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Cabo Verde

Cidade Velha: património mundial nas proximidades da Praia
por Nuno Rebocho

 

 

Cidade Velha é, cada vez mais, significante destino turístico em Cabo Verde. Chamando a atenção de quem a visita – cujo número vem aumentando, atraído pela importância das suas ruínas históricas que recordam um passado de riqueza e de escravatura -, a primeira capital daquele arquipélago, hoje Património da Humanidade, tornou-se o destino de quem procura algo diferente do “sol e praia”.

 

 

A uma dúzia de quilómetros da cidade da Praia, servida por uma boa estrada alcatroada (portanto, com muito fácil acesso por parte de quem chega de avião ou nos inúmeros cruzeiros de barco que demandam o seu porto na ilha de Santiago), o “berço da nação cabo-verdiana” – que ali nasceu no séc. XV – é hoje em dia beneficiada por bons hotéis e pelo atrativo de um típico artesanato patente nos bistraux existentes na histórica Rua Banana e no Largo do Pelourinho, enquanto se conclui um importante Centro de Exposição de Artesanato.

 

 

 

 

Coroada por uma fortaleza de origem espanhola, a Fortaleza Real de S. Filipe, mandada construir em 1587 e de onde se avista a luxuriante paisagem do vale de Ribeira Grande, agora com um “sambódremo”, onde em janeiro decorrem as tradicionais festas de Nhu Santu Nomi di Jesus, ali se recorda os ataques de corsários que puseram a saque a cidade – ao contrário do vendido pelo fabuloso imaginário hollywoodesco, foram estas ilhas o cenário de combates dos famosos flibusteiros como Francis Drake. A fortaleza fecha um núcleo de fortins e baluartes que se alcandoram sobre as vagas do oceano Atlântico a perder de vista.

 

 

Junto da Fortaleza Real, uma pequena loja quase debaixo do chão revela cenas da reconstrução desta estrutura defensiva e põe à venda artigos de um apetecível artesanato. De lá se avista, num monte fronteiro, o Convento de S. Francisco, do séc. XVII, cercado por um frondoso mangal e em cujas proximidades se semeiam alguns trapiches e fornalhas do famoso grogue. E também se evidencia a igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, o mais antigo templo católico a sul do trópico de Câncer: datado de 1493, nela se mostram pedras tumulares dos ricos senhores da terra que foram sepultados até à época filipina. No seu interior, existe uma capela gótica, a única manuelina erguida em África. Foi nesta igreja que pregou o padre António Vieira, como se recorda numa lápide ali colocada.

 

 

Descendo a encosta da Fortaleza para Cidade Velha, avisam-se as ruínas da gigantesca Sé-Catedral, que o último ataque corsário (de Jacques Cassard, 1712), por completo devastou, pondo a população de Ribeira Grande de Santiago em fuga para o interior da ilha, Impressionam as pedras do imponente templo, cuja visita se torna obrigatória. Ao nível do mar, fica o plaino do Sítio Histórico onde se avista o manuelino pelourinho, do séc. XV e a torre da igreja da Misericórdia, do séc. XVI, lembrando os tempos em que Ribeira Grande impressionava com as suas 24 igrejas e as suas sete irmandades. A cidade era então senhora dos mares e fizera-se, por essa época, um riquíssimo entreposto de escravos, onde a flora dos cinco continentes confluiu (não é em vão que, por isso, a UNESCO a distinguiu também como património imaterial da humanidade) e chamou as atenções de Charles Darwin que nela começou as investigações que desaguaram em “A Origem das Espécies”.

 

 

 

 

Começa a desenhar-se em Cidade Velha uma esplendorosa gastronomia onde a lagosta de Cabo Verde é um ágape muito apreciado. Mas outro marisco encanta os paladares, como o percebe de enormes proporções, o búzio cozinhado de maneira especial (geralmente guisado) e a lapa. É, contudo, o fresquíssimo peixe, apanhado nos seus mares, que concita os paladares: a moreia frita ou o abundante polvo são petiscos que não se dispensam. Chamariz é o caldo de peixe à maneira de Cidade Velha, com banana cozida, mandioca e água de coco – uma especialidade muito apreciada.

 

 

A música cabo-verdiana, famosa, também encanta, em particular a morna. Mas menos conhecidos são os sons do batuko, dançado pelos grupos de batucadeiras sempre disponíveis para se apresentar aos turistas, ou das tabankas que, de quando em vez, desfilam em Cidade Velha, com alarido nas ruas provocado pelos seus tambores e sopro de conchas de búzio. Os festivais animam-na repetidamente: acontecem durante as festas de Nhu Santu Nomi (janeiro), da Bandeirona (em fins de fevereiro), de S. Roque (geralmente em agosto) ou dos Sete Sóis Sete Luas (em novembro).

 

 

Cidade Velha está a converter-se num importante polo cultural, sobressaindo os seus espetáculos ao ar livre, aproveitando a amenidade do clima tão do agrado de quem a visita.