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Brasil / África

Coco de Zambê, uma brincadeira dançante
por Débora Armelin

 

O Coco de Zambê nasce em um contexto político de afirmação identitária quilombola. (Foto: Camila Pinheiro) 

 

 

Em 1903, o jornal “A República”, órgão oficial do governo do Rio Grande do Norte, publicou uma nota repudiando o chamado “samba” que ocorriam aos sábados, noite adentro, no município de Timbau do Sul, onde eram promovidos “gritos infernais” por uma “súcia de vadios” e que “ameaçava a segurança e a higiene pública do local”.

 

 

Esse samba mencionado na nota referia-se aos encontros ocorridos na casa de um homem conhecido como Paulo Africano, onde se dançavam nada mais que o Coco de Zambê, uma “brincadeira” que foi inserida no universo dos engenhos de cana de açúcar e localidades pesqueiras, trazidos através de africanos escravizados e criando um sincretismo com culturas brasileiras.

 

 

Essa brincadeira nascida dentro de um contexto político de afirmação identitária quilombola, se trata uma dança de canto improvisado ou previamente ensaiado, ritmados por instrumentos denominados “zambê” e “chamá”, tambores de pau furado cobertos com couro de animais.

 

 

 

 O samba mencionado se refere aos encontros na casa de um homem conhecido como Paulo Africano. (Foto: Divulgação)

 

 

Para esta dança acontecer, forma-se uma roda onde os tocadores ocupam uma posição central, e nela somente homens podem participar, entoando cantos enquanto os brincantes se revezam na entrada da roda, executando passos que lembram capoeira, afoxé e frevo, numa agilidade de movimentos e performances frenéticas. Um de cada vez, se dirige ao “chefe” fazendo reverência ao tambor, que possui um papel fundamental, e logo em seguida dirigem a outro dançarino com cumprimento de umbigada, convidando-o a entrar a roda.

 

 

Agindo de forma intensa dentro de narrativas relacionadas ao passado e ao presente, o Coco de Zambê ocorre geralmente no mês de São João, mas também serve como comemoração a grandes colheitas e pescas, sendo uma forma de diversão após longas jornadas de trabalho.

 

 

Visto como um elemento indicativo de pertencimento e igualmente ligado à ancestralidade negra local, a comunidade de Sibaúma resgatou essa tradição popular, revitalizando e elegendo-a como patrimônio cultural da região, definindo assim sua singularidade entendida como prática social onde se associa a origem da própria identidade do grupo e seu processo de reconhecimento étnico quilombola.

 

 

Mario de Andrade, em suas andanças pelo Brasil na década de 20 do século passado, registrou:

“De longe se escuta um zambê noutra casa de empregados. O som do bumbo zambê se escuta longe. Vamos lá. O pessoal dança passos dificílimos. O também bate soturno em ritmo estupendo. Estou no meu quarto e inda o zambê ruga no longe. Adormecerei e ele ficará rufando. Pleno século XIX. Plena escravidão. Minha comoção é dramática e forte”.