Já imaginou uma espécie de Netflix para filmes e séries que tenham como figuras centrais personagens africanos e afro-brasileiros? Essa plataforma já existe e chama-se Afroflix. Criado em 2015 e gerenciado majoritariamente por mulheres, o Afroflix é uma plataforma de streaming gratuita e colaborativa que exibe exclusivamente produções audiovisuais que sejam escritas, dirigidas, produzidas ou protagonizadas por ao menos uma pessoa negra.
Levando em consideração que a maior parte da população no Brasil é negra – 54% de acordo com o último censo – e o cinema nacional não reflete este fato, o objetivo do Afroflix é criar, sobretudo, visibilidade e representatividade. Contando com cerca de 100 vídeos atualmente, as temáticas abordadas na página não são exclusivas sobre questões étnico-raciais e variam entre discussões sobre arte, periferia, política, violência, racismo, estética, empoderamento, homofobia, comunidades quilombolas, cotidiano e até realismo mágico.
As opções de exibição no site trazem produções originais, filmes, documentários, curtas, cinema experimental, ficção científica, programas de TV, séries, clipes e vlogs – atuais e antigos. No momento, todos os conteúdos disponibilizados são brasileiros, mas a página já está em planejamento para abertura de inscrições de material estrangeiro. Por se tratar de uma plataforma colaborativa, os espectadores também podem participar, indicando filmes e demais realizações que gostaria de assistir na rede.
Imagem do filme Batalhas, primeiro filme original Afroflix. Fonte: Afroflix
Entre os destaques da curadoria da iniciativa, está o filme de ficção “As aventuras amorosas de um padeiro” produzido em 1975 por Waldir Onofre. O cineasta, falecido em 2015, é considerado um dos primeiros profissionais negros no ramo no país. O filme apresentado no Afroflix narra, por meio de uma comédia de costumes, e com tom sarcástico e debochado, a história de um triangulo amoroso que reflete a composição étnica do Brasil, que rendeu ao longa-metragem o KIKITO de Ouro, prêmio máximo, no Festival de Gramado de 1976.
Cena de As aventuras amorosas de um padeiro, de Waldir Onofre. Fonte: youtube
No catálogo de opções também chama atenção a seção de vlogs, onde é possível encontrar diversos canais, muitos já famosos nas redes sociais, e que valem um bom investimento de tempo. Estão por lá o canal “Muro Pequeno” de Murilo Araújo, que discute militância LGBT e questões raciais, assim como o canal Alpiste de Gente, de Jairo Pereira, que contas com entrevistas e poesias autorais. Para quem prefere videoclipes, é possível ouvir musica boa com MC Soffia, Thiago Elniño, Mano Feijó, Cris SNJ e outros artistas.
A criadora e diretora geral da iniciativa é Yasmin Thayná. A jovem de 23 anos, que também é cineasta, pretende fazer da plataforma uma referência para dar visibilidade a essas produções, que normalmente não têm o mesmo espaço nas grandes mídias. Assim, a Afroflix também nasce para questionar os próprios números das grandes produções cinematográficas no país, que envolvem majoritariamente profissionais homens e brancos (84% segundo um estudo da UFRJ), não se esforçando para uma representatividade mais próxima da realidade brasileira.
Imagem do filme Mwany. Fonte: Afroflix
No contrafluxo dessa direção, o Afroflix se estabelece como um importante canal de distribuição alternativo e como uma militância para além das redes sociais. Não à toa, o Afroflix, em seus primeiros dias de vida registrou 60 mil entradas no site e hoje já possui mais de 11.200 inscritos na sua página no Facebook e um crescente número de acessos mensais, sendo considerado uma plataforma pioneira na divulgação de produções audiovisuais com protagonismo negro.
Confira todo o material do Afroflix na plataforma: http://www.afroflix.com.br/
Edição: Flora Pereira da Silva