Os blocos afro fazem de seus desfiles de carnaval uma festa que ultrapassa a euforia do folião; neles se carrega música, corpo, fé e resistência. Nos últimos anos muitos grupos conquistaram importantes espaços na celebração brasileira, mas seus impactos se espalham em forma de resistência negra e afirmação política o ano todo, como é o caso do bloco É Di Santo, que atua na zona sul de São Paulo.
Criado em 2010, o É Di Santo surgiu com a proposta de Everton, mais conhecido como Rabi Batukeiro, em unir percussionistas que já se reuniam para tocar e criar algo a mais, um “terceiro elemento” fruto dessa união. Segundo Andreia Tenório, presente no momento de formação do grupo e percussionista componente até hoje, naquela época o É Di Santo, que contava apenas com cinco pessoas, já tocava ritmos de terreiro e da cultura popular, e então decidiram gravar um demo – espécie de gravação musical demonstrativa – a partir de onde tudo começou. “Nos encontrávamos para ensaiar na casa de cultura do M’boi Mirim, aonde estamos até hoje”. O nome É Di Santo veio por uma interrogação do Rabi: tudo que a gente faz é de santo? Está relacionado a santo? Com o tempo, o que era uma pergunta virou uma afirmação. “Sim, estamos relacionados com a religiosidade afro-brasileira, com os orixás da Umbanda e do Candomblé, bem como aos santos católicos das irmandades negras, já que também falamos das manifestações das fusões, do sincretismo”, explica Andreia.
A principal frente de trabalho do É Di Santo é o carnaval afro percussivo, conhecido como o Bloco Afro É Di Santo. Com ensaios semanais que acontecem durante o ano todo, em 2016 o grupo também vai oferecer oficinas de percussão na Casa de Cultura do M’boi Mirim, localizada no bairro de Piraporinha, na zona sul de São Paulo, propondo ritmos afro baianos como o samba afro e o samba reggae. “Inclusive, no início o bloco não carregava o nome Afro. Esse nome surgiu com o carnaval e com vivências que tivemos com mestres de blocos afros da Bahia”, conta Andreia. Para integrar o É Di Santo, que hoje conta com aproximadamente 25 percussionistas e chega a 50 no carnaval, é só aparecer nos ensaios, estar disposto a trocar e aprender. Os desfiles acontecem nas ruas do bairro de Piraporinha, e a cada ano o número de pessoas que acompanham e admiram o bloco cresce. “É uma relação satisfatória com os habitantes da região, que estão nos conhecendo aos poucos; não queremos sair da periferia”.
Para o É Di Santo, o trabalho com a percussão afro brasileira na região do M’boi Mirim se configura em uma relação de resistência da cultura popular brasileira na periferia. “Nós escolhemos ter um bloco afro, é uma R (existência) com R maiúsculo na frente, é uma militância”.
Ainda, o grupo está aberto e disponível para quem der e vier, buscando levar a cultura afro brasileira a todos aqueles que se interessarem durante todo o ano. “Procuramos integrar uma multiplicidade de identidades, não apenas pessoas negras, mas pessoas brancas também, e pessoas de diversas religiões, para que todos possam conhecer e participar do nosso bloco. Procuramos integrar/valorizar as multiplicidades ou as múltiplas identidades”, afirma Andreia.
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