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Brasil / África

Antonieta de Barros: protagonista de uma mudança
por Gisele Falcari

 

Antonieta de Barros (Foto: Portal Paulinas)

 

 

Nascida em Florianópolis, Santa Catarina, em 11 de julho de 1901, Antonieta de Barros foi precursora da luta de políticos afrodescendentes no Parlamento brasileiro – movimento que foi reprimido com a ditadura militar, mas que ganhou força a partir da Constituição de 1988 – e contribuiu para as discussões sobre a participação da mulher em um espaço eminentemente masculino. Entre os seus principais legados, está o rompimento de alguns estereótipos ligados ao gênero, à etnia e à classe social.

 

 

Filha de uma lavadeira e órfã de pai, ela teve uma infância muito pobre, mas conseguiu, graças a sua mãe, ingressar, aos 17 anos, na Escola Normal Catarinense, formando-se, em 1921, professora de Português e Literatura – um dos poucos cursos que permitiam o ingresso feminino e que possibilitavam às mulheres circularem no espaço público de forma socialmente aceita. Um ano após a sua formatura, fundou o “Curso Particular Antonieta de Barros”, voltado para a alfabetização da população carente, visto que entendia que o analfabetismo impedia “gente de ser gente”.

 

 

Nos textos produzidos por Antonieta, tanto para o jornal “A Semana”, o qual fundou e dirigiu, como para a revista quinzenal “Vida Ilhoa”, na qual foi diretora, percebe-se seu idealismo representado na convicção de que o mundo poderia se regenerar por meio da educação formal: “As criaturas (…) necessitam para viver, no sentido humano da palavra, de cultura. (…) Sem cultura não se consegue a independência moral, apanágio de todos que são genuinamente livres, senhores da sua consciência, conhecedores do seu valor, integralizados na sua individualidade”.

 

 

Para ela, a fim de que se conseguisse “escalar a montanha”, avançar, desenvolver-se na vida, algo que não era igualmente acessível a todos, as pessoas precisariam se instruir, obter “cultura”. Tal palavra era utilizada por Antonieta com o sentido de educação. Por acreditar nisso, seguiu lecionando, escrevendo, participando de associações, opinando. Dessa forma, tornou-se cada vez mais visível em uma sociedade que tendia e ainda tende a invisibilizar as mulheres e os negros, rompendo barreiras a fim de conquistar espaços que, em seu tempo, eram inusitados para as mulheres – e mais ainda para uma mulher negra.

 

 

Em 1934, Antonieta de Barros envolveu-se nos debates sobre direitos civis, sociais e políticos, defendendo, particularmente, o direito das mulheres ao voto. Foi eleita, então, pelo Partido Liberal Catarinense (PLC), como a primeira deputada negra do Estado de Santa Catarina. Segundo Karla Nunes, autora da Dissertação de Mestrado intitulada “Antonieta de Barros – Uma mulher negra no círculo do poder político em Santa Catarina nas décadas de trinta a cinquenta”, Maria da Ilha (pseudônimo que usava em suas crônicas) sabia que o afastamento da mulher no âmbito político não representava um fato “natural”, como grande parcela das mulheres acreditava, e sim se devia a fatores culturais como o machismo presente na sociedade.

 

 

 

Antonieta de Barros (Fonte: www.palmares.com.br)

 

 

Essa ausência feminina no centro de discussões, nos fóruns de representatividade político-social era, à época, e ainda é, hoje, muito reveladora, pois mostra a política vista como território masculino. Qualquer ranhura nesse ambiente, causada, por exemplo, com a eleição de uma mulher, contrariaria a ordem que se queria natural das coisas. Antonieta, além de mulher, era negra e vinha de uma família pobre, ou seja, rompeu com sua presença vários estereótipos existentes.

 

 

Provocativa, discutiu, em um de seus textos, sobre a constitucionalidade do voto feminino: “Que seremos nós, as mulheres? Irracionais ou domesticadas? Porque  esta questão de inteligência e aptidões femininas, ora em foco, se resume, digamos de passagem, em classificar a mulher entre as criaturas superiores ou entre os irracionais [...]. É isto que está agonizante e querem reviver [...]. Inferior aos próprios irracionais, doméstica e domesticada, se contentará, eternamente em constituir a mais sacrificada metade do gênero humano?”.

 

 

A campanha feita pelo Partido Liberal Catarinense, durante o processo eleitoral de 1934,  em anúncio publicado no jornal “Correio do Estado”, colocava a professora Antonieta como insígnia das mulheres catarinenses: “Eleitora. Tens em Antonieta de Barros a nossa candidata, o símbolo das mulheres catarinenses, queiram ou não os aristocratas de ontem”. em anúncio publicado pelo partido no jornal “Correio do Estado”.

 

 

Antonieta de Barros, portanto, mulher negra e pobre, conseguiu, em uma sociedade machista, racista e burguesa, ser protagonista de sua vida, iniciando, em seu estado, uma necessária mudança na política e na sociedade ao conseguir manter-se na condição de educadora respeitada e, também, ser eleita como representante política da população.