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Brasil / África

Casa das Crioulas: Acolher para fortalecer!
por Maria Helena Barros

 

 

A Casa das Crioulas é um espaço que, por meio do acolhimento, escuta e encontros, busca a cura, a autonomia e o protagonismo das mulheres.  A proposta da Casa é proporcionar a aproximação de dois aspectos que estão ligados por um linha tênue: a feminilidade e a maternidade.

 

 

O Projeto foi idealizado em 2012 pela estilista Manoela Gonsalves, que ao se tornar mãe sentiu a necessidade de trabalhar e ter seu filho por perto e então decidiu formalizar um espaço onde trabalho e maternidade estivessem juntos, podendo assim fazer tudo o que gosta em um mesmo espaço. Anos depois a Casa das Crioulas oferece atividades culturais e educativas, que têm como foco a discussão acerca do papel feminino na sociedade, abrindo assim espaço às mulheres para a troca de vivências e discussões sobre a mulher na periferia.

 

 

Atualmente, o que mantém o sustento da Casa é a Loja Manacá, especializada em produtos naturais e orgânicos, além de esotéricos como incensos, velas, aromatizantes e essências. Segundo Manoela, a loja tornou-se a ponte entre a comunidade de Perus, na zona oeste de São Paulo, e a Casa das Crioulas, funcionando como um local de acolhimento, de carinho e de respeito mútuo, pois durante o expediente na lojinha, as mulheres além de comprarem os produtos vão bater papo, desabafar, contar os problemas, pedir conselhos ou até um simples abraço. A equipe do Afreaka conversou com Manoela Gonsalves para saber mais sobre a Casa das Crioulas.

 

 

Como surgiu a casa das Crioulas?

 

A Casa das Crioulas surgiu quando me deparei em uma fila do posto de saúde quantas histórias eram repetidas e que a minha também fazia parte da estatística. Éramos todas mães solteiras (autônomas). Vi ali que não daria conta de estar presente na vida de meu filho se não fizesse algo em prol disso.

 

 

Foi em uma conversa informal numa fila do posto que mencionamos a necessidade da existência de um espaço em fosse possível trabalhar, estudar e criar nossos filhos. Veio daí a ideia inicial. A materialização da casa aconteceu meses depois, quando percebi que não dava mais para ficar longe do meu filho (Manolo). Eu abri mão de meu emprego de assessora de imprensa na época e fui atrás de um espaço onde coubessem meus sonhos.

 

 

 

O projeto tem como objetivo empoderar mulheres, especialmente das mães autônomas (Foto: Divulgação) 

 

 

Qual o principal objetivo do projeto?

 

São vários (risos). Comecei a casa repetindo as palavras protagonismo, autonomia, e empoderamento para uma mulher mãe e autônoma. Adotei este nome pois não me considero válido o interesse em saber se sou solteira ou não, mas sim que sou autônoma, isso porque faço tudo pela validação do meu contato com meu filho, meu trabalho e projeto social.

 

 

A ideia é o empoderamento da mãe autônoma, que elas possam reconhecer, acolher e trabalhar juntas pela autonomia, empoderamento e se tornando protagonista de suas histórias. É claro que não atendemos aqui só mães autônomas, mas o foco sim é dar visibilidade a elas/nós.

 

 

Como funciona o projeto? Vocês têm parceria?

 

O projeto aconteceu e acontece de forma orgânica, de início existe a escuta e o acolhimento. Ouço muitas histórias, traumas e dores e busco neste contato uma brecha para pensarmos juntas nas soluções e curas. Dou oficina de mosaico, oficina perfumes aromáticos também. Em alguns meses temos eventos que possibilitam mais encontros e contato com outras mulheres e daí vem o fortalecimento e a união que muitas (quase todas) precisam.

 

 

As parcerias que temos são sutis, como nossa vizinha que em dias de evento sede frutas e legumes para dividir com mais mulheres, a biblioteca de Perus também ajuda com o espaço, além de diversos coletivos, como o Acupuntura Urbana; Levante Mulher; Nós, mulheres da periferia, e tantas outras parceiras de luta que nos apoiam. Financeiramente contamos com algumas pessoas que colaboram e com a loja de produtos naturais que fiz na garagem da casa. Ela é que paga nossas contas e ajuda a manter a casa funcionando.

 

 

 

A Casa das Crioulas oferece atividades culturais e educativas (Foto: Divulgação) 

 

 

Qual a importância da Casa das Crioulas para a comunidade que vocês atuam?

 

Sinceramente penso que ter um espaço de atenção às mães autônomas deveria existir em cada bairro da cidade, é muito importante esta escuta informal. A mulher não quer prestar queixa contra o agressor, ela quer a cura para ter forças e sair desta relação sem medo. A mulher quer falar sobre o aborto que fez e quando se arrepende mesmo sem ser julgada, ela quer falar de tudo sabendo que não será vista com “mau olhos” e  aqui damos esta força, esta inspiração que ela precisa para seguir.

 

 

Valorizamos muito este acolhimento carinhoso e atencioso que damos, todas que entram aqui não tratadas como números. Não realizamos apenas um atendimento prévio, todas são bem recebidas e ouvidas, existe uma predisposição para a compreensão e elas sentem isso. Muitas querem só um abraço, ouvir que não são culpadas, não estão erradas. Elas querem aprender a cuidar e estar mais perto de seus filhos. Aqui não temos formula mágica, aqui vamos sentindo e desconstruindo e reconstruindo velhos e novos padrões.

 

 

Como você enxerga a situação da Mulher na periferia, principalmente a mulher negra?

 

Na periferia ainda vejo o mais do mesmo, as histórias se repetem, de mãe pra filha. Existe muita opressão com a mulher na periferia, mulher negra e periférica então, nem se fale. A mulher negra sofre calada, percebo que não chegamos a ser parte de uma estatística porque não conseguimos nem fazer boletim de ocorrência ou dar continuidade aos processos. É muito louco a quantidade de mulheres que sofrem de violência no lar. O número é muito maior do que imaginam que seja, a mulher que trabalha como doméstica, as meninas que abortam, meninas que morrem em abortos clandestinos,  mulheres que chefiam casas. Será sempre muito maior do que qualquer estatística colocada em qualquer veículo de comunicação. Isso pra mim é muito sério.

 

 

Não é sistema de saúde que é ruim, é como atende e não dão atenção devida, isso sim é o que prejudica muitos casos graves da saúde da mulher, porque há preconceito, porque há preguiça, há má vontade de atender a mulher na periferia, uma mulher negra. Ressalto que bolivianas, chinesas e muitas outras procuram a Casa das Crioulas para remediar sua situação enquanto a consulta médica não vem. Aqui todas sabem o que passam, mas não falam sobre o que passam. É tudo muito velado. Mas também percebo que com a existência de mulheres emancipadas inspiram outras a se manifestar. Aos poucos este quadro muda.

 

 

O que te inspira a continuar o projeto?

 

A quantidade de mulheres que me procura e o quanto há para fazer. Sabe, hoje recebi uma noticia que uma criança de 5 anos morreu vítima de tuberculose aqui na região, a mãe é mais uma na estatística de mães autônomas que se será responsabilizada por não ter dado seu melhor. E o genitor, cadê?

 

 

Eu não consigo ficar de braços cruzados ou trabalhando sem um sentido para o mundo, enquanto houver mulheres sofrendo todas sofreremos. Eu sinto que posso fazer algo por isso.

 

 

Quais os planos futuros para a casa das Crioulas?

 

A Casa das Crioulas será sempre atemporal, não tem tempo para acabar com este projeto. Isso é muito significativo para mim. Estou buscando um espaço maior, que possa abranger mais oficinas, receber mais mulheres e seus filhos e também com a possibilidade de sermos um coletivo sustentável.

 

 

A casa sempre foi pequena, agora se tornou menor ainda, pela quantidade de mulheres que vem somando. Tenho a ideia de nos instalarmos em algum bairro mais centralizado e poder tanto ser ajudada quanto ajudar mais mulheres. As demandas aqui aumentaram muito, isso é maravilhoso, com o tamanho do sonho também vem o tamanho das responsas. Muitas mudanças boas estão por vir e isso só me dá mais sentido para seguir.

 

 

Para conhecer mais sobre a Casa das Crioulas:

http://casadascrioulas.com.br/

https://www.facebook.com/Casa-das-Crioulas-258299740995752/