Nascido na Zona Leste de São Paulo, no Parque São Lucas, Alexandre Keto é parte de uma geração que enxerga a arte como ferramenta importante de empoderamento. O interesse pelo mundo artístico se manifestou logo cedo, quando começou a fazer seus primeiros traços e a pintar. Tempos depois conheceu o graffiti e tudo que o liga, como a cultura hip hop, a linguagem urbana e reivindicações e busca por soluções de questões de âmbito social.
O contato com a cultura africana e o universo afro-brasileiro chegaram rápido na vida do artista, que inclusive se iniciou no Candomblé. Ao longo de sete dias, depois de ter os cabelos raspados e passado por um período de recolhimento, Keto teve o corpo pintado por um giz branco, parte de uma série de rituais que o farão um filho de santo – um yàwó. O giz se chama Efun e foi esse o nome de sua primeira exposição na capital paulista.
De acordo com o artista, o processo serviu para transformá-lo completamente e enxergar sua criação além do contexto visual, trazendo um ar de “intervenção direta ao ser humano”. “Eu acredito no papel da arte como uma ferramenta de transformação, que possibilita esta intervenção direta ao ser humano, que abra horizontes e transcenda em muitos aspectos vitais. Mas de uma forma real e acessível para que isso seja eficaz às pessoas,” explica em entrevista ao Afreaka.
É difícil dizer o que mais salta aos olhos nas curvas e cores de seus desenhos, contudo uma característica chama a atenção: o envolvimento social de Keto, que sempre procurou – por meio dos desenhos, promover um diálogo original entre a periferia e seus habitantes. Seguindo essa linha, o artista que já morou no Senegal, onde criou um projeto que tem como intuito pintar em países colonizados e colonizadores.
Os desenhos retratam aspectos da cultura Iorubá (habitantes da África Ocidental), Banto (localizados principalmente na África Subsaariana) e Ashanti (que vivem em Gana). Suas obras podem ser vistas em bairros de imigrantes africanos na Inglaterra, Portugal e França. Além disso, Alexandre Keto deixou sua marca em nações africanas como Gana, Benin e Angola. Para a produção dos desenhos, o jovem paulistano faz uso de tecidos trabalhados com spray, giz pastel e tinta acrílica.
Ao fazer questão de manter a ligação com suas origens negras e dialogar com a periferia, Alexandre Keto mostra que a arte precisa ser vista e sentida, especialmente por seus protagonistas. Retratando a cultura de países como Angola e Nigéria – nações que forneceram grande número de escravos ao Brasil, o grafiteiro, de alguma forma, mantém ligado o cordão umbilical que une africanos e brasileiros, além de contribuir para a formação de uma identidade negra contemporânea.