1960 e foi ditada neste período pela necessidade de mão de obra nesses países, devido a expansão da indústria clássica que a requeria.

 

 

Tendo isso em vista, não é de se estranhar que esses países tenham em sua população um contingente de descendentes africanos. Enquanto vários países adotam medidas restritivas e discursos anti­imigração, os imigrantes mostram dentro do futebol como representam as nações nas quais vivem hoje. Sejam imigrantes propriamente ditos ou descendentes, tais jogadores mostram como a imigração impacta nos países e traz benefícios a eles.

 

 

Não é um exagero dizer que, sem os imigrantes e seus descendentes, tais seleções simplesmente não existiriam como hoje, e provavelmente não teriam reunido condições para se classificarem ao Mundial.

 

 



Moussa Sissoko, cujos pais nasceram no Mali. Reprodução: Facebook

 

 

Com o avanço da extrema­direita na Europa está crescendo o debate sobre a participação dos imigrantes nas seleções de futebol. Um bom exemplo, foi a Suíça, que aprovou em fevereiro deste ano uma iniciativa contra a imigração em massa, desafiando o espírito das leis que permitem aos cidadãos a liberdade de circulação em toda a União Europeia. Se tal medida tivesse sido adotada há alguns anos, poderia trazer problemas à seleção suíça na Copa do Mundo: dos 30 jogadores convocados em 2013, 17 têm origens estrangeiras. Há jogadores que nasceram na Costa do Marfim e na Nigéria, mas cresceram na Suíça. A pluralidade cultural que tomou conta do país e, consequentemente da seleção, não atrapalha em nada a Suíça. O time se classificou em primeiro lugar no Grupo das eliminatórias e foi um das cabeças de chave da Copa do Mundo. Sinal de que a mistura vem dando certo.

 

 

Essa diversidade ainda não é bem compreendida mesmo internamente e motiva reações não apenas na Europa, mas também em outros cantos do planeta. Na Europa não existem só os torcedores racistas atirando bananas para o campo, mas os partidos políticos de extrema direita estão ganhando terreno, como na França e na Holanda, países que ficariam muito desfalcados para a Copa do Mundo no Brasil e poderiam não conseguir passar nem da primeira fase. Já Argélia, Gana e Turquia seriam as equipes que teriam mais reforços.

 

 



O meia Blaise Matuidi é filho de angolanos. Reprodução: Facebook

 

 

Se houvesse uma regra contra utilização de imigrantes na seleção nacional, os franceses perderiam 12 jogadores de seu elenco que levou para o Brasil. Raphaël Varane e Loïc Rémy, cujos pais nasceram na Martinica; o zagueiro Mamadou Sakho, que é filho de senegaleses; o meia Blaise Matuidi, cujo pai nasceu em Angola; o defensor Eliaquim Mangala, cujos pais nasceram na República Democrática do Congo; o meia Rio Mavuba, que durante vinte anos não possuiu nacionalidade, constando apenas em seu passaporte que ele havia nascido em águas internacionais, tendo seu pai nascido no Zaire e sua mãe, em Angola; o meia Moussa Sissoko, cujos pais nasceram em Mali; o atacante do Real Madrid Karim Benzema, que não canta a Marselhesa em protesto aos casos de xenofobia que ocorrem contra sua comunidade, cujo pai nasceu na Argélia; o meio-campista Paul Pogba, cujos pais nasceram na Guiné e o meio­campista Matthieu Valbuena, que tem pai nascido na Espanha.

 

 

A imigração africana não constitui de jeito nenhum uma ameaça à identidade cultural dos países europeus. Muito pelo contrário, contribui à expansão internacional dos países de acolhida, à extensão da influência cultural, político e econômica, ao desenvolvimento de seus projetos de cooperação e ao fortalecimento das relações bilaterais.