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África do Sul

Cape Town, diversidade cultural regada de excelente gastronomia
por Eduardo Shimahara

Fazenda urbana de Oranjezicht

 

 

Com suas porções continentais e insulares, a África é composta de 54 países diferentes. Quando se pensa no continente africano, imediatamente imagens de animais selvagens em savanas chegam às mentes, contudo a África é muito, mas muito mais do que isso. Cape Town é uma das cidades que rompem esse estereótipo. Capital da província de Western Cape, na África do Sul, sua costa é banhada pelo oceano Atlântico. Para muitos dos brasileiros que a visitam, ela lembra, de alguma forma, o Rio de Janeiro. Isso em função de sua geografia, de certa maneira dramática, e cercada pelo mar por todos os lados. Vivem na Mother City, apelido carinhoso dado pelos sul-africanos, cerca de quatro milhões de pessoas.

 

 

Harbour Market Hout Bay

 

 

Rodeada de montanhas e pelo oceano, a capital está imersa em dezenas de parques nacionais compostos de um tipo de vegetação única no mundo – o reino Fynbos – que produz flores exuberantes como a incrível Protea. Com o fim do infame regime, que separava brancos e negros, conhecido como Apartheid, 11 idiomas foram reconhecidos como oficiais no país. Entre eles, o inglês, o africâner, o isiXhosa, o Zulu, entre tantos outros. De alguma forma, a preservação dos idiomas destes grupos acabou preservando a cultura de cada povo, assim como sua gastronomia.

 

 

Horta no campus Sustainability Institute

 

 

O próprio Nelson Rolihlahla Mandela tem sua origem no povo Xhosa, conhecido por sua forma de falar, com curiosos cliques feitos com a língua. Um estalo na lateral da boca para pronunciar o “x”, um no céu para pronunciar o “q” ou ainda um na ponta da língua para pronunciar o “c”. Esta cultura possui muitas curiosidades e riquezas em suas tradições, entre elas, o fato de toda criança chamar qualquer homem adulto ou mais velho como “tata” ou “pai” e qualquer mulher adulta ou mais velha de “mama”. Característica cultural que prova um forte sentimento de comunidade, que cria entre adultos e crianças um elo de relação familiar.

 

 

Potjiekos, um caldeirão de ferro usado até hoje

 

 

Esta mistura cultural, que se espalha pela África do Sul e pelas ruas de Cape Town, acabou gerando um cenário onde fica bastante difícil encontrar um único prato nacional. No Brasil, quando falamos de feijoada, por exemplo, falamos de algo que de alguma forma, abrange quase todo o seu povo. Já, na África do Sul, as influências são inúmeras e fica difícil apontar uma comida que seja universal para a nação. No entanto, não faltam pratos interessantes na culinária do país. Assim como para os brasileiros, o churrasco é algo bem comum entre os habitantes da África do Sul, onde recebe o nome de “Braai” (do verbo “assar” em africâner). No churrasco local é possível encontrar na grelha animais como galinha, vaca, avestruz entre outras iguarias. O prato também pode ser preparado em uma panela de ferro, que cozinha direto sobre o fogo pedaços de Springbok, um tipo de antílope encontrado nas savanas do país.

 

 

Winelands Meerlust 2

 

 

Uma dica de etiqueta? Em um Braai, é incumbência da visita levar o próprio alimento. No país, acredita-se na máxima de que o anfitrião está cedendo o lugar e o encontro e por isso cada um deve contribuir de sua maneira, levando parte da comida. Mas, diferente do Brasil, o churrasco pode sair facilmente econômico. Preços na África do Sul são baixos se comparados aos brasileiros. Um bom jantar para dois num incrível restaurante, tomando vinho, com direito a entrada, prato principal e sobremesa, não vai custar mais que R$50,00 por pessoa, incluindo 10% de gorjeta.

 

 

Waterford Estate a 30 km de Cape Town

 

 

Por falar em vinho, o país produz 7.000 rótulos diferentes, e muitos deles, de fato, não devem nada para os melhores vinhos franceses ou italianos. A grande diferença é o preço: muito mais econômico. Se você quiser ir direto para os mais caros, gastará entorno de R$ 80,00 a R$ 90,00, mas com R$20,00 já é possível comprar um excelente produto. O vinho sul-africano é considerado de altíssima qualidade e a cultura vinícola no país tem séculos de história, como o caso da lindíssima região de Franschhoek que serviu de refúgio para franceses que fugiam de perseguição religiosa no século XVII e XVIII.

 

 

Outro tipo de comida que pode se encontrar em quase todo lugar é o Biltong, um tipo de carne seca temperada, cortada em fatias finas que é consumida como petisco até no cinema. O Biltong pode ser feito a partir da carne de diversos animais, inclusive vacas e galinhas. A cozinha do Cape Malay, cujo coração é o bairro de BoKaap, cheio de casas coloridas, habitadas em sua grande maioria pela comunidade muçulmana da cidade, é um caso a parte. Fruto da fusão entre colonos holandeses e escravos trazidos do Oriente, os pratos nascidos daí são de dar água na boca, como, por exemplo, o Bobotie, um tipo de torta de carne moída (ou lentilhas, na versão vegetariana) temperada com canela, geleia e algumas outras especiarias, deixando seu sabor absolutamente único.

 

 

Wellington, uma das regiões de produção de vinho

 

 

Falando em culinária sul-africana, não podemos deixar de lado o prato preferido de Mandela ou “Tata Madiba” – “o pai” Madiba – como é conhecido na África do Sul. O Umgqusho (para pronunciar direito você precisa fazer um estalo com a língua no céu da boca quando pronunciar o “q”) é uma mistura de milho moído (quase como uma polenta) e feijão. Um prato típico da cultura Xhosa. Cape Town também é o lugar ideal para os adeptos de uma culinária mais saudável. Ali, inúmeros mercados orgânicos e biodinâmicos acontecem, oferecendo centenas de opções para o visitante e também para o local. Estes mercados se espalham pela cidade e suas diversas regiões passando pela incrível horta comunitária de Oranjezicht, pelas florestas de Tokai ou ainda, no seu ponto mais turístico, o Water Front, que conta com uma feira onde produtos locais para lá de apetitosos são oferecidos.

 

 

Viver em Cape Town é uma incrível oportunidade de conviver com inúmeras culturas. A cidade oferece uma divertida experiência cosmopolita, com suas múltiplas raízes, que misturam ingredientes como o design arrojado e a paixão pela vida outdoor. Uma vivência que também pode ser orientada rumo ao convívio com a natureza, seja através de incríveis trilhas pelos parques nacionais como o Table Mountain, nos piqueniques no agradável jardim botânico de Kirstenbosch e em suas florestas, ou ainda em um final de semana numa cabana isolada no interior ou perto das montanhas de Cedersberg. Tudo regado por uma ousada culinária, que traz um sabor ainda mais envolvente para a experiência de viver a cidade e desfrutar com intensidade e apetite de toda sua energia.

 

 

Bamukelekile – como diz o povo Zulu. Bem-vindo.