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Gana

Centro DuBois: promovendo o pan-africanismo no mundo contemporâneo
por AFREAKA

 

 

Em 1985 foi criado na capital de Gana, Accra, o Centro Memorial DuBois de Cultura Pan-Africana. Com reforçada infraestrutura e uma gama de ofertas de atividades culturais e intelectuais, logo se tornou um importante marco erudito e turístico da cidade. A sede do centro é a casa onde morou um dos maiores e mais importantes pensadores do pan-africanismo, W.E.B DuBois. Nascido nos Estados Unidos, formado em Harvard, ele foi o primeiro afro-americano a obter um doutorado. No entanto, ele renegou sua cidadania americana em protesto à política racista do país e mudou-se para Gana, convidado pelo então presidente e também pan-africanista Kwame Nkrumah. Ali, ganhou a cidadania ganense e dedicou os últimos anos de sua vida para escrever a Enciclopédia Africana.

 

 

 

 

O objetivo do centro não é apenas comemorar a vida e obra de  DuBois, mas promover as ideias de outros grandes pan-africanistas e incentivar a discussão sobre as possibilidades do movimento na África contemporânea, criando um fórum que sirva de inspiração para perseverança na luta pelo avanço e desenvolvimento da África e do seu povo, no continente e na diáspora. A instituição acumula nas suas atividades diversos seminários, oficinas, mostras de cinemas, vídeo-entrevistas, palestras, programas de viagem de estudos, projetos de pesquisa e documentação, estágios e exposições.

 

 

A infraestrutura do memorial também não deixa a desejar com uma galeria de manuscritos, um museu, uma instalação para seminário e uma bela biblioteca especializada, onde é possível desfrutar, entre outras obras, da coleção de mais de 3 mil livros trazida por DuBois em sua mudança. A estrutura, que também abriga o túmulo do pensador e de sua esposa, ganhou com mérito o título de monumento nacional. Atuando nas áreas sociais, políticas, econômicas e culturais, e visando preservar e inovar as teorias do pan-africanismo, o Memorial DuBois também abriga semanalmente um grupo de estudos de jovens pensadores do tema, trazendo professores, intelectuais e pensadores do mundo todo para incrementar e nutrir cada discussão.

 

 

 

 

Confira a entrevista com Benjamin Sam Kilson, atual diretor executivo e artístico do centro:

 

 

Hoje, após 20 anos de trabalho, qual é o principal foco do Memorial DuBois?
Nosso trabalho é de apoiar os avanços e as teorias pan-africanistas, expandir as ideias que foram propostas pelos pensadores do pan-africanismo e difundir as conquistas africanas e dos negros da diáspora no mundo. Temos focalizado nos trabalhos com a juventude, porque devemos ajudar os jovens a ter a sua autoconfiança, fazendo que se vejam como africanos capazes de fazer as coisas por si só.

 

 

 

 

Como você enxerga a importância do pan-africanismo no mundo contemporâneo e qual é o seu futuro?
O pan-africanismo tem diferentes faces. A primeira delas é onde tudo começou: a maioria dos países africanos se encontrava sob o governo colonial. Era a época em que os líderes e pensadores lutaram e se posicionaram contra aquele domínio. Essa face agora não existe porque a grande maioria dos países africanos está independente. O que é importante agora, é que nós tenhamos a autoconfiança, uma vez que séculos de domínio colonial afetaram a África. Mesmo que estejamos tentando fazer o nosso melhor, temos que ser capazes de levantar sozinhos e dizer: é isso que queremos fazer, é aqui que queremos chegar e é aqui que chegaremos. Esta é a face atual. É a autoconfiança o que está faltando agora.

 

 

 

 

E qual é o caminho para isso?
Aqui, atiramos novas visões, novas ideias. Temos que ter a nossa própria versão cultural daquilo que projete a África como um continente. Precisamos nos mover de onde estávamos e saber para onde estamos indo, para sermos capazes de levantar sozinhos. Temos todos os recursos que precisamos para desenvolver a África. Se não estamos chegando lá é porque nos falta essa autoconfiança. É por isso que nos concentramos hoje nos jovens, porque eles são o futuro do continente e temos que colocar as ideias do pan-africanismo à disposição deles. Os pensamentos africanos, nossa inteligência, nossas ações, tudo que temos como africanos devemos usar como ferramenta para desenvolver a África. Não precisamos depender de ajuda estrangeira. Para mim, quando você tem esse gosto por coisas de fora, você vai acabar não apreciando o que você tem.

 

A África conserva uma forte identidade como continente. Qual você acha que é a importância dessa união não só dos países, mas o conceito do todo, de um continente interligado?
Acho uma excelente ideia, mas acho que perdeu o seu foco. A proposta da ideia de união africana seria de um continente que apoiasse os países individualmente, e que um país apoiasse o outro. A ideia é de nós dependendo de nós mesmos. Gana, por exemplo, tem ouro, tem petróleo, mas outros não têm. O conceito era “se você tem isso e eu tenho aquilo, vamos nos juntar e avançar. Vamos nos ajudar”. Esse era o real foco. Infelizmente, por causa de problemas de liderança, isso não se realizou. Tudo isso foi cativado e substituído por atividades estrangeiras, países ocidentais que perceberam que quando a África conseguir caminhar sozinha, a dependência que os países africanos têm por eles não existirá mais. Então eles não têm interesse que a união africana aconteça e tendem, a todo o momento, a dividir os líderes africanos.

 

 

 

 

Você acha que a nova geração pode mudar isso?
Existe a chance. Se nossos líderes estiverem preparados para engolir seus individualismos, e passarem a pensar em união, seremos capazes de conceber um continente africano unido. Se apoiarmos uns aos outros, podemos conseguir. Os ideais do pan-africanismo são ainda relevantes, mas tem que passar por um foco diferente. Para mim, o foco deveria ser trazer os recursos que temos para desenvolver o continente e trabalhar para que a nova geração leve a África adiante.