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Mali

Caminhos Cruzados: Tradição e modernidade em intercâmbio cultural entre Brasil e Mali
por Maria Rosa Lopes

 

(Foto: Divulgação)

 

 

O projeto “Caminhos Cruzados”, que promove o intercâmbio cultural e educacional entre jovens de escolas públicas no Brasil e no Mali, tem utilizado o Bogolan, antiga arte de pintura maliana em tecidos, para estabelecer um diálogo sobre as tradições culturais e sociais nos dois países. A iniciativa partiu de uma organização de São Paulo chamada Instituto Rizoma e acontece desde 2014 simultaneamente em três escolas localizadas no bairro do Campo limpo, em São Paulo; na cidade de Taboão da Serra e na vila de Djenné, no Mali, contando com a colaboração de professores, artistas e centros culturais locais.

 

 

 

Bogolan com estudantes brasileiros (Foto: Divulgação)

 

 

As atividades tiveram início em maio do ano passado na escola Lyceé de Djenné. Durante uma semana, com encontros diários, um grupo de onze estudantes pesquisou sobre a história e importância do Bogolan. Além disso, os jovens visitaram o estúdio Mali Mali da artista Sophie Sarin, onde aprenderam sobre as diferentes plantas utilizadas no tingimento dos tecidos, como manipular o barro no tecido, os significados dos grafismos e as estampas tradicionais e modernas que o estúdio trabalha, a lavagem no rio para fixar o barro que dá a cor preta no tecido e por fim, os modelos de roupas e artigos para decoração. Ao final dos encontros, os estudantes fizeram uma mostra dos tecidos pintados por eles mesmos e de todo o material coletado e documentado.

 

 

 

Estúdio Mali Mali (Foto: Divulgação)

 

 

O Bogolan é uma técnica de tingimento tradicional do oeste da África. A palavra Bogolan em Bambara, uma das oito línguas locais, significa “ação do barro sobre o tecido”. (“bogo”, que significa terra, e pelo sufixo lan, que significa “aquele que chega a um resultado”). O Bogolan utiliza tecido de algodão e as padronagens e os motivos variam de acordo com a etnia, resultando em belíssimas estampas com grafismos de significados socioculturais diversos. Para Andrea Bomilcar, educadora e cofundadora do Rizoma, o Bogolan estabelece uma conversa ideal com o tema “tradição e modernidade”, através de uma incursão sobre o fazer tradicional como valor cultural a ser preservado, trazendo também questionamentos sobre inovação, abertura de novos mercados e os desafios de manter viva uma tradição.

 

 

 

Oficina no estúdio Mali Mali (Foto: Divulgação)

 

 

Em outubro de 2014, um dos coordenadores do projeto em Djenné, Mamadou Diawara, esteve no Brasil para solidificar ainda mais o trabalho de intercâmbio. Durante um mês ele trabalhou com grupos de jovens das escolas EE Domingos Mignoni (Taboão da Serra) e EE Comendador Miguel Maluhy (São Paulo). Mamadou, com o suporte do Rizoma e de Andrea, falou sobre o Bogolan, realizou workshops onde os estudantes puderam experimentar a técnica e apresentou um panorama sobre o trabalho que o projeto tem realizado no Mali até então.

 

 

 

Reunião do projeto em Djenné (Foto: Divulgação)

 

 

Enquanto isso, a iniciativa continua a todo vapor em Djenné. Com encontros semanais na escola desde fevereiro de 2015, as atividades programadas buscam aprimorar a pesquisa e o mapeamento sobre o que vem sendo produzido na região. Uma das metas agora é elaborar um plano de ação para ampliar os produtos e abrir novos mercados, baseado em entrevistas feitas com artesãos sobre as dificuldades e pontos fortes e fracos da comercialização do Bogolan.

 

 

 

Mamadou com estudantes no Brasil (Foto: Divulgação)

 

 

Os estudantes atualmente também estão trabalhando na produção de textos, registros em fotos e vídeo, além da confecção de uma estampa personalizada para o projeto. A agenda inclui ainda visitas ao Centro Cultural Ndomo, em Ségou, que trabalha com a capacitação de jovens na técnica do Bogolan, e às vilas no País Dogon que utilizam o “índigo” (corante azul derivado de uma planta) no tingimento de suas roupas. Na etapa seguinte do trabalho prevista para os próximos meses, escolas brasileiras participantes do projeto utilizarão todo o material produzido no Mali em atividades que abram o mesmo diálogo e complementem a temática envolvida.

 

 

 

Lavagem para fixação da estampa (Foto: Divulgação)

 

 

Como produto final, o projeto prevê a confecção de um livro sobre o Bogolan que conterá textos, fotos e conteúdo produzido pelos estudantes e será distribuído em escolas públicas no Brasil e no Mali. Segundo Andrea, o projeto procura conhecer a realidade local através dos jovens, para juntos desenharem soluções e implementarem novos caminhos de acordo com os tempos atuais. Criando assim um ambiente onde jovens de múltiplas culturas explorem e discutam assuntos como economia sustentável, inovação social e questões socioambientais e incentivando o protagonismo e o empreendedorismo social junto as suas culturas e suas comunidades.

 

 

 

Estudantes no estúdio (Foto: Divulgação)