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África do Sul

Chimurenga e o jornalismo alternativo em tempos modernos
por Kauê Vieira

 

 

As redes sociais chegaram para bagunçar e tirar tudo de ordem. Pelo menos quando se trata de mídia, nunca houve tantos questionamentos acerca do modo tradicional de fazer jornalismo. O público se mostra cada vez mais incomodado com uma cobertura parcial, conservadora e que insiste em clichês.

 

 

Ao colocar em pauta o continente africano a situação fica ainda pior para a mídia tradicional, que carece de informação e profundidade ao tratar do assunto. No Brasil os grandes veículos de comunicação, sejam eles impressos, radiofônicos ou televisivos, mostram há décadas um grande desconhecimento sobre África. O continente negro só desperta o interesse da imprensa tupiniquin para falar sobre violência, fome, doenças e quando a pauta é positiva chega o óbvio: safáris e comunidades tradicionais. Plural e com inúmeras culturas diferentes, a África possui mais de 1 bilhão de habitantes que exigem uma cobertura mais cuidadosa da mídia, sobretudo de um país cuja origem e raízes são diretamente conectadas ao continente.

 

 

Com grande influência dos meios de comunicação dos Estados Unidos, o Brasil olha África com a mesma visão colonialista dos norte-americanos, o que não faz sentido, já que o país sul-americano é o lar do maior número de negros no mundo depois da Nigéria. Cansados desta postura da imprensa mundial e africana (que compartilha do mesmo modo brasileiro de fazer jornalismo), um grupo de jornalistas da África do Sul decidiu largar seus empregos para criar a Revista Chimurenga, que propõe um olhar de dentro para fora, além de dar voz aos protagonistas africanos.

 

 

 

Chimurenga chega para dar voz aos negros da África do Sul

 

 

Palavra de origem shona, língua falada principalmente no Zimbábue, Chimurenga significa ‘luta’ e sua origem vem da história de um homem chamado Murenga, que liderou a primeira revolta contra o colonialismo no país. A revista debutou nas bancas em 2002 como uma edição única, mas o frisson foi tanto que a equipe começou a soltar quatro revistas por ano. A publicação possui diferentes formatos e seus editores se preocupam e muito com a identidade visual. De acordo com Graeme Arendse, cofundador e diretor de arte da revista, as fotos e o design são tão importantes quanto o conteúdo textual.

 

 

“Sempre somos muito cuidadosos no que escolhemos. Paramos para pensar o que podem querer dizer e quais são as possíveis interpretações, o oposto do que fazem os jornais,” explicou em entrevista concedida ao Afreaka.

 

 

A demanda por parte do público se torna cada vez maior, fato que evidência a carência de uma mídia alternativa que a população sul-africana sente. Com isso, os editores acrescentaram duas edições anuais, mais densas e com cerca de 300 páginas. Além disso, nos últimos 10 anos a revista se estendeu, transformando-se em outros projetos, como a Rádio Espacial Pan-africana e a Biblioteca Online, que reúne em formato de arquivo todos os jornais e artigos que influenciaram a equipe.

 

 

 

A revista foi criada em 2002 para ir contra ao modo tradicional da mídia sul-africana

 

 

Carregando a palavra luta no nome, Chimurenga busca bagunçar o modo como as pessoas pensam e principalmente dar representatividade aos negros sul-africanos, além de democratizar a mídia, que mesmo 20 anos após o fim do apartheid continua sendo dominada por uma elite branca.