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África

Amor por África na reconfiguração da caligrafia árabe
por Kauê Vieira

Os trabalhos são inspirados na caligrafia árabe. Para atingir este aspecto antigo, ele queima a borda do papel. (Fotos: Divulgação)

 

 

 

Apaixonado por sua cultura e língua materna, o pintor Adil Roufi está chamando a atenção dos admiradores da arte africana. Nascido em Casablanca, no Marrocos, Roufi pinta há 10 anos e enfoca seu trabalho na divulgação da caligrafia árabe. Com peças expostas em diversos cantos do mundo, o artista reclama seu amor pela África e afirma não trocar a região norte do continente por nada. Seu currículo possui referências importantes, como os cursos de arte digital e  curso de ilustração em computadores, ambos realizados na conceituada Eco des Beaux Artes, do Marrocos. Formação, que aliada ao amor e admiração pelo continente, faz de Adil um dos principais expoentes da arte africana do momento.

 

 

As obras retratam também aspectos da vida no Quênia. (Fotos: Divulgação)

 

 

Radicado no Quênia há quatro anos, Roufi trabalha junto ao Kuana Trust, centro especializado em divulgar e incentivar trabalhos e o surgimento de novos nomes no cenário da arte contemporânea do país. Recentemente, o artista teve seus trabalhos expostos na galeria ShiftEye, de Nairóbi, capital queniana. Admirador de longa data das artes plásticas, o auto-intitulado homem cosmopolita tem como alicerce o estudo da caligrafia árabe, paixão que nutre desde a infância. Suas obras, que trazem a escrita como temática central, refletem, além da África, outra paixão, a poesia, em especial a obra do filósofo, matemático e poeta pérsio Omar Khayyam, que viveu no século XI. A caligrafia estilizada nas obras de Roufi, são inspiradas no Maghribi, alfabeto islâmico escrito a mão, que se desenvolveu a partir do scripts angulares Kufic, estilo adotado pelos povos muçulmanos do Magreb e absorvido principalmente no oriente e no Norte da África, atualmente utilizado desde o Marrocos até Trípoli.

 

 

Adil Roufi, radicado no Quênia. (Fotos: Divulgação)

 

 

No entanto, o Alcorão, livro sagrado para os muçulmanos aparece em apenas uma de suas obras. Buscando fugir deste campo, Adil prefere retratar outros temas, flutuando entre representações artísticas de documentos antigos ou dos povos de sua cultura, personificados em mulheres pintadas com óleo em acrílico e preenchidas da testa aos membros inferiores por escritas em árabe. Em todos os seus quadros, o artista busca se aproximar do estilo gráfico de escritas antigas, que evocam a estética dos pergaminhos. Queimando a borda dos papeis usados para os desenhos, ele ensaia a perfeição do aspecto desejado. Roufi também se permite usufruir de outros elementos da caligrafia árabe criados ao longo dos séculos, incluindo o Kefic e Bismallah. A primeira, considerada a mais antiga caligrafia arábica, é datada do século sete e usada principalmente para decoração. A Bismallah, por sua vez, é considerada o estilo clássico da escrita muçulmana, usada tradicionalmente em eventos religiosos.

 

 

Para identificar os segredos é preciso observar as obras com atenção. (Fotos: Divulgação)

 

 

Todos os materiais necessários para produção seus quadros são criados e desenvolvidos pelo próprio artista. As canetas são feitas com o auxílio do bambu e os variados tons de suas cores são obtidos com misturas que levam pétalas de rosa, borra de café e cascas de coco. Condensando todos estas variantes, sua obra é bastante complexa e exige atenção do espectador aos detalhes. Pela originalidade, valorização da cultura local e diálogo entre passado e presente, Adil Roufi, cada vez mais, ganha destaque no cenário cultural nacional e internacional. Ao reconfigurar a caligrafia e ressignificar a estética da escrita árabe, com originalidade e sofisticação, a obra do pintor mistura abstrato e figurativo para uma nova construção e definição da arte contemporânea marroquina.

 

 

Para saber mais sobre a trajetória de Roufi, visite seu site oficial: http://kuonatrust.org/adil-roufi/