width="62" height="65" border="0" /> width="75" height="65" border="0" /> width="75" height="65" border="0"/> /> /> /> />
Brasil / África

A América dos ritmos africanos
por Roberto Rutigliano


O jazz, a música cubana, brasileira, argentina, uruguaia, por exemplo, foram fundadas por ritmos negros. (Foto: Divulgação)

 

 

Ao contrário do que aconteceu na Europa, onde a miscigenação não foi tão presente, na América a partir da metade do século XIX, surgiram estilos musicais que reúnem a força rítmica da música de origem africana e os comportamentos ligados ao campo da harmonia, conceito relacionado a musica ocidental. O jazz, a música cubana, brasileira, argentina, uruguaia, são alguns dos exemplos de ritmos fundamentos nas influências das sonoridades da África.

 

 


No Uruguai, outro país da América do Sul, o Candombe é outro estilo claramente de origem africana e que introduz cores e tambores (Foto: Divulgação)

 

 

Em função da rejeição sofrida pelo negro na Europa, os ritmos tradicionais da cultura branca como a valsa, o lundu, a polca, o schotis, continuaram existindo sem esse diálogo com a negritude. Ao não se misturar com a elasticidade e o swing africano, as danças e os estilos europeus, conhecidos por suas características mais rígidas, perderam possibilidades de expansão. No processo contrário ao continente europeu, na América presenciamos este novo fenômeno, alcançado a partir da convivência entre as duas culturas, que nos brindou com novos fraseados, síncopes e cores. Enquanto na Europa a música popular se manteve estagnada, na América ela cresceu, se abrindo a novos horizontes.

 

 

Além deste importante aspecto rítmico, existem outros elementos musicais que transformaram a música ocidental e que devemos diretamente a influência dos africanos. Nos Estados Unidos, o jazz introduziu o conceito de improviso e de solista, que na música europeia era tido como secundário, comportamento que mudou para sempre todas as músicas consideradas populares, por abrir a possibilidade de uma abordagem mais livre para a interpretação. Fato que contribuiu para que os instrumentistas pudessem desenvolver uma nova linguagem ligada ao espontâneo e ao criativo, conceito inédito até então.

 

 


O chamado swing em 6_8, que está presente em ritmos do Candomblé como o Alujá é um dos diferentes “feelings” que alimentaram a métrica (Foto: Divulgação)

 

 

O chamado swing em 6/8, que está presente em ritmos do Candomblé como o Alujá, é um dos diferentes feelings que alimentaram a métrica ocidental. Hoje, o que conhecemos como jazz, nada mais são do que são desdobramentos deste swing original, que em uma segunda fase foi desenvolvido a partir da harmonia do blues e da música gospel. Unidade que é dificilmente entendida pelos intérpretes europeus na hora de tocar ritmos como o Samba ou o Maracatu. Enquanto isso, na América, a habilidade de deixar o ritmo mais leve se mostrou presente, enriquecendo a música popular mundial, em especial do Ocidente.

 

 

Outro exemplo da africanidade musical está em Cuba, onde a força dos ritmos como o Danzón e La Havanera se expandiram a ponto de influenciar a musicalidade de outros países, como a Argentina. O Milonga, ritmo clássico portenho, é considerado uma expressão rítmica original do estilo cubano, que também inspirou compositores europeus, com destaque para Ravel, que usou o ritmo de “Havanera” para dar a base rítmica ao seu famoso Bolero. Já no Uruguai, a repercussão africana é encontrada no Candombe, que introduz cores e tambores completamente diferentes dos que são usados na tradição de ascendência europeia. Como acontece no Candomblé, o Candombe uruguaio respeita a instrumentação de três tambores e seus comportamentos, o tambor agudo (o Chico, marca a base), o médio (o Piano, marca a figura característica) e o tenor (o Repique que improvisa).

 

 


A cultura musical africana introduziu muitos instrumentos em todos os países, no Brasil por exemplo, o xekerê, o agogô a cuíca (Foto – Divulgação)

 

 

No Candomblé do Brasil estes três tambores são chamados de atabaques e aparecem em um naipe de três, o “rum”, o tambor maior e também solista, o “rumpi” e o “le”, o meio e o agudo, tambores que cumprem a função de base rítmica. Já no Candomblé cubano esta instrumentação muda, enquanto no Brasil se usam atabaques, na ilha se usam os tambores batá, uma família também composta por três instrumentos, com pele dos dois lados igualmente apresentados em naipe de três: o Iyá, tambor grande; Itótele, tambor mediano, e Okónkolo, tambor menor.

 

 

Além dos tambores, outros instrumentos marcam a presença da inovação dos ritmos americanos. Só no Brasil, o leque de opções é vasto, com recursos musicais como o xekerê, o agogô, a cuíca, o berimbau e os tambores, todos exemplos da potência e fibra sonora da África. Não apenas Uruguai, Brasil, Argentina e Cuba, mas por toda a América, a introdução desses instrumentos trouxe o ritmo, swing e a malemolência, marcas da diáspora da cultura musical africana.